1.1.05

FAZER O QUE TEM DE SER FEITO

Podia começar o ano com conversatas "moles" e "boazinhas" em homenagem ao feriado. Para esse efeito, no entanto, já temos a mensagem de Ano Novo do Senhor Presidente da República a que dediquei quatro linhas noutro sítio. O que eu verdadeiramente desejo é um ano bem diferente em praticamente tudo. O texto que se segue é o prólogo desse desejo, em parte já ensombrado pelas magníficas escolhas dos "cabeças de lista", uma conversa para depois.


Quando concorreu à liderança do PS, o Eng. º José Sócrates disse que era preciso "fazer o que tinha de ser feito". Esta mensagem destinava-se fundamentalmente aos militantes do partido que iam escolher. Agora que é o candidato melhor posicionado para chegar a primeiro-ministro depois de 20 de Fevereiro, esta frase adquire outra ressonância. Dito de outra forma, Sócrates deverá ter a efectiva responsabilidade de fazer o que vai ter de ser feito. E isto que "tem de ser feito" exige uma maioria absoluta. Ao pedi-la, como o deve fazer, o líder do Partido Socialista coloca-se, e bem, muito para além da "lógica" estritamente partidária e paroquial. Para a conquistar precisa de convencer milhares de eleitores que, por exemplo, acreditaram há dois anos e tal que Durão Barroso é que ia fazer o que era preciso. Crescer do partido para a nação não é uma tarefa fácil sobretudo quando a pátria anda desconfiada e impaciente. É difícil entusiasmar quem quer que seja nas actuais condições. Por outro lado, esta esquizofrenia que se apoderou nos últimos anos da vida pública portuguesa, encurtou os "prazos de validade" dos "políticos". Se ganhar, Sócrates começará de imediato a ser escrutinado pela opinião pública e, muito especialmente, pela que "se publica". Não terá um minuto de tolerância ou sequer do ridículo "benefício da dúvida" que ingenuamente todos reclamam. O que se passar daqui até às eleições é, por consequência, decisivo. Repetir erros ou pessoas erradas do passado, por muito estimáveis ou "camaradas" que sejam, não resolve um problema ao Eng. º Sócrates. "Fazer o que tem de ser feito" dói. A "maioria absoluta" serve para exactamente para isso e para nada mais. A realização de uma "política democrática", sem sofismas nem cedências fáceis à mediocridade rotineira da "vida partidária", é um enorme desafio. José Sócrates possui qualidades que o podem ajudar, pelo menos, a tentar.


(em O Independente, 31 de Dezembro de 2004)

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