20.1.05

O "KITSCH" SANTANISTA

Graças à lembrança dos meus amigos "para lá de Bagdade" e "Jumento", pude ter acesso a essa pérola da mais recente música "ligeira" portuguesa que é o "hino" de campanha do PSD/PSL. Ao ler isto, vem-me à memória o conceito de "kitsch", de Milan Kundera, em "A insustentável leveza do ser". Segundo ele, o "kitsch" opera excluindo da nossa percepção tudo aquilo com que temos dificuldade em lidar, dando antes lugar a uma visão "asséptica" da realidade na qual todas as respostas estão antecipadamente dadas e onde quaisquer dúvidas são cuidadosamente evitadas. Daí que, para Kundera, o "kitsch" seja a "absoluta negação da merda". No caso português, é isso e o seu contrário.

Guerreiro Menino (um homem também chora)», de Gonzaguinha, letra de Gabriel o Pensador.

Um homem também chora
Menina morena
Também deseja colo
Palavras amenas
Precisa de carinho
Precisa de ternura
Precisa de um abraço
Da própria candura
Guerreiros são pessoas
São fortes, são frágeis
Guerreiros são meninos
No fundo do peito
Precisam de um descanso
Precisam de um remanso
Precisam de um sonho
Que os tornem refeitos
É triste ver este homem
Guerreiro menino
Com a barra de seu tempo
Por sobre seus ombros
Eu vejo que ele berra
Eu vejo que ele sangra
A dor que traz no peito
Pois ama e ama
Um homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
E a vida é trabalho
E sem o seu trabalho
Um homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata
Não dá pra ser feliz
Não dá pra ser feliz

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