Fui descobrir no Para lá de Bagdade estes versos que entrelaçam a vida e o frio ou, se quisermos, o frio da vida, a vida a frio. Pertencem a Fernando Assis Pacheco, saudoso conversador, amigo das letras e dos outros.
As Putas da Avenida
Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso de Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena
vi-as às duas e três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo à voz de mando
do director fatal que lhes ordena
essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios daLorena
mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena
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