16.4.08

RATZINGER, O PÓS-MODERNO


O Papa Ratzinger celebra, nos EUA, o seu aniversário. George W. Bush queria um "jantar de gala" - julgo que o mantém - mas Bento XVI escusa-se a estar presente. Bush percebe pouca coisa. Por isso, é natural que não entenda (mesmo que lhe tenham explicado) que Ratzinger é avesso à mundanidade. Num inquérito efectuado pela revista de língua alemã Cicero, no ano passado, sobre os quinhentos intelectuais alemães mais influentes, Joseph Ratzinger aparecia em primeiro lugar, deixando para trás, entre outros, Habermas, Grass ou Sloterdijk. É evidente que este resultado traduz um maior número de referências "mediáticas" ao nome do Papa por comparação com os restantes. Todavia, é significativo que isto aconteça. Ratzinger, num mundo desmazelado e incoerente, é uma clara referência de autoridade intelectual e de seriedade consistente. Não apenas por aquilo que representa para milhões de católicos espalhados por toda a Terra, mas, sobretudo, porque, fixando-se corajosamente em três ou quatro temas fundamentais, a sua palavra - a escrita, com anos e anos de edição, e a mais recente como Santo Padre - exprime a preeminência da fé cristã como o único "registo" de futuro verosímil (ou a sua equivalente "esperança", a "esperança por que fomos salvos, spe salvi) face às abstracções da "racionalidade" laica traduzida na "teologia do progresso" e na "modernidade". Ratzinger "está" em nome da reconciliação da Igreja com o seu próprio "mundo", e do homem consigo mesmo, uma vez esgotadas as "modalidades" superficiais e enganosas de "felicidade", mesmo aquela que as "novas tecnologias" (as materiais e as da "alma") prometem e ajudam a forjar e fingir. Denuncia a "ditadura de relativismo que não reconhece nada como certo e que tem como objectivo central o próprio ego e os próprios desejos". Exige, como lhe compete, uma fé "mais madura" e um combate ao "radicalismo individual" que nos faz "ser criança andando ao sabor de ventos das várias correntes e das várias ideologias". É, inequivocamente, um pós-moderno sem complexos retóricos. Parabéns.

12 comentários:

Anónimo disse...

não sou crente mas verifico que qualquer semelhança entre este Papa e qualquer político "é pura e mera coincidência". Portugal tem infelizmente políticos muito piores que Bush. neste rectângulo de preguiçosos estamos "fudidos"

Anónimo disse...

Pelo amor de Deus, homem, então você desconhece que a evolução da humanidade aos solavancos, aos soluços, permitiu, entre hics e ups!!!,aos indivíduos serem algo mais que operários de uma ordem feudalista, egoista e velhaca que, em síntese, é aquela que a Igreja Católica anda a propor, graças ao Criador, sem sucesso, há centenas de anos. E que o Ratzinger, para convencer gente como você, retoma esse azimute escondido naquilo que, precisamente, nos tem salvo. Uma postura, um comportamento social onde os solavancos são previsíveis e os soluços medicados à nascença, onde se evitariam joelhos feridos e cabeçadas nos galhos mais baixos da árvore da ordem quase-fascista, mas que, se calhar, devolveria o peso do "pecado" ao simples facto de um indivíduo pensar fora da "ordem" sabiamente emanada do Vaticano, onde se pensa pela humanidade para nos poupar essa árdua tarefa. Vai bonita a procissão, vai!!!! Eu passo já para a luta armada contra esta gentalha!

António Conceição disse...

Pois bem,
A aversão de Bento XVI à mundanidade que refere, afasta-o do seu antecessor João Pauli II e torna-o também uma figura intelectual muito mais credível. Bento XVI é inquestionavelmente um homem de inteligência superior e um intelectual ao nível dos melhores.
Dito isto, não posso deixar de recordar que os ditadores do relativismo (entre os quais me incluo) são sempre os que - por temerem e desconfiarem de qualquer forma de verdade absoluta - estão na primeira linha de combate às ditaduras. Foram eles, por exemplo, os primeiros a oporem-se a Hitler, enquanto os filósofos da verdade (veja-se, no Direito, Larenz, por exemplo) aderiam ao partido nazi. Também não é motivo de especial orgulho para a Igreja a posição que tomou em face do Nacional Socialismo.

Espectadores disse...

Caro "funes",

Em primeiro lugar, em que é que se baseia para afirmar que Bento XVI se afasta assim tanto de João Paulo II? É que só mesmo desconhecendo o longo trabalho que ambos desenvolveram juntos, durante o papado anterior, e enquanto o Cardeal Ratzinger encabeçava a Congregação para a Doutrina da Fé.

Em segundo lugar, não entendo a que é que se refere acerca da "posição" que a Igreja tomou face ao Nacional Socialismo.

Que eu tenha conhecimento, essa posição sempre foi de duro e sustentado repúdio e revolta.

Cumprimentos,

Pedro Cruz disse...

Desafio o Funes a esclarecer-nos quais são os filósofos do relativismo que se opuseram às ditaduras e quais as ditaduras que não se legitimaram nas teorias destes.
É que eu pensava que o super-homem, marxista, não era, propriamente, um democrata burguês. Quando muito terá sido um «democrata popular», ou lá o que isso seja.
Simplificando: Parece-me que verdade absoluta é, p.e., afirmar que a vida humana é inviolável porque o Homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Verdade relativa será dizer que a vida humana é inviolável, excepto nesta e naquela circunstância, porque tu e eu, neste momento e neste contexto, acordámos que assim seja. Ora, se eu for mais forte do que tu, nada me impede de modificar ou mesmo «violar esse contrato», impondo a minha vontade, sem quaisquer limites. Pois se que tudo é relativo.
Aliás, se bem me recordo e percebi, o próprio Funes já explicou em seu blogue, e muitíssimo bem, que a «morte» da verdade absoluta e o triunfo do relativismo absoluto deram origem a sociedades «no limits», onde tudo é permitido, em nome de uma política, de uma ideia, ou de um sonho.
Se calhar fiz confusão.
Uma coisa é certa, se eu quero criar um homem novo e uma nova sociadade, porque é que não te posso aniquilar em ordem a esse desígnio?

Anónimo disse...

Funes o memorioso

V. Exa. é tão relativista que passou a ser ditatorialmente relativista.
Ainda está por escrever a verdadeira história da Igreja e do Nazismo.
Não tenho dúvidas que muitos católicas,incluindo membros da hierarquia, foram colaborantes mas também não tenho dúvidas de que muitos se opuseram. Assim de passagem. Lembro Maximiliano Kolbe e o testemunho do então Rabi da Sinagoga de Roma. Muitos destes católicos também foram vítimas do holocausto

Anónimo disse...

Seria bom conhecer de perto os escritos do Papa Pio XII. Sobretudo a encíclica que ele fez publicar propositadamente em alemão e antes de sair oficialmente, apenas para poder ser lida em todas as igrejas da Alemanha sem censura...

Anónimo disse...

É bem provável que a história reconheça que este Ratzinger seja um intelectual de enorme craveira mas muitos verão por detras daquele sorriso aparentemente timido o soldado nazi ou o chefe da moderna inquisição do Vaticano.

João Gonçalves disse...

Estão aqui comentários que apenas edito para que os outros possam aquilatar o nível de ignorância (ia a escrever maldade)de certa gente. Para não irmos mais longe sobre o "nazismo", recomendo aos alfabetizados a leitura de "Bento XVI e o Plano de Deus", de Patrice de Plunkett, de 2005, traduzido na Europa-América.

osátiro disse...

Bem analisado.
E, como católico, imensamente feliz pela "classificação" alemã, quando se sabe, que hoje em dia, as refer~encias à Igreja Católica nos media são, por norma, negativas e caluniosas--a começar por Portugal.

osátiro disse...

Anónimo das 10.17:
A propaganda goebbeliana faz efeito!
É que os maiores tiranos, assassinos, bestas da História da Humanidade foram/são ateus, e especialmente anti catolicismo.
Senão vejamos:
STALIN: criou 500 campos de concentração/trabalhos forçados onde morreram 15 milhões de pessoas, segundo o insuspeito "Euronews", para além das vítimas das purgas.
LENIN:matou 6 milhões de camponeses à fome quando lhes retirou os produtos agrícolas para encher a pança do partido e do exército.
MAO: segundo o libro "MAO" da Bertrand-pesquisa histórica-,70 milhões de mortos.
HITLER:renunciou ao Cristianismo e tornou-se a besta que se sabe, como se comprova no livro de História "Os Ditadores" de Richard Overy.
POL POT: 2 milhões em 6 de população.

Depois há uns aprendizes que não chegaram tão longe:VIETNAM, COREIA do NORTE,MPLA(revolta de Nito Alves), Bashir do SUDÃO, MYANMAR,etc...

osátiro disse...

Até a Revolução Francesa, expoente do laicismo, da liberdade, igualdade e fraternidade foi uma máquina assassina que teve de inventar a guilhotina para despachar as filas de "condenados"...
E, depois, Napoleão espalhou a morte a miséria a destruição por toda a Europa e norte de África em nome dessa bandeira.

Meu caro, tem muito que aprender...