29.11.07

O TEMPO QUE SOBRA


«Dantes andava-se e esquecia-se. Agora, a vida pára. Repete-se. Um mês é igual ao anterior e ao próximo e ao seguinte. Não acontece nenhuma coisa diferente, só acontecem coisas indiferentes. Por qualquer razão obscura, não se consegue descobrir o sítio onde as coisas acontecem; e elas já não acontecem onde aconteciam. (...) Um pequeno pânico instala-se. Ao princípio pensou-se que era um estado passageiro, uma época de azar ou de mau jeito. Mas depois o estado não passa, a sorte não vem e o mau jeito continua. Conta-se com angústia o tempo para trás e, a certa altura, conta-se com terror o tempo que sobra. Deixa-se de ter quarenta e três ou quarenta e sete anos e têm-se treze anos até aos sessenta ou dezoito até aos sessenta e cinco. E não será optimismo os sessenta e cinco? E vale a pena?»

Vasco Pulido Valente, "Retratos e Auto-Retratos" (Assírio & Alvim)

13 comentários:

Carlos Medina Ribeiro disse...

«Deixa-se de ter quarenta e três ou quarenta e sete anos e têm-se treze anos até aos sessenta ou dezoito até aos sessenta e cinco».

Trata-se da repetição de uma resposta que Galileu deu a quem um dia lhe perguntou quantos anos tinha.
Ele respondeu qualquer coisa como "Tenho 10 ou 15, não sei bem. Esses são os que espero ainda viver, pois os que passaram já não os tenho"

Anónimo disse...

A pergunta é retórica,a resposta subjectiva.
Toca-nos a todos...

Anónimo disse...

“ Perguntaram ao Dalai Lama o que, mais o surpreendia na humanidade.
Ele respondeu: OS HOMENS
... porque perdem a saúde para juntar dinheiro
... depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde
... e, por pensarem ansiosamente no futuro esquecem o presente, de tal forma que acabam por não viver, nem o presente, nem o futuro
... e, vivem como se nunca fossem morrer
... e, morrem como nunca tivessem vivido ...”

Anónimo disse...

É a melancolia da última fase da vida. Mas há quem consiga viver até ao fim sempre em «festa», numa abençoada espécie de celebração que prolonga a existência ... geralmente morrem de repente e têm uma sorte do caraças.

Anónimo disse...

porra, que triste... será que ele pensa sempre assim ou são fases e alturas?
até dá pena!

um abraço forte para o Vasco Pulido Valente.

JBS

Anónimo disse...

O problema não é ter 60 anos,o problema é saber que isto vai para pior!

É o que costumo dizer aos meus amigos,sem saber que tenho tão geniais antecessores na matéria.

Anónimo disse...

Só faltava ao verrinoso do VPV armar-se, agora, em intimista.


Ele sabe bem, tal como Marcelo Rebelo de Sousa, como se curam essas melancolias.....

E mais não digo, o resto, já o disse Baudelaire.

Anónimo disse...

Já agora e por ser significativa,um amigo de infância diz, sobre o mesmo tema:

Nunca sei se a última queca foi a última!É por isso que nos últimos anos cada queca é sempre a melhor!

Anónimo disse...

João, penso que não me enganei no dia: Parabéns! Faltem-nos os anos que nos faltarem, que os próximos sejam melhores que os anteriores.

Beijinho,

Fátima

Anónimo disse...

Mesmo que seja um pouco verdade, o que é certo é que o Vasco Pulido Valente cultiva o pessimismo mais absoluto.

Carlos Medina Ribeiro disse...

«Um pessimista é um optimista bem informado»

Anónimo disse...

Tou com ele e não abro... Esta coisa da vida apenas material é um beco sem saída! O Homem tem que contemplar, tem que reflectir, tem que VER, tem que cheirar.... para isso é preciso tempo e paz coisas que vão rareando cada vez mais...
Um abraço para o Vasco Pulido Valente que é pessoa que me dá muito prazer a ler.

VANGUARDISTA disse...

Caro João!
Logo te havias de lembrar dum texto destes no meu dia de aniversário!