24.9.06

"OS TEATROS DO PODER"


A entrada de António Botto no post anterior não se deveu a nenhum desatino melancólico de que tivesse sido acometido. Vem a propósito do que li e escrevi nos últimos dois dias. Com o habitual atraso, só hoje, domingo, passei pelo Público de ontem e pelo artigo do Augusto M. Seabra sobre os "teatros do poder". Batem muito no Augusto - EPC e Cia. - porque alegadamente o homem não tem "uma obra" e não é brando a zurzir. Para que é que ele havia de ter "uma obra" quando os escaparates já estão inundados com tanta bosta ilegível? E por que é que ele devia deixar de zurzir tudo aquilo que é eminentemente zurzível - quase tudo - no plano da chamada "cultura"? Explico-me. A dado passo do seu artigo, AMS, que não tenho por ingénuo, pergunta o seguinte: "Como é admissível que seja director de um teatro nacional quem, como Fragateiro, declara não gostar de ler teatro (PÚBLICO de 06/04)? Como é possível a pusilanimidade de declarar que "se o Teatro Nacional fosse só dirigido pelo José Manuel [Castanheira, o adjunto] isto era um desastre nas contas, se fosse só dirigido por mim era desastre na estética!" (Visão de 06/04)? Mas então que qualificações tem para o cargo? É só um comissário político?" Quem ler isto ainda pode pensar que as pessoas são nomeadas para os cargos porque são "competentes", "idóneas", movidas pela "recta intenção" ou, nos casos mais patológicos, para defender o "interesse público". E que, consequentemente, a direcção actual do Teatro Nacional D. Maria II seria uma "excepção". Naturalmente que a dupla Fragateiro-Castanheira é dada à paródia, um "tique" que lhe advém da gerência do Trindade - que Fragateiro acumula ilegalmente - e que é aquele produto híbrido entre a FNAT do dr. Salazar e o "aproveitamento dos tempos livres" da democracia. Fragateiro tem a cabeça de um director de companhia teatral dos filmes do Lopes Ribeiro e já não consegue meter mais nada lá dentro. Para além disso, serve os propósitos da actual gestão política do ministério da Cultura, dirigido por dois amáveis ex-comunistas, daqueles que ainda o eram nos anos 80. Escrevo "propósitos" por mero acaso, já que, na realidade, dois anos quase volvidos, não lhes descortino nenhum. Daí que, desde a saída de Carrilho da Ajuda, a decadência do MC tenha sido irreversível, podendo perfeitamente extinguir-se, a bem da nação, por manifesta inutilidade pública. Para não sairmos dos teatros e equiparados, o panorama não muda muito nos outros. Ricardo Pais - à semelhança de Luís Miguel Cintra que dirige uma espécie de "nacional" na Cornucópia, graças à generosidade das receitas fiscais - , tornou-se num encenador do regime. Trocou a sua iconoclastia imaginativa por um confortável lugar de cortesão, uma coisa que advém normalmente com a idade. Na ópera, Paolo Pinamonti deve continuar a espremer-se por todos os lados para obter dinheiro para as suas produções as quais, apesar de tudo, evidenciam um módico de qualidade apreciável, coadjuvado por duas extravagâncias. Uma, acumula - não há mais ninguém, dr. Vieira de Carvalho? - a condição de jurista, de ex-coralista e de membro da direcção do São Carlos com a de membro da direcção da Companhia Nacional de Bailado, desempenhando ambas - só pode - em part-time. A outra, engenheiro mecânico desprovido do talento de Álvaro de Campos, e em tempos "gestor" de um estabelecimento de automóveis para as bandas de Santarém, tem no currículo uma assessoria "técnica" ao gabinete de Carrilho, na Ajuda, provavelmente naquela que é uma das suas muitas "especialidades", para além da mecânica: a construção civil. Foi ainda subdirector da Companhia Nacional de Bailado, durante cerca de nove anos, e deixou literalmente Ana Pereira Caldas - a directora - entregue a si própria quando o Tribunal de Contas recentemente lá foi auditar uma gestão pela qual ele tinha sido co-responsável. Nem um murmúrio se lhe ouviu - mas isso não são coisas de contas, são coisas de carácter - e continua "premiado" com a co-gestão do nosso único teatro de ópera. Finalmente o CCB, que está entregue a um verdadeiro imã do regime, o dr. Mega Ferreira, e a uma senhora que, à falta de outros, tem o mérito de saber gerir muito bem a sua carreira e que, pelos vistos, "cai" bem a qualquer poder. Por isso, Augusto, há mais Fragateiros no céu e na terra do que na tua "filosofia". É só ires atrás deles.

8 comentários:

Anónimo disse...

A madame Pereira Caldas também prosperou muito desde que é directora da C.N.B.

Anónimo disse...

Quem foi que disse "quando oiço a palavra Cultura puxo logo do Mercado"? Oh filhos, que canseira, não estão fartos de ver sempre a mesma peça no mesmo Politeama?

Anónimo disse...

Realmente as nomeações para a direcção do S. Carlos são sempre um desastre. Todas? Não, houve uma, há pouco tempo, que se distinguiu por ser, em mais de 200 anos, a única feita com bons critérios. O nomeado teve o mérito de lá estar e não se dar por ele, excepto quando saiu e a Rádio Luna foi o veículo da sua indignação. Meu rico Pinamonti!

João Gonçalves disse...

Está enganado. O São Carlos teve boas escolhas nesses tais 200 anos. Para não irmos mais longe, José Figueiredo, João de Freitas Branco, até João Paes, Serra Formigal ou José Ribeiro da Fonte. Pinamonti é apenas mais um. E já teve tantos "acompanhantes" que é difícil enumerá-los. E não, não precisei da Rádio Luna para nada. O que tive a dizer disse-o por escrito, no dia 7 de Abril de 2003, aos drs. Roseta e Amaral Lopes. Se lesse - está nos arquivos do MC - talvez percebesse alguma coisa do que aqui vai escrito. Infelizmente os tempos têm-me dado razão. Mais idas ao Chiado e menos divagações por realidades "culturais" que não têm nada a ver com a nossa, talvez ajudassem o preclaro anónimo a entender o que está em causa. Isto se tiver cabeça para isso, o que duvido.

Anónimo disse...

é tão triste o seu conservadorismo cultural...

Anónimo disse...

Oh Dr.! Porque é que teima como tantos outros em não chamar o nome aos bois.

Anónimo disse...

....tem toda a razão no que se refere às Extravagâncias no Conselho Directivo do São Carlos- são dois abutres que se aproveitam o mais que podem para "meterem ao bolso" esquecendo-se que há quem tenha documentos comprovativos das suas falcatruas!!!!

Anónimo disse...

Pinamonti tem sido vítima das Extravagâncias que, ao longo de 5 anos, o têm coadjuvado (desajudado!!!)mas o seu trabalho, esforço, competência e diplomacia têm conseguido proporcinar-nos óptimos espectáculos, boas temporadas o que nenhum português se esforçou por fazer!!!! É triste, mas é assim: são sempre OS DE FORA que nos dão lições de competência !!!!