1.11.05

O DIA DELE

Sem esse cataclismo enorme que destruiu Lisboa em 1755, Sebastião José nunca passaria dum arrivista contratado para conceder alvarás. Quando a terra tremeu, sepultando seis a oito mil pessoas, no cálculo imediato de Sebastião José, cem mil no poema de Voltaire, com as suas casas, tesouros e animais, queimando-se nos braseiros dos incêndios as pinturas e as livrarias mais raras dos conventos e dos palácios, fez-se um vácuo entre a admiração e a náusea. Foi preciso que um homem sem vocação filosófica se debruçasse sobre o acontecimento e, armado de coragem, chamasse o seu bem a essa atroz ruína. A vontade de superar um facto é a vontade de produzir novos factos. Aproveitou esse momento de maneira tão genial, que durante vinte anos viveu do prestígio dessa força moral que era afinal uma combinação de perigosidade individual, de elogio da catástrofe na qual vê a causa de si mesmo.

Agustina Bessa-Luís, Sebastião José

1 comentário:

Anónimo disse...

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