18.11.05

A DOR

A Fenda reeditou o último livro de Ernesto Sampaio, Fernanda, dedicado à (sua) memória da actriz Fernanda Alves, sua mulher por mais de quarenta anos. É um livro cruel e belo sobre a dor da perda e sobre a impossibilidade de poder continuar. Mais do que a impossibilidade, o não haver qualquer sentido ou vontade em continuar. Sampaio desapareceria um ano depois da morte da Fernanda, e Mário Cesariny escreveu na ocasião que "é a uníca pessoa que conheço que morreu de amor". "Para se viver no presente, e para que esse presente contenha alguns germes de futuro, é preciso esquecer. Não digo perder a memória, mas seleccioná-la, distanciá-la, acomodá-la à necessidade que todos temos de saborear o presente, de manter indemnes as posssibilidades de novos começos. Mas quando a memória nos cai em cima como um dilúvio, quando o passado nos submerge e afoga, estamos perdidos. Sobrevivemos entre sombras, somos almas penadas, entregues ao desespero e à cólera. Vivemos no inferno, pois o inferno é a ausência de quem amamos. É disso que este livro trata. Disso e da passagem da saudade à solidão."

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