25.8.05

NO FUNDO

Vale a pena ler este curioso exercício de "administração pública portuguesa comparada". O pretexto é o combate ao fogo, mas podíamos escolher mais. As direcções gerais ou equiparadas estiolam na sua mesquinhez de "capela" ou no gigantismo absurdo da sua burocracia. A tentação da gestão paralela das mesmas coisas, pelas vias mais imaginativas, quando existem organismos pagos pelos contribuintes para os devidos efeitos, é uma constante. Têm-lhe chamado de tudo. Fundações, "grupos de missão", "comissões", "equipas de projecto" e tretas afins. No meio, continuam os serviços públicos que, muitas vezes, prosseguem objectivos sobrepostos ou concorrentes. O que ao Estado falta em racionalidade, sobra à "política" em imaginação. Os políticos, sobretudo os políticos no governo, adoram "estudar". Para isso nomeiam um enxame de criaturas para "estudar" as maiores e inúteis extravagâncias que acabam por não ter qualquer interesse de cidadania. Quando a realidade bate à porta - e Deus sabe como ela pode "bater" da pior das maneiras, como no caso dos incêndios -, vem ao cimo toda esta esquizofrenia "de Estado" que nos paralisa enquanto nação. O episódio das florestas, visto pelo lado do dr. Sampaio e, a seguir, pelo dr. Costa, é apenas um vago sintoma dessa esquizofrenia. Há séculos que não existe em Portugal um pensamento de Estado minimamente coerente. O pouco que resta é desperdiçado nestes ridículos jogos florais e desbaratado por figuras meramente ornamentais, colocadas na linha "hierárquica". Quem julgava que, com Santana, tínhamos batido no fundo, enganou-se. Verdadeiramente já lá estávamos, muito antes da sua emergência. E é lá que melancolicamente continuaremos.

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