2.5.09

DOS TEMPOS

Sobre Joseph Ratzinger, actual Papa Bento XVI, têm escrito as coisas mais néscias. Ainda ontem, esse manual de referência do regime que é o Expresso, lhe dedicava duas páginas. A conversa é sempre a mesma. O homem é conservador, a burocracia do Vaticano está parada, o Papa não ouve ninguém nem sabe "comunicar", é necessário um novo Concílio - provavelmente para "enterrar" o fantasma do preservativo e da doutrina milenar da Igreja - etc., etc. Até parece que estão a falar da "terrena" Ferreira Leite. Acontece que não estão. Desde os tempos de cardeal, em Munique, que Ratzinger é duma impressionante - e, por isso, desarmante - clareza acerca dos destinos da Igreja Católica. O Papa não tem ilusões sobre a "massa" nem sobre a influência da Igreja sobre a "massa". A questão pode ser de um ou de milhões mas Ratzinger sempre advertiu a "burocracia" e os padres enjoados (que compram jornais nos quiosques de Roma para se entreterem com qualquer coisa) para se habituarem a viver em minoria. Quem não está bem, mude-se. Não peçam, porém, ao Chefe da Igreja Católica, ainda por cima a alguém com as características intelectuais e com a solidez de Ratzinger, que "mude" para agradar aos tempos. Mais valia a esses prosélitos reflectirem no seguinte. Sem a Igreja de que Bento XVI é expoente máximo jamais teria havido "tempos". Muito menos estes.

7 comentários:

Lura do Grilo disse...

Se há alguém com uma imensa profundidade é o Papa: basta lê-lo. E não tinha essa ideia quando foi eleito. Se querem coisas óbvias, demasiado simples ou simplórias de facto terão que bater a outra porta ou ler o DN. A Igreja não é para a mediocridade do mainstream jornalístico que lê Corin Tellado e Paulo Coelho.

Amado Estriga disse...

Já agora e escatologias à parte, pretende dizer exactamente o quê?
Gosto de o frequentar mas também gosto de perceber!!

João Gonçalves disse...

Estriga: pense lá em que civilização é que nasceu e cresceu por uns instantes (partindo do princípio que é desta) e tudo se tornará mais claro na sua mente. No fundo, é sempre aquela coisa da razão e da fé, escatologias à parte. Cumprimentos

José A. Vaz disse...

acabei de ler essas páginas aqui na biblioteca da terra e parecia que estava a ler o resumo dum desses livros do género "policial-romântico-sobre-o-estado-e-o-secretismo/riqueza-da-igreja". fala-se ali da Cúria, dos bispos, do papa e de toda a Igreja como se se estivesse a falar duma multi-nacional a braços com a crise. que coisa estranhíssima. se é assim que os próprios católicos (até "in loco") falam da Igreja, o que fará os outros. uma coisa é o desejo legítimo e fundamentado de mudança, outra é a tendência para o suicídio. e não há volta a dar, o melhor é que se vão habituando a viver em minoria. ou se adaptam ou a "selecção natural" fará inexoravelmente o seu trabalho. shalom.

Amado Estriga disse...

Bom,resta-me então continuar a resmungar, tanto quanto possível pelo lado da razão, dado que em matéria de fé sou manifestamente deficitário !!
E chegado que estou à meia idade, tal como a igreja, já não vou mudar !
Obrigado pelo esforço, anyway!

Anónimo disse...

Há quem diga por aí que existe um cardeal que entre duas missas anda de avental.O bom povo católico está preocupado.O que é preciso fazer?Ir a Roma ver o bom Papa Bento XVI?

LSBR disse...

«É fácil ser doido; é fácil ser herege. É sempre fácil ir com os tempos: o difícil é conservar a própria personalidade. É fácil ser modernista, como é fácil ser um snob. Ter caído numa destas armadilhas abertas pelo erro e pelo exagero que, moda após moda e seita após seita, se estabeleceram ao longo do caminho do Cristianismo – seria coisa indubitavelmente simples. É sempre fácil cair: há uma infinidade de ângulos que nos podem provocar a queda, mas há apenas um onde nos podemos firmar.»
GILBERT KEITH CHESTERTON, Ortodoxia, Livraria Tavares Martins, Porto, 1974, p. 164.