21.5.09

BÉNARD

«A vantagem de ter um blogue com caixa de comentários livre é que no dia em que morrermos podem fazer-nos os elogios xaroposos do costume mas aquilo que nos chamaram ninguém nos tira», escreve a Helena Matos a propósito do desaparecimento de Bénard da Costa. Não é o caso deste blogue que usa a "censura prévia" nos comentários mas raramente retira uma vírgula ao que ficou escrito. Isto para dizer que aqui nunca houve lugar a "elogios xaroposos" acerca de Bénard da Costa, a figura institucional e não o homem. Não houve nem há. Não sou hipócrita. Bénard era católico e, por isso, tinha uma certeza. A certeza de que estaria pronto, a qualquer momento, para ir ao encontro de Jesus.

6 comentários:

Anónimo disse...

nunca fiz elogios, somente evocações.
fui aluno e tornei-me amigo do meu falecido colega Francisco Martinez (Don Paco Caminho) da Opus Dei. através dele conheci vagamente o falecido, do qual não posso dizer nada.
talvez nos encontremos no dia do Juizo Final.
descanse em paz

radical livre

joshua disse...

Recordo-me do que escreveste, João, há poucos meses e do que por aqui foi comentado por aqui precisamente sobre Bénard da Costa e sobre Mexia, no momento ponderoso e relutante(?) da transição à frente da Cinemateca. Completei um quadro mental e integrei então graças ao que li uma imagem mais recortada do primeiro para além do que gravara de certas aparições na TV e das célebres crónicas que lhe lia.

De epitáfios todos somos capazes. E cada qual faz os seus aos seus mortos ou antecipa o próprio. Xaroposos, patuscos, humorísticos ou acidulados, também os há agridoces. Hierarquia natural dos afectos.

Ao meu velho avó nonagenário costumavam conhecidos fazer-lhe próxima a morte e dizer-lhe meigamente: «Ó velhinho, ainda hei-de ir ao teu enterro!» O meu avó tinha uma frase: «Não digas isso, Fulano, porque posso bem ser eu a ir ao teu.» Não chegaram os dedos de ambas as mãos para confirmar quantas vezes foi aquele velho às exéquias de conhecidos e amigos mais novos que ele, protagonistas de tal frase jocosa de mau gosto. No limite, acho que o meu avó bateu todos os recordes de exéquias a pessoas conhecidas como quem se vai familiarizando com a própria morte, por décadas de mortos e enterros e exéquias, e vai revendo na memória ou nas conversas circunstantes o filme de vida nessas pessoas que, uma a uma, vão passando.

Face a face com a morte própria ou alheia conceitos como hipocrisia e elogio não passam da merda mais pedantolas assim como o excelso autoconceito que façamos de nós mesmos. Por isso mesmo talvez é que todos os mortos nos mereçam, desde há milhares de anos, um módico de respeito. Nunca é demais revisitar o texto supremo sofoclesiano "Antígona".

Vítor Pimenta disse...

fazer?

Diogo Torralva disse...

previa e regular



Diogo Torralva

Sampy disse...

"Bénard era católico".

Bénard era o autor de "Nós, os Vencidos do Cristianismo".

Anónimo disse...

Aprendi cinema com a revista Filme e com o Luís de Pina, penso ou tenho fraca memória que o Bénard da Costa nem era por ele muito apreciado como cinéfilo. Sonhei ou tive um recorte durante anos em que o Luis de Pina lhe teria chamado «Costinha» sem ser por ternura.
O tempo passou o Luís de Pina morreu e Bénard da Costa subiu à ribalta.
Se tinha valor como critico de cinema não sei. Lembro-me de umas prosas imensas e por vezes incompreensíveis no Público (?), mas a memória pode-me estar a atraiçoar.
Parece que à frente da Cinemateca fez um trabalho com valor. Sei também que para quem trabalhava de perto com ele era, por vezes, mesquinho. Apenas gostei de dois ou três discursos dele no 10 de Junho.
Sei que há grandes adoradores dele, estão no seu direito e provavelmente como homem da cultura que foi fica-me mal expressar estas palavras, mas só serão lidas se o dono do blogue quiser.