28.12.08

MEMÓRIA DE SUSAN SONTAG


O Público recorda a morte, há quatro anos, de Susan Sontag. Lembro a sua intervenção numa conferência em Lisboa sobre a "Europa e a Cultura" do tempo em que a Gulbenkian era viva. Sontag era uma americana para quem a Europa - enquanto ideia e cultura - era indispensável. Não por acaso quis ser inumada no cemitério de Montparnasse. Seria, de acordo com os "critérios" em vigor, de esquerda. Não me interessa. Interessa-me compreendê-la com o mesmo entusiasmo que ela colocava em tudo a que se dedicou, de Nova Iorque a Sarajevo. As suas palavras não são propriamente de "esquerda" ou de "direita". São exactas como a vida jamais o poderá ser. Porque «a legitimidade e a necessidade de continuar a formular uma estética da resistência, resistência às barbaridades da nossa cultura, aos apocalípticos jogos de planificação dos nossos líderes e ao conformismo das nossas imaginações e das nossas vidas" não cessam. Porque é fundamental persistir no esforço de ser «contemporâneo consigo mesmo, na nossa vida, prestando toda a atenção ao mundo, contra a ideia solipsista de que está tudo na nossa cabeça», com a certeza de que «toda a verdade é superficial» e que «algumas (mas não todas) as distorções da verdade, (mas não todas) as loucuras, algumas (mas não todas) as negações da vida, são fontes de verdade, produzem sanidade mental, criam saúde e tornam melhor a vida.»

3 comentários:

Anónimo disse...

a propósito de cultura:
encontrei na fnac-colombo um pequeno livro de bolso escrito em francês destinado a "descriptar" les bienveillantes de littell

radical livre

Anónimo disse...

Comungo na admiração por Susan Sontag. Mulher excepcional, que combateu corajosamente, durante anos, o cancro que lhe roubou a vida. Uma vida de paixões, por pessoas e por causas, ao serviço de uma ideia superior de cultura, que ultrapassava largamente a cultura dos cânones oficiais.

Da sua obra, entre os muitos ensaios, dois lapidares: "A Doença como Metáfora" e "A Sida e as suas Metáforas". E um interessantíssimo romance, que merece ser lido: "O Amante do Vulcão".

Anónimo disse...

Enoja-me a afirmação de que se é de direita ou de esquerda conforme o pensamento que se tem sobre aquilo que se vai observando.
O vocabulário da caozoada politiqueira dá-me vómitos.
Pretendo apenas conhecer, e penso que não é pedir muito, o que é verdadeiro para me poder acautelar da mentira, conhecida arma dos políticos de merda.
Ri-o dos que me vêm dizer que sou de direita ou de esquerda .
Se, por preferir a verdade, me disserem que sou de direita, aceito; mas não me abespinho se, pela mesma razão, afirmarem que sou de esquerda.