23.12.08

UM CRESCENTE JURO DE MONSTRUOSIDADE


O Miguel "deu-me" como prenda um "livro" e uma bela epígrafe: "de baioneta em riste na terra de ninguém esventrada pela estupidez dos homens. Que nunca lhe esmoreça a atenção de sentinela." Retribuo com Jorge de Sena nestes dias cínicos em que tendemos a esquecer o que é o homem e, como dizia Michaux, caímos na tentação de lhe querer bem.

«O mal não se perpetua senão no pretender-se que não existe, ou que, excessivo para a nossa delicadeza, há que deixá-lo num discreto limbo. É no silêncio e no calculado esquecimento dos delicados que o mal se apura e afina - tanto assim é, que é tradicional o amor das tiranias pelo silêncio, e que as Inquisições sempre só trouxeram à luz do dia as suas vítimas, para assassiná-las exemplarmente. Por outro lado, o que às vezes parece amor do mal é uma infinita piedade de que os "bondosos" e os "puros" se cortaram: uma compreensão e um apelo em favor de que o amor do "bem" não alimente nem justifique a monstruosidade do mal, tanto mais monstruoso quanto mais, psico-socialmente, a idealização desse "bem" o confinou a ser. [A vida] só é monstruosa, não porque algo o seja, e sim porque o repouso egoísta, a ignorância, a falsa inocência, são sempre feitas de um crescente juro de monstruosidade. Nenhum realismo o será, se recuar aflito, mas porque, aflito, não recua.»

2 comentários:

Anónimo disse...

o "silêncio é de oiro" para os súbditos dos deuses da ditadura armani. as omissões da comunicação social nacional-socialista e social-fascista são cada dia mais criminosas.
o rebanho segue para o matadouro.

radical livre

FNV disse...

Cuidado para não tropeçar na baioneta.