31.10.08

OS MILITARES E O REGIME

Medeiros Ferreira, no famoso "congresso de Aveiro", "previu" que o regime do Estado Novo cairia às mãos da tropa. Caiu. Em 1976, quando foi eleito livremente como primeiro Presidente deste regime, Ramalho Eanes acumulava um poder extraordinário para os "parâmetros" ocidentais onde começávamos a dar os primeiros passos. Presidia ao país, à tropa e ao "conselho da revolução". A nova nomenclatura não descansou enquanto não varreu os militares do poder de decisão. Soares e Balsemão "combinaram" uma revisão constitucional ad hominem e, pelo caminho, extinguiu-se o conselho militar revolucionário. No princípio dos anos noventa, Cavaco e Fernando Nogueira deram início ao processo de extinção "cívica" e política das Forças Armadas. Daí para diante, a obsessão com a "sociedade civil" por contraposição a tudo (função pública, em geral, incluída) determinou o apoucamento do "estatuto militar". A machadada decisiva deu-se com o fim do serviço militar obrigatório "afastando" ainda mais a corporação - e, por consequência, a compreensão do seu simbolismo - da "sociedade". O dr. Portas, autor da "obra" e uma pessoa sempre tão disponível para a demagogia patrioteira, cedeu à facilidade. A "profissionalização" transformou-se num mero pretexto para ornamentar missões internacionais e ganhar uns dinheiros extra. Este regime tratou mal os militares e os seus símbolos que, quase sempre, coincidem com os nacionais. O governo de Sócrates, enfatuado com o seu "reformismo" histérico, pretende equiparar a "condição" militar a outras de serviço público como se a tropa fosse fandanga ou mais um bando de "mangas de alpaca". Sem armas funcionais, sem carros de combate que se mexam, sem quartéis e, sobretudo, desprovidos da relação com a "sociedade civil" a que a guerra obrigava, os militares podem hoje pouco. Lamento-o porque ainda pertenço a uma espécie em vias de extinção que respeita as Forças Armadas. Ou, pelo menos, a "ideia" delas. Por isso, e fora uns encontros patéticos entre "associações" de militares, seguidos ou não de jantares e de passeatas, não virá mal ao regime por parte do pessoal fardado. Quem lhe faz verdadeiramente mal são os donos dele.

Adenda de 1 de Novembro: «A política de Sócrates de equiparar a Defesa à Saúde ou à Educação é a última humilhação para um oficial - a negação da sua moral e do seu valor. Loureiro dos Santos não falou por falar.» (Vasco Pulido Valente no Público)

OS "SOFISTICADOS"


Como é que alguém - e alguém como Strauss-Kahn - pode andar com uma tipa chamada Piroska? Para além desse pequeno detalhe, FAL tem razão naquilo que o "incidente" revela. «É esta mesma esquerda, os sofisticados e os media que já elegeram Barack Obama, mesmo antes de ir a votos.»

"ASSIM SE COMEÇA"

«(...) O que Sócrates conseguiu foi impor uma disciplina, e uma disciplina severa, ao Governo, à burocracia e ao partido. Como no comunismo clássico, Sócrates tem uma "linha" sobre qualquer assunto que interesse à saúde e sobrevivência da maioria. Ninguém sabe quem decide a orientação e os pormenores dessa linha. Provavelmente, o próprio Sócrates, com a sua eminência parda, Pedro Silva Pereira, um ou outro ministro (conforme a ocasião e o assunto) e um pequeno grupo de "peritos". Por natureza, a "linha" não pode "dar" muita informação. Se "desse", não entrava na cabeça dos gnomos que a repetem e, principalmente, do público em geral. Para cada pergunta (sobre o Orçamento, a oposição, o mundo) basta uma resposta: simples, curta, final. Não é grave se a resposta for falaciosa ou hipócrita, ou não for, como costuma suceder, resposta nenhuma: a insistência, a convicção e a unanimidade acabam sempre por convencer os tolos. Quem leu a longuíssima entrevista de Sócrates (na semana passada) ao Diário de Notícias ficou certamente espantado com a vacuidade da coisa. O primeiro--ministro, também ele, não saiu um milímetro da "linha" oficial: da crise financeira a Manuela Ferreira Leite disse e redisse o que diria um "militante consciente" (para usar a antiga expressão do PCP). E, no dia seguinte, na TVI, Augusto Santos Silva voltou a servir a ladainha. Pior ainda: ao fim de quatro anos, pouca gente escapou à "língua de pau" deste regime. Claro que, entretanto, a realidade desapareceu de cena. A realidade económica e financeira, e a realidade política. Os portugueses, por exemplo, estão longe de perceber o sarilho em que os meteram e a humilhação do Presidente da República é reduzida a uma insignificância e atribuída à democrática vontade do PS. Assim se começa.»

Vasco Pulido Valente, Público

30.10.08

TINTIM DE SÓCRATES


Não chega a corridinha no primeiro calcetão disponível. Não basta fechar a Praça Vermelha para satisfazer o ego. Não. Sócrates também é o novo "homem da Regisconta", agora transformada no "moderno" Magalhães. De tão contente que estava na cimeira ibero-americana de El Salvador, Sócrates, que não tem graça nenhuma, fez uma gracinha. O que é que ele disse? «Não há um computador mais ibero-americano do que este, desde logo porque se chama Magalhães – e não há nome mais ibero-americano do que Magalhães». Para além disso, «foi pensado para as crianças e por isso é resistente ao choque. O Presidente [Hugo] Chávez já o atirou ao chão e não o conseguiu partir.» Todavia, o nosso sublime timoneiro ainda foi mais longe depois de comparar Chávez a uma criança com instintos simiescos. Apresentou o Magalhães como «o primeiro grande computador ibero-americano», uma «espécie de Tintim: para ser usado desde os sete aos 77 anos». Desta nem a dupla "Pino/Lino" se lembraria. A criatura levou vinte e dois exemplares do fantástico Magalhães para oferecer aos colegas da latinidade tropical e ibérica. A cimeira é ibero-americana, bimbo-americana ou uma mistura das duas? Nunca a toponímia foi tão adequada.

Comentário de leitor: "Mas o mais engraçado foi dizer "Todos os meus assessores usam o Magalhães". Passou todas as fronteiras do ridículo. Ridículo que agora tem limites tão conhecidos quanto o Universo. Foi uma risota aqui em casa: desde os 9 anos aos mais de 50 anos nunca rimos tanto juntos."

O, DE PRETO

«A pele de Barack Obama é a prova de que a promessa de 'mudar' já estava cumprida antes de o estar. Porque a sua pele actual é a garantia inconsciente da 'Mudança' futura», escreve José Gil na Visão. Esta baboseira "inconscientemente" racista diz tudo sobre a famosa monomania começada por "O". Não dou seis meses aos "obamizados" para começarem a morder-se todos.

ESPELHO MEU

A NÃO OBAMIZADA MANUELA

A dra. Ferreira Leite até pode ter toda a razão do mundo. Sucede que as portas do mundo, como me dizia ontem um amigo, não estão presentemente dimensionadas para pessoas altas. Num certo sentido, Ferreira Leite não pertence a esta fauna de empertigados "modernos" e de anões morais. A sua retórica, por mais "rigorosa" e "credível" que seja, não pinga cá para fora. Dá ar de quem aconselha. Não de quem manda de acordo com o jargão. O herói nacional Barroso - que já a tinha "traído" há quatro anos quando a sua ministra de Estado e das finanças foi a última a saber oficialmente que ele ia para a CE - declarou, do alto da sua gravidade, a importância dos "investimentos públicos de qualidade" (quem é que afere a "qualidade? As "mafaldinhas" e os "ramelentos" de Bruxelas?) mesmo em tempos de recessão mundial. Ferreira Leite atreve-se a discutir a oportunidade da coisa como uma vulgar anti-patriota e uma perigosa anti-europeísta. Até Sócrates, "enlulado" no Brasil, e que não "conhecia" os argumentos de Cavaco sobre os Açores , arranjou um bocado para chamar "mesquinha" a Ferreira Leite por causa do aumento anunciado do salário mínimo nacional que ela, nitidamente fora do mundo, tinha criticado. O velho Portas dos mercados de peixe e mais dois ou três "pensadores" do PSD aplaudiram a generosidade do 1º ministro e, por tabela, lançaram o opróbrio sobre a pobre economista desfasada da "realidade". Os media, grandes servidores públicos das "boas causas", não gostam dela. Em suma, Ferreira Leite, cujo talento político nunca foi superlativo, está a mais neste mundo a caminho da "obamização" global. Sobretudo porque não precisa, para que é que se sujeita a isto?

29.10.08

CONTRA A CUPIDEZ BURGESSA



2. Trambolhos ambulantes.

MAIS UMA CORRIDA, MAIS UMA VIAGEM


Enquanto Ferreira Leite não se liberta - alguma vez conseguirá? - daquele inconsumível "economês" com o qual se dirige ao país, Sócrates deu mais uma corridinha no calcetão. Desta vez foi no Brasil, depois ou antes de uma prosa com esse "herói" da esquerda patológica mundial, o sr. Lula da Silva. O sr. Silva e Sócrates "convergiram" na "necessidade" de a política tomar conta disto. O "isto" é a economia e a regulação financeira dos mercados. Lula sabe do que fala. O seu PT não tem feito outra coisa senão "render-se" às luzes e às sombras desse agora execrável mercado. E cá, até há uns escassos dias atrás, a "esquerda moderna" também achava que tudo se movia perfeitamente e de acordo com os seus "ritmos" próprios, razão pela qual os nossos "reguladores" (fossem lá do que fossem) ou não se dava por eles ou eram (são) de gargalhada. O sr. Lopes, da ERC, por exemplo, só se aceita a título de uma trágica comicidade. O reinado do "lulismo" já conheceu melhores dias. As eleições em curso têm-lhe valido valentes pancadas, não só pelo primitivismo oportunista de muitos dos seus candidatos, como pela avaliação negativa que os brasileiros fazem do absolutismo "petista" instalado um pouco por todo o lado. Nietzsche explicou como os tempos ditos "modernos" seriam marcados pelo ressabiamento. O PT e os seus satélites, como o MST e outros, são a prova viva disso com a ocupação escandalosa que fizeram do Estado e das instituições brasileiras. Por seu lado, Sócrates, um anti-ideólogo, nunca perdeu tempo com falsas utopias. Todavia, e porque é essa a "moda" empurrada pela crise, convém-lhe trazer o Estado de volta e, à sombra dele, exibir a sua magnífica pessoa como "garantia" de que nada nos vai faltar. Como se, deste ou do outro lado do Atlântico, alguém pudesse garantir alguma coisa.Esta "cimeira" vale apenas o seu preço facial. Mais uma corrida, mais uma viagem.

28.10.08

CONTRA A AMABILIDADE


Existe um défice de confronto por cá. Por todo o lado, no poder, na oposição, nas televisões, pelos jornais, na literatura, entre blogues, etc., etc., nota-se aquele cuidado hipócrita em não ferir a susceptibilidade do Outro. O Outro - uma desgraçada invenção do divã freudiano e da "modernidade" - é a nossa cruz. Como o país é pequenino e toda a gente está mais ou menos comprometida com toda a gente, a amabilidade impede que as relações, públicas ou privadas, sejam adultas. Só a ruptura e a desmesura valem a pena. São um sinal de maturidade e de responsabilidade contra a trivialidade da vida quotidiana falsamente "animada" pelos amáveis de serviço. Por isso gosto de cães grandes e detesto caniches. Por isso não troco o mar por arbustos verdejantes e piqueniques com famílias felizes. Por isso ignoro a maioria das "figuras públicas". Qualquer "mulher-a-dias" que a minha insónia intercepta e que corre debaixo da minha janela às cinco da manhã atrás do primeiro autocarro para o trabalho, merece-me a consideração esdrúxula que não possuo pelos homúnculos do regime. Não conheço melhor libelo contra a amabilidade do que os famosos versos de Botto em homenagem a Pessoa, justamente um dos que, par delicatesse, perdeu literalmente uma vida que nunca chegou a ter. "Isto por cá vai indo como dantes;/O mesmo arremelgado idiotismo/Nuns Senhores que tu já conhecias/- Autênticos patifes bem falantes.../E a mesma intriga; as horas, os minutos,/As noites sempre iguais, os mesmos dias,/Tudo igual! Acordando e adormecendo/Na mesma côr, do mesmo lado, sempre/O mesmo ar e em tudo a mesma posição."

VIA ALEGRE


O que o sr. Greenspan - e o mundo, por tabela - perdeu em não ter lido as moções do nosso Manuel Alegre. Alegre quer uma "via nova" para a "esquerda" porque, na sua cabeça formatada em 1789, só a "esquerda" possui o segredo de Pandora. Está na hora de lhe erguerem uma estátua para ver se ele se cala.

«AINDA NÃO SABEMOS VIVER EM DEMOCRACIA»


«Uma notícia - a dada ontem pelo PÚBLICO sobre a violação pela Inspecção-Geral de Finanças de milhares de mensagens de e-mail de centenas de funcionários dos Impostos - e uma decisão política - o segundo veto do Presidente da República ao Estatuto dos Açores - confirmaram que, em Portugal, há noções elementares sobre o significado de viver em democracia que ainda não foram interiorizadas nem pelo Estado nem por muitos políticos. (...) Não é preciso, pois, ser muito sofisticado ou possuir um doutoramento em Direito Constitucional para perceber que mecanismos estabelecidos na Constituição da República não podem ser alterados por leis ordinárias, isto é, por leis que apenas requerem o voto de uma maioria simples dos deputados. Se esse procedimento fosse aceite pelo Presidente da República - e é esse tipo de procedimento que está em causa nalgumas disposições do Estatuto dos Açores - aquilo que se estaria a fazer era a aceitar que regras aprovadas por uma maioria qualificada podiam ser, depois, modificadas por uma maioria simples e conjuntural. Infelizmente todos os partidos políticos, mesmo aqueles que se manifestaram contra as normas em causa, como o PSD e o PCP, não tiveram a coragem de votar contra a versão final do Estatuto dos Açores, pois estávamos num período eleitoral. O que significa que todos os partidos estiveram dispostos a sacrificar regras centrais numa democracia em nome de benefícios políticos de curto prazo, o que é lamentável. Têm agora uma oportunidade de emendar a mão, uma vez que o diploma regressou à Assembleia e o Presidente até acrescentou novos argumentos na sua mensagem. Veremos se sabem discernir o que é essencial - o seu compromisso com as regras da democracia e da Constituição - do que é mesquinho - o cálculo político. A chave está nas mãos do PS. Se o caso do Estatuto dos Açores ilustra como muitos políticos se predispõem a violar as regras do jogo e a colocar em causa delicados equilíbrios de poderes, o episódio da violação de milhares de e-mails é o exemplo acabado de como, alegadamente em nome de um fim legítimo - evitar a violação do sigilo fiscal -, as autoridades não hesitaram em violar um número sem fim de direitos dos cidadãos. Só dentro da lei se pode combater os que violam a lei, sejam eles assassinos ou funcionários do fisco que passam a jornalistas informações confidenciais. Ora violar a correspondência privada - porque é disso que se trata - de centenas de funcionários dos impostos apenas porque essa correspondência foi trocada com jornalistas é algo que, à escala a que foi realizado, não se deve ter feito em Portugal desde que a PIDE deixou de violar as cartas enviadas ou recebidas por "suspeitos" opositores ao regime. É difícil enumerar todos os atropelos cometidos, já que a investigação foi feita sem que os próprios soubessem que eram suspeitos; já que a investigação violou um direito profissional dos jornalistas, o de preservarem o sigilo das suas fontes; já que é impossível saber quantas mensagens pessoais, porventura de natureza íntima, foram vasculhadas; já que tudo parece ter partido do capricho de um todo-poderoso director-geral que, tendo aceite um cargo público, não gostou que fossem publicamente revelados os seus rendimentos; já que até se pediu à Interpol para identificar o autor de um blogue, algo que só não foi por diante porque as leis nos Estados Unidos (onde está a sede da empresa que alberga o blogue) protege os registos de transmissões electrónicas. A leviandade com que sucessivos responsáveis políticos acompanharam o caso, a falta de controlo por tribunais independentes durante a maior parte do processo, tudo mostra que se continua a acreditar que os fins justificam os meios. O que é a porta de entrada para todo o tipo de abusos e autoritarismos. É por isso que vale a pena regressar a pensadores que conheceram bem ditaduras, como Bobbio, e que por isso sempre sublinharam a importância das regras em democracia. Regras que devem ser sempre respeitadas, seja-se deputado ou inspector das Finanças.»

José Manuel Fernandes, Público

27.10.08

QUERIDO LULA

Por falar em aeroporto, recomendo ao 1º ministro que compre, num qualquer do Brasil, este livro. Lê-se bem num voo transatlântico. Digamos, para resumir, que o "lulismo" não é exactamente o regime "porreiro" que os europeus correctos e oficialmente optimistas "vendem" por aí. A começar pelo inefável dr. Soares. E, depois, substituindo alguns nomes e situações, parece escrito para nós. E sobre nós.

UM MUNDO PERFEITO

Num aeroporto nacional, enquanto aguardo pelo voo para Lisboa, vejo Mário Crespo a entrevistar Pedro Silva Pereira, o ministro da presidência, na Sic-Notícias. Não o consigo ouvir - felizmente - mas percebo que falam do veto presidencial ao estatuto do Sr. César. Também dei conta que a Constança Cunha e Sá conseguiu finalmente entrevistar um ministro (e que ministro...), o dos assuntos parlamentares, o dr. Santos Silva, na TVI. Aí, graças a Deus, estava eu no ar. Pereira é uma visita assídua de Crespo. Ainda não entendi bem porquê. Curiosa é esta coincidência de "agendas". Sócrates ocupou todo o fim de semana informativo com a sua "entrevista três em um". E a semana começa com dois canais a dar tempo de antena ao petit comité do referido Sócrates. Chama-se a isto um mundo perfeito.

AINDA BEM

O Chefe de Estado vetou o novo estatuto dos Açores. Cavaco não aceita a "sujeição" do órgão de soberania que representa aos jogos florais das "audições". Pelo andar da carruagem, o PR ainda um dia deste teria de ouvir o porteiro de Belém para saber se devia entrar no Palácio. Desde 1983 que o "arco constitucional" partidário decidiu apoucar os poderes presidenciais. Deixaram para o presidente aquilo a que, de forma idiota, apelidam de "bomba atómica", a dissolução do parlamento, a qual, por acaso e até agora, tem sido utilizada com senso e parcimónia pelos incumbentes. O sr. César, dos Açores, inchado dentro das suas maiorias absolutas, decidiu - com a conivência do PS nacional e de inesperados compagnons de route como o PP local ou o BE, sem falar da patética posição de todos os partidos representados na AR - dar-se mais importância do que aquela que efectivamente tem. O problema, visto do lado de Cavaco, não é dele, Cavaco. O problema é institucional e o PR tem-no tratado como tal. Pelo contrário, César, nos comícios que fez ao lado de Tony Carreira, referiu-se ao órgão de soberania PR como algo descartável a quem, a seu tempo, o PS "saberia dar a resposta certa". Se calhar, César esperava de Belém o mesmo temor reverencial que impõe aos seus conterrâneos. Enganou-se. Ainda bem.

COINCIDÊNCIAS COM MÉTODO


Esta notícia seria uma banalidade no reino de Chávez, por exemplo, ou em qualquer outro país da América Latina, o Brasil do querido Lula incluído. Há uma "auditoria" que constava de um "plano de actividades" que se mistura com uma "queixa" de um alto dirigente da administração pública pretextando "violações de sigilo" que o atingem directamente e, pelo caminho, tenta-se descobrir a autoria de um blogue. Perceberam? Talvez sejam coincidências mas são, de certeza, coincidências com método tal como a loucura de Hamlet. Um cargo de direcção pública destina-se a servir o interesse público e nunca a "servir" quem, por contingências várias, exerce esse cargo temporariamente. Também os dados electrónicos, mesmo que os instrumentos para os usar sejam "oficiais", não deixam jamais de ser privados. O que pode e deve ser estabelecido à partida é o "modo de usar" dos ditos instrumentos. Não "vale" ir lá, depois, e sem conhecimento dos seus utilizadores, vasculhar a intimidade de cada um. Muito menos vale a pena perseguir um blogue por causa do que lá se escreve ou deixa de escrever para tentar descobrir quem escreve ou deixa de escrever. Sou contra o anonimato mas sou mil vezes mais contra "brigadas de costumes". Este episódio apenas revela que Portugal não possui uma cultura pública "democrática" e que tem, afinal, medo da liberdade. Toda a gente adora vigiar-se mutuamente e denunciar o vizinho. Mesmo na função pública em que alguns funcionários (os pequeninos videirinhos aterrorizados pelo "respeitinho") apreciam ser mais serviçais de alguns do que verdadeiros funcionários ao serviço do interesse de todos. O autoritarismo palonço revela-se nos pequenos gestos. Este foi um deles.

PUBLICIDADE NÃO PAGA

«A ampliação da capacidade do terminal de contentores de Alcântara que o Governo inoportunamente se propõe levar por diante vai implicar a criação de uma muralha com cerca de 1,5 quilómetros com 12 a 15 metros de altura entre a Cidade de Lisboa e o Rio Tejo. Ora acontece que não houve qualquer discussão pública sobre esta necessidade e muito menos concurso público para tal fim, entregando assim o Governo de "mão beijada" esta concessão a uma entidade privada sem que houvesse a necessária discussão pública da necessidade ou não de tão grandes obras em Lisboa para este fim. Acresce que estas obras no terminal carecem ainda de investimentos complementares avultados em infra-estruturas de acesso por parte do Estado. Os terminais de contentores existentes nos portos de Portugal no final de 2006 tinham o dobro da capacidade necessária para satisfazer a procura do mercado. O Tribunal de Contas em relatório de Setembro de 2007 sublinhava que a Administração do Porto de Lisboa (APL) é líder no movimento de carga contentorizada em Portugal, e apresenta desafogadas capacidades instaladas e disponíveis, para fazer face a eventuais crescimentos do movimento de contentores. A prorrogação da concessão do terminal de contentores de Alcântara até 2042 que o Governo pretende concretizar neste momento com o Decreto-Lei n.º 188/2008, de 23 de Setembro, e que prevê a triplicação da sua capacidade afigura-se assim completamente incompreensível, desnecessária, e inaceitável para mais sem concurso público como é a pretensão presente. Apesar da lei prever 30 anos para a duração máxima das concessões, com esta prorrogação a duração desta concessão será na prática, de 57 anos, o que, tal como o Tribunal de Contas sublinha, impede os benefícios da livre concorrência por encerrar o mercado por períodos de tempo excessivamente longos. Com esta decisão do Governo perde a Cidade de Lisboa, perdem os cofres públicos, perde o sistema portuário nacional, no fundo perdem os portugueses. Na próxima segunda-feira, dia 27 pelas 19h30 na Doca de Santo, será apresentada uma petição exigindo a revogação desta decisão.»

26.10.08

ANOS DE PALCO

Outro pormenor engraçado no "monólogo do vaqueiro" perpetrado por Sócrates (e que serviu de animação para todo o fim de semana) foi a circunstância de ele ter associado os dirigentes da oposição de direita ao passado. Tem razão, mas deve incluir a sua extraordinária pessoa no "balanço". É que, desde 1995, fora o pequeno "intervalo" governativo em que participaram Ferreira Leite e Portas, Sócrates tem estado constantemente associado ao poder. De adjunto de ministro a ministro-adjunto, de ministro com uma "pasta"* a, finalmente, 1º ministro, Sócrates não é exactamente um rosto de futuro. Já tem muitos anos de palco.

*Sócrates também defendeu Elisa Ferreira para Porto. Coitada da Elisa. Ela que conte a "experiência" com o seu antigo secretário de Estado do Ambiente que agora a quer ver no lugar de Rui Rio. Esta é outra "boa" característica do secretário-geral do PS. "Puxar" por aqueles de quem não gosta para eleições de desfecho duvidoso ou "exilá-los" em lugares irrecusáveis.

O PODER - 2

Cara Helena Matos: não há nenhuma possibilidade de confusão porque os "tempos" mudaram. Os seus colegas ventríloquos que abundam nas redacções não "reparam" nesses detalhes. Aliás, é para isso que lá estão. Para não dar por nada e, dando, para ser complacentes com o homem da cadeira.

O PODER


A longa entrevista de Sócrates ao DN - na verdade, três em uma, com texto, rádio e imagem - "marca" o início das hostilidades para 2009. Complacente com Cavaco e duro com os outros, Sócrates aparece como quase "incontornável". A pose - uma cadeira estrategicamente colocada numa sala de São Bento com "mantelpiece" atrás, camisa e gravata e os jornalistas de costas para a solitária e grave figura- recorda a Sala Oval ainda desprovida do "herói" Obama. De qualquer forma, exibe poder. Foi o que Sócrates, num momento de incerteza planetária, quis revelar. Poder. De resto, nada de extraordinário foi anunciado que nós não soubéssemos já. A também nada de excepcional se comprometeu. À medida que as coisas se complicarem, Sócrates vai recorrer mais a esta "pose" ("eu já cá estou e já conheço os cantos à casa") do que propriamente às "ideias" que nunca teve. O "disco" das "corporações" que o seu alegado "reformismo" anda a combater, está demasiado riscado. De Gaulle "estava só com a França" ("seul avec la France"). Sócrates faz questão em estar só contra Portugal, preferencialmente em maioria absoluta. Ou então com "empreendedores" como o presidente da Mota-Engil, o sr. Mota, que em artigo no mesmo DN, chama à entrevista "motivadora". Sócrates é quem define o bem colectivo a partir daquela cadeira simbólica de São Bento como os "empreendedores" como o sr. Mota gostam. Eu não gosto nem me intimido, mas aquilo é poder.

25.10.08

O SENTIDO DE RESPONSABILIDADE

«Estamos talvez num daqueles momentos em que, como há dias dizia Eduardo Lourenço, todos ganharíamos se a política deixasse cair a sua máscara de alegre comédia, e se assumisse como tragédia. Talvez essa mudança ajudasse a reinventar o sentido de responsabilidade, individual e colectiva, que a situação actual urgentemente reclama.»

Manuel Maria Carrilho, Diário de Notícias

COMO FALAR DE UM ESCRITOR


«Quando um amigo morre, tanto faz que tenha sido há dez, vinte ou trinta anos. Mas Cardoso Pires morreu há dez; e não há nenhum mal em aproveitar a convenção para falar dele. Até porque no fim da vida o esquecerem mais do que ele merecia. A primeira vez que o vi foi em 1960, no Portugal de Salazar e numa Lisboa diferente. O mundo, por assim dizer, "intelectual" era um mundo de homens que se encontrava nos cafés do Chiado, em algumas livrarias, num bar ou noutro e mesmo no ocasional prostíbulo. Conheci Cardoso Pires na revista Almanaque, que ele, de facto, dirigia e em que trabalhavam Luís Sttau Monteiro, Augusto Abelaira e José Cutileiro; e também, na parte gráfica, João Abel Manta e Sebastião Rodrigues. Já conhecia José Cutileiro e, depois da inevitável extinção do Almanaque, só continuei a encontrar Cardoso Pires. Ao princípio remoto (eu andava pelos 18 anos), foi sempre de uma extraordinária generosidade comigo. Aguentou impassível uma absurda crítico a O Anjo Ancorado, que publiquei num jornal universitário. Perdeu um tempo infinito a discutir comigo, pelas tascas do Bairro Alto, como se devia, ou não devia escrever. E, num aperto, até me arranjou um emprego na revista Eva da Dona Carolina Homem Christo. Cardoso Pires resistia com grande orgulho e grande coragem à miséria a que o regime o condenava. "Eles querem dar cabo de mim, mas não dão", costumava avisar o universo nos dias de fúria. E não deram. Pouco a pouco, sem se perder no jornalismo ou na publicidade, chegou à única obra que reflecte com precisão o Portugal urbano da ditadura e do Estado Novo. A guerra e o pós-guerra "são" o Ritual dos Pequenos Vampiros e A Rapariga dos Fósforos; os anos 50, com a sua hipocrisia e "prosperidade", "são" O Anjo Ancorado (um prodígio de inteligência e subtileza); e O Delfim e parte de Alexandra Alfa a decadência do regime e o anúncio profético da sua queda. Pelo meio, claro, vieram livros de "ofício" e alguns fracassos, que naturalmente não o aumentam. O que não importaria se a desilusão do PREC e uma catastrófica passagem pelo Diário de Lisboa do PC, em 1975, não o houvessem paralisado como escritor. Antes de ele morrer, jantámos meia dúzia de vezes, com uma certa melancolia. Estava amargurado e, pior do que isso, como ele próprio insistia, estava "sozinho". O "Prémio Pessoa" ainda o consolou. Muito tarde. Ninguém como ele contribuíra para transformar o português literário, arcaico, rural e afectado, ou populista, académico e pseudo-lírico, numa língua moderna.»

Vasco Pulido Valente, Público

24.10.08

O POLÍCIA SINALEIRO


Tudo o que o sr. Lopes da ERC disse à Manuela Moura Guedes evidencia que se perdeu um bom polícia sinaleiro.

O VELHO PORTAS

O dr. Portas apareceu "cheio" dos seus votos nos Açores. Chamou-lhe "sondagem". Ficou tão contente que até antecipou o congresso do PP. Ora o "continente" não se mede pelos Açores. Portas, por mais congressos que faça, será sempre o mesmo Portas, em 2009, nas outras eleições. O velho Portas.

AVAL À CRISE

Parece que todos os bancos portugueses querem recorrer ao aval do Estado para o respectivo financiamento. Não perderam tempo. As bolsas caem de novo. A ameaça de recessão generalizada começa a ser uma realidade. O que nos vale é que temos um 1º ministro que aparece a falar disto atrás de um palanque que diz "150000". Isto promete.

É DA VIDA

Segundo o Público, Obama "já" tem três vezes mais apoios declarados de jornais norte-americanos do que o velhinho e a sra. Palin. Nalguns países como os EUA é vulgar isto acontecer. Por cá, são mais "sofisticados". Usam aquela língua de pau da "redacção única" (na feliz expressão de Carrilho) que acaba por ir dar ao mesmo. Pelo caminho, moem e trituram metodicamente quem não está em graça ou deixou de estar. Nas redacções, os "delegados" das empresas de comunicação e da propaganda oficiosa "garantem" esta forma enviezada de "apoio" e de "desapoio". Mais do que uma questão de "transparência", é uma questão de responsabilidade. Há sociedades, opiniões públicas e opiniões que se publicam mais responsáveis do que outras. Uns mais adultos do que outros. Uns menos pequeninos do que outros. É da vida.

COSTILHÉU


Foi pungente assistir, no debate balzaquiano das quintas-feiras à noite na SIC-Notícias, ao elogio que António Costa fez do antigo ardina do jornal República, em Lisboa, e actual presidente do governo regional dos Açores. Sobretudo quando Costa afirmou que conhecia muito bem a região autónoma. Logo ele que nem a uma inundação inesperada nas ruas da cidade que gere consegue responder.

23.10.08

O ESCRITOR CONFESSA-SE

«Os meus romances são muito meus. Não conheço nenhum autor que escreva os romances como eu os escrevo. (...) Sinto-me à vontade com qualquer género, o que importa é que eu e o leitor tenhamos prazer.(...) Construo o livro na minha cabeça e o problema é os meus dedos serem suficientemente rápidos para acompanhar as ideias que fluem da minha mente.» Não, não é Hugo, Flaubert, Dostoievsky, Roth, Clezio, Coetzee ou mesmo Rosa Lobato Faria. É apenas Rodrigues dos Santos em delirante auto-retrato. A avaliar por esta fantástica "percepção" de si mesmo - do seu "prazer", da sua "cabeça" e dos seus "dedos" - JRS ainda um dia fará literatura a partir do leite derramado nos calhamaços que deposita periodicamente nos supermercados. Por enquanto não.

DE OLHO NA CAIXA FORTE

É preciso colocar em letras garrafais o nome dos senhores ex - administradores da Gebalis, em Lisboa, não vá dar-se o caso de os "reciclarem" um dia destes. Francisco Ribeiro, Mário Peças e Clara Costa usaram dinheiro público para propósitos que nada tinham a ver com o propósito da Gebalis. «O prejuízo causado totaliza 200 mil euros, gastos em viagens, refeições (no Gambrinus, Bica do Sapato, Porto de Santa Maria, etc.) e artigos de luxo. Sublinhar que 200 mil euros corresponde a 40% do subsídio anual atribuído pela Câmara de Lisboa à Gebalis. Um dos arguidos comprou duas canetas Mont Blanc, uma no valor de 1700 euros, outra no valor de 990. A única mulher do trio fez quinze viagens ao estrangeiro, num período de 20 meses, gastando nelas 34 mil euros (2267 euros por viagem). O senhor das canetas só fez três, nas quais gastou 6600 euros (2200 cada). O outro fez quatro, tendo gasto 1900 euros nos passeios, o que não deixa de ser um extraordinário exemplo de contenção de despesas.» Há gente presa, ameaçada de prisão ou com "medidas de coacção" por um mil avos disto. Ora isto, para usar a linguagem de Reinaldo, é "pretralhismo" à portuguesa. No caso doméstico, é a fusão de um português com um "metralha", "dos Irmãos Metralha, sempre de olho na caixa forte do Tio Patinhas", o cofre público. Se vasculharem com método, verão que o que não deve faltar por cá é destes. Os de olho, mão e o resto na caixa forte.

O OE

O orçamento é um falso tema. Porque, a cada dia que passa, o orçamento altera-se. Ainda agora houve um "retrocesso" em matéria de financiamento dos partidos - aliás, o OE era mesmo o documento indicado para abordar o "problema" - no sentido de "deixar estar como estava" por causa das confusões e do engº Cravinho ao telefone, nas televisões, a a debitar sobre corrupção. Isto é, o orçamento desactualiza-se a cada dia que passa e ainda nem sequer passa de uma proposta. Quando entrar em vigor, já não é nada daquilo que provoca hoje tanta tagarelice. Só que, nessa altura, quando interessar, ninguém falará dele.

O "CONTEXTO" DO REGIME



«Só entre nós é que um político como Pedro Passos Coelho, com anos de tácticas e habilidades, à frente de uma juventude partidária, aparece, de repente, como um "renovador" encartado, capaz de refrescar a imagem do PSD.» A frase é da minha amiga Constança Cunha e Sá e sim, escusam de o notar, é retirada de um "contexto". O "contexto" é, no caso, o PSD mas pode aplicar-se a todo o regime. A "tese" da autora - e a realidade não a desmente - é que temos isto entregue aos mesmos há mais de trinta anos. Reciclado por "estágios" vários, cá ou lá fora, o regime pertence a uma pequena nomenclatura que só, pelos vistos, a morte natural afastará da tentação permanente de nos pastorear ou de nos indicar o "caminho". O raciocínio da Constança, aliás, serve para todas as "elites" nacionais. Um país de anões morais em praticamente todos os sectores só pode gerar... mais anões. Por isso, e ao contrário de quase toda a gente, não vejo mal na andança de Santana Lopes "por aí". Ele não caiu do céu. Caiu directamente do regime para onde entrou mal lhe apareceu a barba. No dia em que a história contar e não apenas o folclore da circunstância, ver-se-á o que é que fez mais mal ao país. Se os seis meses de Lopes mais a sua intermitência camarária, ou os dez anos (já descontei a "direita") do PS de Guterres e de Sócrates. Os de Cavaco "mudaram" forçosamente um país com décadas de atraso. Fez-se, com a Europa, o básico. Os do PS, com o devido respeito pela excelente imprensa e pela propaganda, mudaram exactamente o quê?

22.10.08

EM REGIME DE COIRATOS

No dia seguinte à jantarada de leitão "oferecida" aos camaradas pelo Candal Júnior, em Aveiro, apareceu Sócrates. Foi defender o orçamento junto dos seus fiéis deputados. Qual Vasco Gonçalves em Almada, em 1975, o 1º ministro deu a entender que não há "alternativas" nem "terceiras vias". Onde Vasco dizia que, ou se estava com a revolução, ou se estava contra a revolução (isto era, com ele), Sócrates abre os braços do Estado para decretar que estamos todos sob a sua magnânima protecção: "neste momento, todas as famílias precisam da ajuda do Estado". Isto é, dele. Daqui até Outubro de 2009, com ou sem leitão, é o que há. Vai-nos sair do coiro.

O REGRESSO (MODERADO) DO PETRALHISMO OU "O INDEXANTE DE APOIO SOCIAL"

«A proposta de Orçamento do Estado para 2009, apresentada pelo Governo, prevê que os partidos recebam donativos em dinheiro, sem ser por cheque nem por transferência bancária, pela primeira vez desde 2005, mudando a actual lei de financiamento dos partidos políticos (...) Na parte que se refere a donativos singulares, o Orçamento de Estado deixa cair a expressão de que “são obrigatoriamente titulados por cheque ou transferência bancária”. A proposta do Governo refere que deverá haver “a obrigatoriedade dos partidos apresentarem os extractos bancários de movimentos e da conta de cartão de crédito”, o que permitirá não revelar a proveniência dos dinheiros que os partidos políticos recebam em numerário. No próximo ano há eleições europeias, autárquicas e legislativas.»

PORTUGAL PEQUENINO

«É sempre assim: há crise no mundo, e logo os portugueses se declaram em situação de "oásis". Com os centros comerciais ainda abertos e o Governo entretido com as casas decimais de uma estagnação subitamente lisonjeira, a tribo inteira tem-se juntado à volta dos seus velhos ídolos para gozar a versão ao contrário da fábula da cigarra e da formiga. Onde estão agora as Irlandas aplicadinhas e trabalhadoras que nos diziam para imitarmos? Esses países que andavam no topo de todas as boas tabelas onde nós aparecíamos em baixo - onde estão eles, esses "modelos", essas formigas, que durante tanto tempo nos fizeram sentir cigarras no Inverno? Estamos vingados. Imagino que no Chade ou no Burkina Faso sintam o mesmo. Porque também eles, na crise actual, são "oásis". Mas não são oásis só agora, nos maus tempos. Também já eram oásis antes, nos bons tempos. Como nós. Se a recessão vier, será certamente menor em Portugal do que na Islândia, na Irlanda ou na Espanha, pela simples razão de que a prosperidade também foi. A economia mundial, nos últimos dez anos, cresceu como nunca. Houve países que apanharam o comboio - talvez de mais. Nós não. Por virtude e sabedoria? Não: porque não pudemos. A nossa pobre bolha estourou muito antes da dos outros, em 2001, e só o euro nos poupou um transe argentino. Não temos bancos em colapso. Mas também nunca tivemos bancos capazes de atrair poupanças de outros países. É verdade que um país pequeno não depende apenas de si próprio. É improvável prosperarmos quando todos estão em dificuldades. Mas o grande facto, nesta última década, foi este: empobrecemos relativamente quando tantos outros enriqueciam. Por isso, não se riam dos islandeses: é que eles, com mais razão, podem rir-se de nós.(...) Em 2005, os actuais ministros explicaram-nos que a solução para a nossa "crise" era o "crescimento". O que é que tem crescido em Portugal? Além do desemprego, o Estado. Bem sei que pelo mundo, durante as últimas semanas, muita gente voltou ao altar do Estado. Em Portugal, foi crença que nunca nenhum missionário liberal nos fez perder. Mantemos um dos Estados que, na Europa, mais gastam em relação à riqueza nacional e mais cobram atendendo ao nível de desenvolvimento do país. É talvez um óptimo mecanismo para tentarmos viver à custa uns dos outros, como dizia Frédéric Bastiat. Mas não se deveria ter notado já, se fosse também bom para criar ou ajudar a criar riqueza? A tragédia seria deixarmos o espectáculo da "crise financeira global" distrair-nos da nossa crise local - a crise de um país onde, nos últimos trinta anos, as pretensões reflectidas no "modelo social" aumentaram, mas as taxas médias de crescimento económico diminuíram. O contraste, como alguns já perceberam e todos já começaram a sentir, é insustentável. Há escolha, claro: ou renunciamos aos "direitos", ou temos de deixar de ser este oásis que só consegue acompanhar os outros a descer.»

Rui Ramos, Público

"TOCADORES DE TUBA" - 2


Um leitor chamou-me a atenção para a SIC- Notícias onde um bando de "comentadores" do regime falava do PSD, de Ferreira Leite e, inevitavelmente, de Santana Lopes. Vale a pena nomeá-los. Rui Tavares, a Avillez, a Sá Lopes, o Monteiro do Expresso e a pivot Lourenço. O Monteiro não sei o que é agora mas já foi PS anos a fio. É pena que a "direita" esteja representada pela Avillez (e um bocadinho pelo "centralão" do Monteiro) que já deu o que tinha a dar há muito tempo. E que a Sá Lopes esteja tão claramente "socratizada". Tinha-a noutra conta. O Tavares é um mero engraçadinho "intelectual" da esquerda patológica, praticamente recém-nascido, a quem a falsa direita do regime dá de mamar. No fundo, esta turma é apenas um upgrade dos costumeiros Delgado e Bettencourt, Bettencourt e Delgado. Patética.

21.10.08

CULPAS

Discordo desta mania presidencial de promulgar diplomas com "mensagens" a explicar que "sim, senhor, mas eu não concordo com isto ou com aquilo". O novo regime do divórcio seguiu esta "prática" inconclusiva. Até porque a esquerda patológica veio logo a terreiro acusar Cavaco de ser "conservador". Ou seja, Cavaco e os seus "valores" não ganharam nada com esta promulgação envergonhada já que serviu de pretexto para as habituais alarvidades dos "progressistas" caviar. Quanto à substância da coisa, já disse o que tinha a dizer. Protege os que mais "sabem" e prejudica os que menos "podem". Só que o mundo é dos espertos e dos "direitistas", isto é, daqueles que acham que apenas nasceram para ter "direitos". Daqui para diante é que a culpa vai mesmo morrer solteira.

MUDEM DE LINHA


Alguma blogosfera respeitável colocou-se literalmente "de quatro" perante esta prosa. Tudo o que ajude a "bestificar" Santana Lopes tem unção garantida no pequeno meio dos mesmos. Sucede que, tal como essa blogosfera perpetra, também eu posso lá ir buscar um naco dissonante que, em derradeira análise, "sirva" um propósito inverso. Basta ler o último parágrafo. Pasmo com o fastio que Santana Lopes, para já um outsider, desperta nestas uniformes criaturas. Não haverá, na nomenclatura do poder, ninguém - desde ministros a deputados, por exemplo, como o Candal júnior a anunciar leitões da Bairrada em Aveiro como um vulgar lateiro ou mesmo António Costa, o invisível edil lisboeta - que mereça a mesma atenção que dedicam a Lopes? Volto ao Reinaldo. Há "verdades oficiais" e há quem viva de "perífrases" delas. Santana Lopes é um belo "puxa saco" para o efeito-biombo construído por estes plumitivos. Mudem de linha.

ESQUERDA MODERNA NEO-REALISTA

20.10.08

"TOCADORES DE TUBA"


Interrompo a leitura do livro sobre os "petralhas" brasileiros, olho para a televisão, e que vejo eu? Os "petralhas" domésticos a tagarelar com a D. Campos Ferreira sobre "desenvolver competências" e o dr. João Soares, noutro lado, com ar de prisão de ventre, sem conseguir condenar a escandalosa ocupação de Alcântara, durante 27 anos, por contentores do tamanho de um prédio de quatro andares. Como é que há pachorra para aturar todos estes "tocadores de tuba" ?

MANUELA E A VIDA DAS PESSOAS

Ao contrário de Pacheco Pereira, Manuela Ferreira Leite, na TVI, recolocou as coisas nos respectivos patamares de relevância. Manuela não tem a obrigação de garantir todas as semanas um show televisivo. Nem tão pouco lhe compete alimentar a língua de pau dos jornais e dos "comentadores". Por isso, tão tranquila quanto convicta e responsável (dentro da contingência em vigor e do regime a ela sempre sujeito), a presidente do PSD, julgo eu, confrontou as pessoas que a viram com o não conforto da realidade. Sem tagarelices nem espectáculo. Manuela foi seca mas os tempos também correm secos. A felicidade oficial declamada permanentemente pelo 1º ministro, à mistura com a gravitas importada a que a crise obriga, precisa de abanões feitos com seriedade e não de programas de televisão. Santana Lopes chegará, se chegar, e quando for altura disso. Manuela demonstrou que tem pelo menos a consciência de que a verdadeira "quadratura do círculo" é, simplesmente, a vida das pessoas. Nada mais.

CONTRA A "CORRECÇÃO" UNIVERSAL

"Foi aliás Manuel Maria Carrilho quem chamou a atenção para uma espécie de redacção única na imprensa portuguesa...", refere, em comentário, José Medeiros Ferreira. É também por ser contra essa "espécie de redacção única" que cada vez mais se pratica nos media (no caso, brasileiros) que vale a pena ler o livro do jornalista Reinaldo Azevedo. Substitui-se uns nomes por outros nossos e o resultado é o mesmo. Um "manual" indispensável para perceber a "correcção" que tomou conta do mundo.

MANUELA, SEGUNDA VIA

Constança Cunha e Sá, uma alma nobre e generosa, regressa às entrevistas na TVI com uma "reprise", a dra. Manuela Ferreira Leite. Boa noite e boa sorte.

aPeSoado

Ao assistir, ao fim da tarde de domingo, a uma "demonstração cultural" daquilo que aqui tenho vindo a designar por regime, surgiu-me o título do livro que me comprometi elaborar para a nova colecção "Série Textos Breves", da Quetzal, e que procurará "comemorar", na sua fulgurante "diversidade", os quatro anos de poder absoluto do PS de Sócrates. Reinaldo Azevedo, no Brasil, intitulou o seu livro sobre o "lulismo" como "O país dos PeTralhas". Aqui, pela natureza dos protagonistas, talvez não fique mal "Portugal aPeSsoado". O que é que acham?

OS AUTONOMISTAS


Sensatamente, cinquenta e três por cento do eleitorado açoriano ficou em casa. O sr. Neves, enfastiado com tamanho desdém, foi-se embora. O lance continental daquela "figura que mudou Portugal", o sr. dr. João Bosco Mota Amaral, condenou o PSD à inutilidade tal como César, a seu tempo, fará ao PS quando lhe der para ser "importante" em Lisboa. O sr. César e a sua rapaziada - toda, aliás, muito bem distribuída pelos lugares que contam- podem assim continuar a pastorear as ilhas por mais uns anos. Eles são todos muito "autonomistas" até se fartarem da "autonomia". É tão simples quanto isto.

19.10.08

EXPLICAÇÃO TERRENA

Em toda a parlapatice que se tem escrito sobre a eventual recandidatura de Santana Lopes à CML, ainda não vi exposta uma explicação mais terrena. Porventura os "estudos" revelam que a hipótese Lopes não é assim tão absurda. E que a opinião sobre o incumbente Costa não é assim tão favorável como se possa imaginar.

NINGUÉM MORRE CONTENTE CONSIGO


«Somos prisioneiros de uma absoluta misericórdia, tanto mais inexpugnável quanto mais a supusermos anónima. Isto nos devia tornar humildes, não como cães da vida, por temor do castigo ou avidez de alimento, mas por fidelidade ao silêncio terrestre que de todos os lados nos excede. Quem se olhou a fundo sabe que coisa alguma da sua vida, o pior ou o melhor, dependeu totalmente da sua vontade. Colaborámos, bem ou mal, mas fomos excedidos. Talvez por isso, espécie alguma de homem me é mais estranha que os contentes de si, ricos do espírito e fátuos do coração. Mas é-me necessário compreendê-los para não ficar prisioneiro de um contentamento próprio ainda mais profundo. De resto, tal propósito é igualmente fátuo. A mesma mão que nos cega levantando a sua pressão nos libertará. Ninguém morre contente consigo.»

Eduardo Lourenço, Fragmentos de um diário inédito, Prelo, Maio, 1984

DINOSSAURO EXCELENTÍSSIMO

«Saramago é uma relíquia. A relíquia de um mundo que nos custa a acreditar que tivesse existido. Mas, mesmo assim, tal é a força do delírio que ainda nos consegue arrepiar. Sem saber que a personagem é hoje inócua e está num rochedo qualquer do Atlântico ninguém conseguia chegar ao fim [de uma «prosa reminiscente dos bons tempos do genial Estaline, quando o Avante! descrevia os camaradas desviacionistas ("titistas", se não me engano) a jogar fortunas no Casino do Estoril, enquanto as mulheres, cobertas de jóias, andavam em orgias por palacetes, espezinhando o povo trabalhador com a sua imoralidade e a sua soberba.»] O fanatismo excede o tolerável.»

Vasco Pulido Valente, Público

RIVE DROITE

Por sua vez, o Corta-Fitas teve uma "cisão" monárquica. Duarte Calvão, João Távora e Cunha Porto debandaram. Em compensação, o blogue ganhou uma "escritora" portuguesa contemporânea. Era mesmo, aliás, o que o país estava a precisar. De mais uma "escritora". E dada a "aforismos". É de esperar o pior.

RIVE GAUCHE

A "esquerdalhada" blogosférica - a "montes de bem" e "correcta", naturalmente - tem novo colectivo que ainda não percebi se acumula com este ou se se zangaram uns com os outros. Por este andar (e pelo andar dele), ainda correm o risco de ter o prof. Freitas do Amaral como colaborador.

Adenda: Bonita homenagem ao Variações, um rapaz do meu tempo.

A NOMENCLATURA DO CÍRCULO -3

«No fundo, Manuela Ferreira Leite sabe que Santana faria melhor figura que os Searas e os Negrões, como também sabe que não tem generais para esta guerra.»

Eduardo Pitta, Da Literatura

UM AÇORIANO


Nesse "jogo de expectativas e de decepções" que é a política - ouço-o da boca de Manuel Maria Carrilho - constato (quem é que nunca constatou?) que dela também não faz parte a gratidão. Fernando Madaíl, no Diário de Notícias, dedicou um artigo a "uma dúzia de açorianos que mudaram Portugal". Dos políticos, digamos assim, contemporâneos, Madaíl seleccionou apenas dois e monótonos: Mota Amaral e Jaime Gama. Isto no meio do Antero, de Nemésio, de Natália Correia, do futebolista Pauleta ou do músico Nuno Bettencourt. Com o devido respeito, creio que o jornalista se esqueceu de outro português nascido nos Açores a quem o país deve, no cargo então desempenhado de ministro dos negócios estrangeiros, o pedido formal de adesão à CEE. Chama-se José Medeiros Ferreira e apesar de ser um "homem de partido", como os outros dois, ao contrário deles manteve sempre uma liberdade de acção que lhe facultou um registo muito próprio e independente nos últimos trinta e quatro anos de vida pública. O que verdadeiramente obrigou a "mudar" Portugal foi esse gesto fundador "europeísta", inscrito no "código genético" do actual regime, independentemente dos juízos que se façam da evolução posterior, cá dentro e na Europa. Sem ela, no entanto, seríamos hoje seguramente ainda mais periféricos e absurdos do que já somos. Neste sentido, Medeiros Ferreira também é um açoriano que "mudou" Portugal.

18.10.08

DEBATE

Com Manuel Maria Carrilho - um dos poucos, dentro do PS, que ainda pensa pela cabeça dele - promovido pelo Clube dos Pensadores. Às 21.30, no Hotel Mélia Tryp Oriente em Lisboa. Tema: A política no séc XXI : Que valores? Que partidos? Que cidadãos?

ESTADO A QUE ISTO CHEGOU

«Pior ainda do que um mercado desregulado por falta de intervenção do Estado - que subitamente tanto preocupa Sócrates - é um mercado regulado pelo favor político do Estado, como sucede entre nós, de forma cada vez mais chocante.»

Miguel Sousa Tavares, Expresso

SIMIONATO

A NOMENCLATURA DO CÍRCULO -2

A habitual azia "santanista" de JPP (o lado bom da "força") passou para alguns comentadores do post anterior. No entanto bastou-me ver a RTP (a mesma RTP que merece, e bem, tanta atenção do JPP) para perceber o "sucesso" da diatribe de Pacheco na Quadratura. O telejornal de Rodrigues dos Santos passou parte das afirmações de JPP seguidas de imagens dos putativos candidatos à CML "indicados" por ele (Passos, Borges e Sarmento). A RTP até "esclareceu" que Passos, quando muito, aceitaria concorrer à presidência de uma remota assembleia municipal. JPP - este é o "ponto" que me interessa e tanto se me dá que o apreciem ou não - fez objectivamente um frete a António Costa enquanto irrelevante presidente e recandidato do PS a presidente da CML. E não ajudou um milímetro o seu partido com mais um monólogo "estratégico" sobre o diabo (o lado negro da "força"). Para além disso, não convém tentar o referido diabo. E se ele ganha, como Vasco Pulido Valente colocou, em hipótese, num canal ao lado?

Adenda: Apoie ou recuse Lopes, Ferreira Leite irá sempre a reboque, ora de uns, ora de outros, para as autárquicas em Lisboa. Se deixou que se soubesse que falara com o antigo 1º ministro sobre o tema, mais valia ter concluído publica e pessoalmente a "conversa" e não deixá-la a pairar na boca de terceiros. Desde JPP ao sr. Carreiras da distrital de Lisboa. O único que se tem portado bem nisto, paradoxalmente, é o pseudo-interessado.

Adenda 2: Ao introduzir o tema "Santana", Pacheco Pereira "desviou" as atenções da aparição de Manuela Ferreira Leite destinada a comentar o OE para 2009. Ninguém deu conta do que o PSD disse sobre a matéria porque havia no caminho a solene opinião de JPP sobre um seu companheiro de partido. Foi isso que sobrou para as televisões e para os jornais. Prioritário é mesmo o que JPP pensa, ao lado de António Costa, sobre Santana Lopes. O resto (e o resto é "apenas" a presidente do partido) é tido por maledicência da senhora em tempos de crise e de "união nacional" em torno de Sócrates.

17.10.08

A NOMENCLATURA DO CÍRCULO


Conforme previsto - e tomo por boa a informação do Pedro Correia - José Pacheco Pereira terá feito na Quadratura a "apologia anti-Santana". Todavia lançou, provavelmente sem se rir, três nomes para a mesa que partilhava com António Costa: a promessa Passos Coelho, o desconhecido Borges e o ginasta Morais Sarmento. Realmente, só por maldade, como sublinha o Pedro, ou por um vago sentido de humor negro é que qualquer uma destas aventesmas pôde ter emergido da boca do ex-presidente da distrital de Lisboa do PSD. Porque qualquer delas levaria a competente sova do colega de programa o qual, tudo o indica, chegará às eleições sem nada de especial que o recorde como edil. "Protocolos" para limpar as paredes do Bairro Alto, convenhamos que é pobrezinho para quem é "nº 2" do poder socialista. JPP esteve, pelos vistos, a coçar as costas de Costa. Daqui para diante, sempre que um papagaio qualquer fizer o mesmo a um qualquer outro membro da nomenclatura socialista, que dirá JPP?

«TEAM BUILDING»

Por João Miranda.

O DUVIDOSO VERTEBRADO

«O antigo líder do CDS Freitas do Amaral considerou ontem um "grande elogio" ser acusado por "adversários da democracia", como Marcelo Caetano, de ter contribuído para a sua consolidação, em vez de alinhar nos "golpismos de direita". A sua reacção surge na sequência da divulgação de um lote de cartas que Marcelo Caetano escreveu quando estava exilado no Brasil depois do 25 de Abril, e que serão leiloadas na próxima semana. Várias missivas endereçadas a um destinatário chamado António falam de Diogo Freitas do Amaral, então líder do CDS, a quem se refere como seu "antigo discípulo" e que se sentia decepcionado com ele. Marcelo classifica Freitas como "devoto de Salazar", segundo revelou ontem o Diário de Notícias. "Pelo relato que me foi feito, as figuras políticas mais atacadas nessas cartas são as do dr. Mário Soares e a minha própria, ao mesmo tempo que os nomes mais elogiados como sendo capazes de fazer regressar, por via militar, Portugal ao regime da Constituição de 1933 são os generais António de Spínola, Galvão de Mello e Kaúlza de Arriaga", referiu Freitas do Amaral à Lusa. Por isso, continuou, é "natural" que Marcelo Caetano se tenha sentido "desiludido" consigo. "Não lhe levo a mal porque estava profundamente deprimido no seu exílio no Brasil. De resto, sinto-me em muito boa companhia junto do dr. Mário Soares e considero um grande elogio ser acusado por adversários da democracia de ter contribuído para a consolidar em Portugal", acrescentou ainda Freitas do Amaral.» Reproduzo na íntegra a notícia do Público. Porque ela retrata perfeitamente a "dimensão" do ex-colaborador científico de Marcello Caetano, esse sim, um intelectual puro mas desprovido de talento e de oportunismo políticos. Um tipo que recusa a sua biografia tal como ele mesmo a escreveu sempre como quis - desde jovem procurador à Câmara Corporativa a ministro de Estado de um governo socialista - é um degradado da espécie humana. Uma das coisas que devemos a Mário Soares (duplamente, em 1986 e em 2005) é ter impedido este duvidoso vertebrado de ter sido presidente disto.

16.10.08

À MEDIDA DELE

O sr. Gilberto Madaíl, da FPF, apesar de ter deixado de pintar o cabelo, não melhorou a prestação geral. No fim de uns comentários sui generis sobre um jogo da selecção que ele abandonou por "motivos de ordem fisiológica" (sic), disse que pequenos resultados podem conduzir a uma pequena federação com menos dinheiro. Afinal, a uma federação à medida dele.

ESTE CÉSAR QUE OS RODEIA


Chego a casa, olho para a televisão e vejo o sr. César. O sr. César e a mulher de César, ambos nas ruas dos Açores em campanha. Os acólitos de César agitam bandeiras do PS e da Região Autónoma. Nem uma nacional. Depois César concedeu umas palavrinhas aos jornalistas. Disse que o do PSD era "impreparado" e que não podia governar. Também disse que sabia mais inglês do que o outro. César é, não sei se sabem, uma elite da nossa democracia. Os nossos papagaios continentais, sempre tão atentos a Jardim, não prestam a devida atenção a esta insuflada criatura. No domingo, ele e a sua senhora continuarão donos das ilhas, indiferentes ao que se passa em redor como se eles fossem o oceano. Os açorianos estão literalmente rodeados de César por todos os lados. Que lhes faça bom proveito.

O BOLHÃO MUNDIAL

A BOLEIA

Parece que José Pacheco Pereira vai aproveitar o seu "tempo de antena" na Quadratura do Círculo para desancar a hipótese Santana Lopes em Lisboa. Faz mal. O assunto ainda não deixou de ser "doméstico". Ninguém ouviu uma palavra a Ferreira Leite sobre Santana. Apenas linhas e "bocas" nos jornais. Por outro lado, na Quadratura senta-se António Costa, o mais do que provável opositor de qualquer candidato do PSD em Lisboa. Não é, por isso, o melhor lugar para fazer "doutrina". Seria, por exemplo, mais interessante JPP confrontar Costa com o "património disperso" de uma Câmara que ele "gere" à bolina e de forma medíocre. Todavia, Costa e Pacheco têm um "laço" que vem de Loures, de umas frustradas autárquicas para ambos. Foi o tempo do burro e do Ferrari, uma corrida idiota inventada por Costa para provar não sei o quê. O que importa, JPP, é V. não lhe dar, de novo, uma boleia à conta da sua azia "santanista".

UMA CRISE LENITIVA

«A par desta súbita conversão aos valores do socialismo, o primeiro-ministro anunciou gloriosamente uma longa série de iniciativas: o exercício, que ganhou lastro, esta semana, com a apresentação parcial do Orçamento, nasceu há cerca de quinze dias, com o anúncio, na Assembleia da República, de três grandes medidas. De então para cá, a crise internacional transformou-se numa espécie de totoloto governamental: se, por um lado, permite disfarçar os problemas internos que nunca foram resolvidos, por outro, oferece condições únicas para abrir os cordões à bolsa e satisfazer, num ano eleitoral, os interesses dos mais variados sectores da população. Dos inquilinos aos senhorios, passando pelos funcionários públicos, pelos banqueiros ou pelos camionistas, são poucos os "privilegiados" do passado que não são agora recompensados pelos "privilégios" que injustamente lhe foram retirados. Em suma, a crise internacional acabou por ser o balão de oxigénio de que o Governo necessitava para fazer frente às próximas eleições legislativas. A crise dispensa uma remodelação, a crise esvazia os hipotéticos conflitos com o Presidente da República, a crise oferece uma vida nova para além do défice, a crise restabelece a autoridade do primeiro-ministro e a crise dispensa as críticas irresponsáveis lançadas pela oposição. Não foi por acaso que, na terça-feira, o Governo ficou a falar sozinho enquanto a oposição se arrastava pelo Parlamento, dependente de uma pen que "até o Magalhães abria" e de um documento "incompleto" que impedia qualquer análise sobre o Orçamento. Isso só foi possível porque este Governo, determinado e corajoso, tem uma estratégia para o país que não se compadece com derrotismos perniciosos.»

Constança Cunha e Sá, Público

15.10.08

AS FÚRIAS COMPLACENTES


Se tivesse sido com ele...

O ESTRANGEIRADO CÁ DENTRO


Por melhor que seja o convidado desta noite de Mário Crespo*, no Jornal das 9 da SIC-Notícias, nenhum chega aos calcanhares da "língua de prata" de Henrique Medina Carreira. Apesar de dizer mais ou menos a mesma coisa há muitos anos, nada disso, porém, lhe retira a razão essencial. E a razão essencial é que vivemos num "reino fantasioso" há muito tempo. Saímos do "cadaveroso" para o "fantasioso" sem verdadeiramente termos abandonado o primeiro, designado por Ribeiro Sanches. Medina Carreira é dos poucos que tem a coragem de fazer contraponto permanente ao nosso contemporâneo irrealismo. É um "estrangeirado" cá dentro.

Nota: Link para a entrevista. Imperdível.

*O entrevistado é António Nogueira Leite. Foi secretário de estado de Pina Moura e agora parece que é "guru" da promessa Passos Coelho. Vou passear o cão.

A MAÇADA

Por coincidência, depois do estardalhaço com o conteúdo da famosa "pen" que se destina, comme ils disent, a "responder às dificuldades internacionais" (como se a "resposta" estivesse numa "pen" portuguesa), as bolsas regressaram rapidamente à realidade. Isto é, estão em perda. Uma maçada esta realidade.

A "PEN" OU A SAÍDA SUPREMA


O serão "público" de terça-feira girou em torno de uma "pen" que alegadamente foi entregue ao dr. Jaime Gama. A "pen" contém o OE para 2009 e meio regime dedicou o dito serão a "descodificar" a "pen" que, tanto quanto percebi, só hoje será aberta. Ou seja, entre as 18h30 e o início da madrugada, a opinião que se publica e fala não tratou de outra coisa. Só um homem, Medina Carreira, se "ofendeu" por Mário Crespo o ter convidado para abordar o conteúdo de uma "pen" que ninguém abriu. E sugeriu (adequadamente) que os espectadores já deviam estar fartos da conversa suscitada pela "pen". O tema, aliás, merece esta frase de Eduardo Lourenço subtraída ao livro (significativamente) intitulado "Destroços":«ninguém melhor do que nós para transfigurar as situações sem saída na saída suprema.»

14.10.08

VENTRÍLOQUOS

O sr. Peres Metelo, mesmo sem saber o conteúdo exacto do OE, já está a fazer propaganda barata na TVI. Sócrates nem precisa de abrir a boca. Os seus ventríloquos estão por todo o lado.

NÃO FAÇA PESO


Há duas ou três semanas, na RTP, Marcelo disse que Santana Lopes seria uma boa escolha para a CML. Esta semana preferiu dizer que, quer Santana, quer Costa, o incumbente, teriam dois mandatos "inconclusivos" pelo que podiam perfeitamente enfrentar-se em igualdade de circunstâncias. Agora, parece que no semanário Sol, o mesmo Marcelo terá considerado a eventual selecção do ex-primeiro-ministro como a pior decisão do interregno "manuelino". Julgo que conviria ao PSD saber o que pretende Marcelo. Tal como seria do interesse de Marcelo "conhecer o seu porto" sob pena de não apanhar bons ventos. A última intervenção na RTP - de respostas rápidas a perguntas ainda mais rápidas - revela que Marcelo já não gosta tanto daquilo como gostava. E que o "contrato" a termo certo, a terminar em Março, paira nos seus comentários. Se quer "política", força. Não impeça, porém, os outros de seguirem os seus caminhos. Parafraseando Sartre, deslize, Marcelo. Não faça peso.

CLARA AJUDA

Disseram-me ao almoço que a sra. dra. Clara Ferreira Alves - a do "eixo",da SIC e do interminável pastelão soarista na RTP - está no gabinete do dr. Pinto Ribeiro, o ministro da cultura. Nem a suposta "clarividência" da dra. Clara e dos seus amigos das "produções fictícias" conseguiram alterar o desempenho do ministro. Sócrates (alguém que ela aparentemente execra) teve, aliás, manifesta má sorte com os dois ocupantes da Ajuda. Os seus ministros da cultura, juntamente com mais um ou outro, constituem o verdadeiro "mal do eixo" governativo. Em boa verdade, Pinto Ribeiro nem chega sequer a ser mau. É praticamente nada.

13.10.08

O PAÍS DA MARGARIDA

«Que me lembre, ao ler os últimos vinte anos da literatura portuguesa (cada um tem as suas fontes), há muito glamour e dívidas aos bancos, viagens ao Índico e a Nova Iorque, casas copiadas das melhores revistas de arquitectura e um linguajar que nos não pertence. Mas não há portugueses modestos, pequeno-burgueses, daqueles que vão à pesca e sonham em passar uma tarde na Ericeira ou em Mira. Todos sonham com iPhone e, segundo me diz o meu merceeiro, já houve quem fizesse reserva de Beluga para o próximo Natal, porque não está para «os problemas do ano passado». Razão tinham os pessimistas de serviço quando Guterres repousava sobre aquele retrato de portugueses a passar fins-de-semana no Algarve e a encher as lojas de telemóveis. Estava escrito.»

Francisco José Viegas, A Origem das Espécies

O DR. BORGES


O dr. António Borges é um mistério. As suas intervenções públicas, nitidamente para consumo de iniciados, não chegam ao "povo". Mesmo assim, o dr. Borges insiste naquela língua de pau de quem sempre circulou pelos corredores financeiros nacionais e internacionais. Nesta matéria, aliás, era de se lhe exigir um módico de "luto" verbal. O dr. Borges, após porfiada dedicação, largou abruptamente aquele pequeno banco de investimento que dá pelo nome de Goldman Sachs. Nunca ninguém lhe perguntou porquê. O dr. Borges é vice-presidente do PSD da dra. Manuela. E dá ideia de ser o seu "porta-voz" para as finanças e para a economia, por sinal em total consonância com o prof. Teixeira dos Santos que desempenha bem o métier. Assim sendo, e como não consta que o dr. Borges tenha um átomo de talento político (isto é, relativo àquela "política" que Pacheco Pereira quer ver de volta), o que é que ele está a fazer na Lapa? Como é que o país, em suma, tem podido passar sem ele?

«O PAÍS DO FAZ DE CONTA»

«Quando esta crónica foi publicada na LER, recebi mensagens a perguntar que história era aquela de, em 1982, os portugueses terem dificuldade em comprar (sem esquemas pelo meio) whisky ou bacalhau. Agora que pus o texto em linha, novo coro de perplexidade. Como os e-mails não trazem agarrada a idade do autor, presumo que seja malta nova, habituada desde a puberdade a ver em qualquer hiper oitenta marcas diferentes de whisky, whiskey e bourbon, uma dúzia de espécies de bacalhau (seco, fresco e congelado), e por aí fora. Pois é. E não era só o whisky e o bacalhau. Era também o arroz. Exactamente: o arroz. Em Cascais, onde então vivia, a Casa Príncipe, o Fauchon lá do sítio — transformada em agência Nova Rede no tempo em que a Nova Rede engolia tudo; já não existe, o Millennium extinguiu o segmento Pobrezinhos —, arranjava embalagens “de agulha” para clientes habituais. Já não falo de artigos de luxo, como queijos e champanhes franceses, chás ingleses, chocolates belgas, salmão escocês e produtos similares, todos de importação, que hoje encontramos ao virar da esquina. Onde é que eu quero chegar? À crise actual. Hoje não temos uma crise cambial, mas contra a falta de liquidez pouco podemos. No fundo, para que serve a garantia de 20 mil milhões de euros dada ontem pelo Estado, na pessoa do ministro das Finanças, ao sistema bancário? Serve para garantir o padrão de consumo dos últimos vinte anos. Padrão de consumo em que o crédito à habitação tem parte de leão. No início dos anos 1980, quando o crédito à habitação ainda não tinha começado a “democratizar-se”, as condições de concessão tinham um código espartano: praticamente sozinha no negócio, a Caixa Geral de Depósitos não tinha pressa (com cunha, a coisa resolvia-se em 3 meses; o normal era o dobro), a situação financeira do interessado era esmiuçada, o montante concedido não excedia 80% da avaliação do imóvel, o prazo da hipoteca não excedia 20 anos, etc. Ninguém sem emprego estável (no Estado, na banca, em empresas públicas ou firmas sólidas) há pelo menos 10 anos... se atrevia a pedir um empréstimo. Depois foi o bodo aos pobres. Nos últimos seis ou sete anos, gente desempregada, ou com emprego precariíssimo, fechou empréstimos em 48 horas para comprar andares com pavimento ondulante, lareira de granito, banheira de hidromassagem, tectos estucados, cozinha hi-tech, luz regulada, vidros duplos, estores eléctricos, garagem para dois carros, etc. Pais que na véspera se queixavam do desemprego da Xana ou do João, taditos, «tiraram relações internacionais e não arranjam nada», gabavam-se no dia seguinte do T3 que a Xana ou o João tinham comprado em Telheiras ou no Parque das Nações, não por irem constituir família, mas por terem direito... à sua privacidade (ou seja, à queca do fim-de-semana). Ouvi conversas destas até à náusea. Receio bem que este padrão tenha de mudar. Porque se o aval de 20 mil milhões de euros servir para garantir o país do faz de conta, então caminharemos alegremente para o abismo.»

12.10.08

O "ROLHA" EUROPEU


Cada vez que há uma reunião "europeia" ou de um "G" qualquer coisa, paira lá pelo meio a gravitas do dr. Barroso. Quem olha para ele e o ouve, tem alguma dificuldade em imaginar que aquele resoluto europeu, reluzente entre os grandes deste mundo, abandonou cobardemente a sua pequena embarcação doméstica a meio da navegação. Mais. Assistimos impávidos aos palpites que a criatura debita sobre as questões que moem o mundo e a Europa, em particular, como se falasse um oráculo. Esta "parte" do dr. Barroso não me impressiona nem comove. Porque não o consigo separar da outra. O dr. Barroso é o directo responsável pela presente condição da direita portuguesa. Condenou-a, por causa da sua extraordinária pessoa, à irrelevância por muitos e fartos anos. Mesmo na "parte" europeia, é de uma banalidade confrangedora, embora, por causa do "ambiente, tenha caído no goto do tontinho do Bono. Nisso, ele é mestre. "Agarra-se" bem ao que "está a dar" mesmo que fique, como sempre fica, pela superfície. O dr. Barroso, na sua empáfia, é o nosso "rolha" europeu. Faz bem pela vida. A dele, naturalmente.

SIEGFRIED


Em directo, na web. Aqui. Até cerca das 21.

O ESPLENDOR DE PORTUGAL


Perdoem-me as almas mais sensíveis, mas Saramago não me interessa nada. Já li do homem o que tinha a ler. E jamais me passaria pela cabeça dar atenção a uma conversa entre ele e a mulher, a fatal Pilar. O Expresso, o "diário da manhã" semanal do regime, dedicou-lhes ontem uma revista praticamente inteira. Parece que o confundem com o "esplendor de Portugal". Ao estado a que isto chegou, se calhar têm razão.

TRANQUILIDADE ETÉREA

«Talvez não fosse inútil imaginar como acabaria o país, se a recessão americana (hoje inevitável) durasse, por exemplo, meia dúzia anos; se a "Europa" se desintegrasse ou enfraquecesse; ou se a esquerda e a direita voltassem, por força da necessidade, às nacionalizações de 1975. Compreendo que estas coisas deprimem e que, pelo contrário, o casamento de homossexuais puxa muito mais pela parlapatice. Como as casas da câmara, o último episódio dos sarilhos de Santana, a ERC ou a cooperação entre o primeiro-ministro e o Presidente. Portugal continua numa tranquilidade etérea - enquanto a economia se começa pouco a pouco a desfazer e o caos se aproxima.»

Vasco Pulido Valente, Público

PATHOS E BATHOS DE UM REGIME


«É à política que se deve regressar e não ao Estado. É à política com a carga de liberdade que ela exige e comporta. É a política com insatisfação com os medíocres resultados e com a empáfia dos governantes. E é também à política, não tanto como ideologia, que é uma ideia mais do passado do que do presente, mas como filosofia, como história, como saber, como opinião e acção, com experiência, com toda a tríade do Logos, do Pathos e do Ethos, e com esse senso comum que tanta falta faz em momentos como este, em que nos querem enganar e muitos de nós deixamos.» Concordo consigo, JPP. Todavia, quer o PS, quer o PSD representam o que mais de desertificante existe em matéria de política em Portugal. No PS, Sócrates tem "talento" a mais. Um "Logos" aprendido na urdidura partidária constante, uma vida resumida à intriga de secção, de federação, de congresso e, finalmente, por um acaso da sorte, levada, pelo voto, a todo o país como o ouro tirado ao Reno pelo anão Alberich para vã glória dos Nibelungos. No PSD, Manuela tem "talento" a menos. Não é "política", isto é, não tem jeito para lidar com as exigências pantomineiras do momento. Não é "hábil" como o anão de Wagner. Dos três, só possui o Ethos o que, nos dias de hoje, vale nada. Como nunca lá esteve, não pode "regressar" à política. Isto é uma crueldade do destino? É. Só que aos mortais, como lembra Hölderlin, nada é dado de graça. É Pathos e Bathos juntos na "arena central". E não saímos disto.