Entrei por uns momentos numa capela "metida" num centro comercial. Demorei-me o suficiente para reparar na cruz. Simples, "moderna", a imagem eterna de Cristo crucificado impressiona-me sempre. Todo o sofrimento do mundo se condensa nessa imagem escandalosa e inexplicável de Alguém que se deixou abater pela impossível salvação do homem. Na sua inexpugnável solidão - "Pai, por que me abandonaste?" -, Jesus é o maior monumento de coragem que eu conheço. Consultei, porque estava aberta, a Liturgia (Mc 7, 14-23). Passo a citar. "E, chamando outra vez a multidão, disse-lhes: "Ouvi-me vós, todos, e compreendei. Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar. Mas o que sai dele, isso é que contamina o homem. Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça." Depois, quando deixou a multidão, e entrou em casa, os Seus discípulos O interrogavam acerca desta parábola. E Ele disse-lhes: "Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar porque não entra no seu coração, mas no ventre, e é lançado fora, ficando puras todas as comidas?" E dizia: "O que sai do homem, isso contamina o homem. Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfémia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem." Na linearidade luminosa e angustiada da Palavra, Jesus, sem querer, "responde" por antecipação ao "abandono" do Pai, penetrando até ao fim nesse coração de trevas que é o coração do homem. Não tenho a certeza de ter saído melhor dali.
2 comentários:
Oportuna citação...
Mesmo para os não crentes, ou crentes noutras "verdades", vale a pena, por vezes, meditar nestas palavras.
Obrigado pela oportunidade.
Talvez nos proporcione uma leitura diferente do miserável imbróglio dos famigerados cartoons...
Forneça-me um cotonette 1.º!
Enviar um comentário