24.2.06

INTERVALO E TENTATIVA

Um ano de depois da vitória de Sócrates, que tem sido feito dela? Eu falo de Sócrates e não do PS porque do PS espero pouco. É um velho conhecido de sempre. Porventura mais “modernizado”, com rostos de uma outra geração misturados com vetustas relíquias, o partido do poder não apresenta mais sinais de maturidade do que no passado. Nem ele, nem, aliás, os restantes das oposições. Sócrates, sucedendo ao descalabro político e pessoal de Santana Lopes – e à medida que o tempo passa percebemos que foi muito mais dele do que exactamente do seu governo -, emergiu com uma auréola radiosa por detrás da sua inexpugnável frieza. É essa ambiguidade luminosa que lhe permite passar praticamente despercebido por entre os escolhos. Por exemplo, Campos e Cunha nunca foi devidamente explicado e Freitas do Amaral nem sequer tem explicação. E ninguém pede explicações. Enunciações bombásticas perdem-se na agenda mediática e os milhões dos “projectos” no foguetório de sessões públicas de luxo. Como outros do passado e do mesmo lugar que Sócrates ocupa, ele é seguramente melhor que o melhor dos seus pares. De uma forma geral, a sua geração política tem sido decepcionante. Por perto, espreitam mandarins de aparelho que ameaçam as melhores intenções. O voto em Sócrates, no momento em que foi proferido, significou duas coisas: remover Santana Lopes para o “recobro” político – voltará, é certo, e deve voltar – e fornecer um sinal para que se fizesse o que tinha de ser feito. Aqui Sócrates tem funcionado por “intervalos e tentativas”. Não tanto por sua culpa, como por falta de densidade política de alguns que o cercam. À “violência” formal de determinados arrojos, não corresponde, as mais das vezes, substância. Não se “muda” ninguém contra a sua vontade e o Sócrates “humano” é a melhor evidência disso. Para avançar, é preciso romper. Mais tarde ou mais cedo, para Sócrates poder avançar, terá que introduzir rupturas na desalinhada “estrutura” que o acompanha. Só assim não será interrompido.
(publicado no Independente)

5 comentários:

Gaspar LDVS disse...

“Não é habilidade nenhuma ser compreensível a todos quando se desistiu de todo o exame em profundidade” - KANT

Gaspar LDVS disse...

VIVA SÓCRATES!

ARV disse...

Em que medida poderão os partidos políticos (todos eles) dar mais garantias do que movimentos cívicos? Não será certamente pela organização, vistas as coisas como estão... Pior é difícil.

Anónimo disse...

Nunca gostei de Santana Lopes o que não me deixa esquecer que o têm julgado por quatro meses de governo, depois de ter sido enganado pelo ainda PR, que só o aceitou para dar tempo a que Ferro desse lugar a outro para então lhe tratar da saúde.
O Socrates é o que é: convencido, com certezas inabaláveis (só os ignorantes são assim) e que, quanto a mim, está com uma enorme falta de pontaria no estabelecimento de prioridades, o que pode ser grave face à escassez de recursos, a menos que continue a tosquiar a carneirada, poupando os maiorais, como tem feito até aqui.

Anónimo disse...

... começa o seu artigo assim
"Um ano de depois da vitória de Sócrates, que tem sido feito dela? Eu falo de Sócrates e não do PS porque do PS espero pouco"
... como é possível esperar algo de "Sócrates" e nada do "PS"?
... quando o 1º é dirigente do 2º
... o 2º tem o rosto do 1º
... o 1º anda a reboque do 2º

... e, continua
"É um velho conhecido de sempre"

... pois, mas os "velhos conhecido de sempre"
... são os que por vezes mais nos desiludem!!!
... e, então nestes contextos
... Sabe concertaza o que é a política e, a necessidade de poder!!!!

"a tal anónima "