Antes de passar para o canal Fox Life para consumir a minha dose diária de "Will & Grace", crivaram-se-me ontem os olhos numas moças portuguesas que queriam casar. Uma com a outra, naturalmente. O argumentário é conhecido e o nosso colega Grave Rodrigues compôs o ramalhete jurídico. Também o António me ajudou a reflectir: "a temperança não pode ser a prioridade portuguesa nesta altura". Segundo percebi, o homem da conservatória, firme e hirto como mandam a lei e os costumes, deu um "tempo" a si próprio para "fundamentar" a decisão previsível de não casar as referidas moças. Até Alberto Costa, o ministro, apareceu a dizer que a conservatória deve aplicar a lei civil com toda a diligência, concluindo igualmente pela inviabilidade do "sonho" das criaturas. Já por várias vezes exprimi aqui a minha desconfiança em relação ao instituto jurídico do casamento. Estranho a intervenção de um papel nas relações íntimas entre duas pessoas. Julgo que o essencial dessas relações nada tem a ver com a forma. Não é por muito mendigarem um "casamento" civil que a "Lena" e a "Teresa" alteram a natureza das coisas. Quer a natureza propriamente dita, quer a natureza do seu respeitável sentimento mútuo. Pelo contrário, este folclore mediático em que parece que participaram umas "dezenas de pessoas" que nada têm a ver com a relação das raparigas, só contribui, aos olhos da opinião pública (pense-se dela o que se pensar), para apoucar a pretensão. Em matéria de relações entre pessoas, sejam elas quais forem, eu sou um privatista impenitente. Defendo a tutela jurídica de situações confirmadas pelo tempo, todavia não me comove a ideia do casamento para as "proteger". Já é suficientemente má para os chamados heterossexuais, como todos os tribunais por esse país podem confirmar sem necessidade de certidão passada. A apetência por mulheres, por homens ou por ambos resolve-se normalmente entre quatro paredes. Incomoda-me tanto a exibição pública da "homossexualidade" como da "heterossexualidade". Detesto o associativismo sexista, seja de que “lado” for, bem como a retórica da discriminação. Julgo, aliás, que a pulsão anti-segregacionista é negativa. Há pessoas que adoram espremer por aí a sua "diferença" e exibi-la como um troféu. Não é pela pilhéria e pelo mau-gosto que se consegue ser respeitado. É, sobretudo, não tentando chamar frivolamente a atenção para a circunstância de que existem "diferenças" onde elas manifestamente não devem existir. Nesta matéria, mais vale, no “corpo” e no “espírito”, viver apenas o lado privado da vida de cada um.
6 comentários:
... 100% de acordo
meu caro,
essa é a sua posição pessoal.
tal como eu a respeito, respeito também a posição da lena e da teresa.
no meio disto, qual o papel do estado? deveria ser imparcial e aceitar de forma indiferente ambas as opções. é o que acontece? não.
Completamente de acordo!
O casamento entre heterossexuais
foi instituído como um contrato que o poder patriacal instituiu para apoucar a Mulher e sempre que dava jeito tê-la como moeda de troca.Ora a comunidade homossexual que se reclama e se orgulha no seu direito à diferença deveriam usar de mais imaginativas formas de legalizarem as suas assumidas relações cujos direitos ninguém lhos nega.
Concordo com o João: "mais vale viver no corpo e no espírito,o lado privado da sua intimidade".
No meio de tanto privatismo eu só pergunto: de quem é a casa, ou quem fica com a casa, onde tais privacidades se exercem?
I couldn`t agree more...
Casamento de lésbicas recusado
Conservador disse «não». Com o argumento de que o Código Civil só permite casamento entre pessoas de sexo diferente. Advogado já entregou recurso. Próximo passo é o Tribunal Cível:)
Zebu
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