"DUAS CANDIDATURAS QUE AINDA NÃO POUSARAM: A DE CAVACO E A DE SOARES. Cada uma com o seu dilema, quer a candidatura de Cavaco quer a de Soares têm margens de resultados estreitos e podem perder muito ou ganhar muito no tempo que falta. Cavaco precisa de passar à primeira volta, e isso exige um enorme esforço de mobilização. Não se trata, no seu caso, de ganhar mais votos, mas sim de não perder os que conquistou, principalmente a favor da abstenção. Da capacidade de mobilização do seu eleitorado depende muito a conquista da presidência à primeira volta. Soares, por seu lado, precisa de dar tudo por tudo não só para ultrapassar Alegre, o que parece estar adquirido, mas para obter o mágico número que lhe permitirá ir à segunda volta. E aqui as coisas parecem muito mais complicadas.(...)
SOARES VAI SAIR MAL DESTAS ELEIÇÕES. Mais do que uma dúvida, parece-me uma quase certeza. Soares está a fazer tudo para sair muito mal de uma eventual derrota eleitoral. Está a conduzir uma campanha agressiva, ressabiada, sem dimensão de qualquer tipo, nem de Estado, nem política, nem pessoal. Se perder, será uma derrota entendida como humilhante, que ensombrará o fim da sua carreira política.Mas, a prazo, talvez a derrota que parecerá humilhante agora possa vir a dar uma dimensão trágica à sua vida política. Como Churchill, Soares concorreu à eleição fatal que o fará passar à história com uma imagem de perda e não de glória. No entanto, como Churchill, a prazo, é o seu perfil de político compulsivo, de "animal político" que ganhará uma luz mais humana, mais apaziguada e compreensiva. Os seus muitos defeitos, o muito de negativo que indubitavelmente mostra nesta campanha será episódico, face à imagem que entrará na história, onde ele tem um lugar garantido. Porque esta campanha eleitoral é o fim da carreira política de Mário Soares com uma dimensão de inevitabilidade que nenhum sonoro (e falso) "basta" teria capacidade para dar."
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