O dr. Soares deu uma entrevista ao DN. Passei por cima dos clichés sobre Cavaco e sobre o umbiguismo do candidato. Há, no entanto, uma parte da entrevista à qual convém prestar alguma atenção. É justamente quando ele se refere a José Sócrates, primeiro-ministro e secretário-geral do PS. Passo a citar. "Porque é que é tão importante a presença de Sócrates na sua campanha? Não achava isso importante nem deixava de ser importante. Eu gostaria que o secretário-geral do PS estivesse com o candidato que o PS apoia. Mas percebo lindamente que o primeiro-ministro tenha que se resguardar em relação ao futuro. O senhor acusou Sócrates, há pouco mais de um ano, de ser um "neo-revisionista" e não ser de esquerda. Continua a pensar o mesmo? Eu enganei-me em algumas apreciações que fiz sobre José Sócrates, quando ele se apresentou à liderança do PS. Eu não o conhecia bem e enganei-me em algumas coisas e menosprezei algumas grandes qualidades que ele tem." Dito de outra forma, Soares continua a desconfiar de Sócrates, como desconfiava quando ele concorreu a secretário-geral do PS. Ao afirmar expressamente que gostava que o líder do PS estivesse "com o candidato que o PS apoia", mas que percebe "lindamente que o primeiro-ministro tenha que se resguardar em relação ao futuro", Soares não esconde a acrimónia com que olha para o "empenho" de Sócrates na sua candidatura. Nem tão-pouco o paternalismo político com que "avalia" o primeiro-ministro. A ironia "soarista" não é filha do acaso. Sócrates não é dado ao folclore e prefere a estabilidade governativa. Isso irrita sobremaneira Mário Soares. As coisas são, de facto, o que são. E não era aos 81 anos que Soares ia mudar.
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