6.1.06

A BEM DA NAÇÃO


Antes de prosseguir, adianto que sou amigo do António Lagarto. Na altura em que ele tomou conta do Teatro Nacional D. Maria II, a coisa mantinha, mais ou menos, as características que o distinguiam como tudo aquilo que um teatro, ainda por cima, nacional, não deve ser: o túmulo do Rossio, como, com manifesta felicidade, Vasco Pulido Valente lhe chamou um dia. Ainda não era formalmente director do TMDMII e já o António Lagarto punha aquilo a mexer. Com um pouco de imaginação, com sensiblidade e com uma gestão criteriosa dos dinheiros públicos, o TNDMII andou para a frente neste últimos dois anos. Ficou, por assim dizer, mais cosmopolita. Foi diverso e criativo e, em certo sentido, tornou fugazmente a viver. O "modelo SA" é discutível, mas o empenho de António Lagarto sobrepôs-se inteligentemente a isso. No entanto, o governo, pela mão do secretário de Estado, Mário Vieira de Carvalho - já que, tanto quanto sei, Isabel Pires de Lima nunca falou com o António - decidiu pôr lá o sr. Fragateiro, retirando-o da modéstia e do anonimato do Teatro da Trindade. E a prova de que o "modelo SA" é um disfarce sumptuoso, reside precisamente no facto de isto ser anunciado antes da realização da assembleia geral. De acordo com os habituais bons costumes do regime, Lagarto soube da coisa pelo jornal, embora os índicios fossem, desde há algum tempo, claros. Isto tanto quanto a transparente opacidade destes processos o permite. É pena que Pires de Lima se associe a este estranho revivalismo nacionalista de que foi acometido o seu secretário de Estado por interposto Fragateiro. Experimentem encher a Sala Garrett com o chamado "teatro nacional" ou com piroseiras afins - a quem ninguém, aliás, muito legitimamente presta qualquer atenção - e vão ver o que lhes acontece.

1 comentário:

Anónimo disse...

experimentem fazer um projecto do Teatro Nacional. Já agora experimentem políticas culturais não avulsas (existem em todos os países da Europa) e também experimentem TER PÙBLICO que é para isso que todos pagamos o Teatro Nacional.