«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
31.7.05
A MALDIÇÃO
COMEÇAR DE NOVO
30.7.05
DOIS LIVROS...
Israel e o Islão - As Centelhas de Deus e Ulisses e a Odisseia - A Mente Colorida
DANOS COLATERIAIS
"OTA É UM ERRO HISTÓRICO"
NA MESMA
DO "SPIN"
29.7.05
LER...
"UM DESTINO COMUM"
O BRAÇO DA D. MARIA JOSÉ
28.7.05
"PEDAGOGIA DE QUÊ?"
O anúncio da candidatura de Soares à presidência, preparado e calculado há bastante tempo, veio interromper a modorra da política ou reconduzir os caminhos da política para lá dos limites do défice. Os portugueses terão, agora, mais com que se preocupar. Vai ser uma festa. Uma fonte próxima de Soares declarou ao jornal "A Capital" que espera uma campanha alegre e com ideias. Em simultâneo. Vai ser uma festa. Outra fonte próxima mencionou também a necessidade de mais ideias. Portugal vai, finalmente, regurgitar de ideias graças às presidenciais. Vai ser mais do que uma festa, porque se trata, ainda de acordo com essa fonte, um "acto cívico e pedagógico". Eu compreendo que se trata de um acto cívico dos 35 anos em diante, um dos direitos dos cidadãos é o de poder candidatar-se à presidência da República. Mas não entendo a natureza pedagógica da candidatura presidencial. Admito que o dr. Mário Soares tenha coisas para dizer (o que faz, aliás, num programa de televisão) e que tenha, até, ideias para discutir; o regime deve-lhe bastante e essa dívida tem sido paga em reconhecimento, respeito, silêncio e também veneração - infelizmente, há quem ache que o respeito pelas suas ideias se deve confundir com o respeito pela sua idade, o que é lamentável e o deve desgostar bastante. Não encontro nesta candidatura "virtudes pedagógicas" maiores do que em qualquer outra. A sabedoria que se retira da velhice é boa para relermos Séneca, mas não deve aprisionar-nos quando se trata de política. O pior que se pode fazer a Mário Soares e à sua candidatura é manifestar-lhe o respeitinho moral que fará dele um bonzo da República ou uma velharia aceitável e comovente. Parte da Esquerda vê nessa candidatura a salvação; provavelmente, até Sócrates a acolhe com alívio, ele que foi publicamente humilhado por Soares (que lhe chamou a parte "menos feliz da herança guterrista, pela falta de firmeza nas ideias"): porque esta candidatura "cívica e pedagógica" é entendida como "supranacional" ou apenas "superiormente orientada para o mundo das ideias" (já ouvi isto e ninguém se riu). Evidentemente que é um erro - e grave - dizer que a idade é um argumento sério contra Soares. No país que tem cada vez mais a mania imbecil da juventude eterna, a velhice merece ser valorizada, mas não idolatrada ou desculpada. E a candidatura de Soares servir-se-á certamente da idade como um valor essencial do seu marketing vejam como o velho combatente regressa; vejam como ele se submete ao confronto; vejam como ele tem, aos 80 anos, coragem de subir ao ringue e de assumir este "acto pedagógico"; vejam como a sua experiência é um valor. E virão então as imagens nos tempos de antena da candidatura: o velho resistente ao fascismo; o republicanismo a reboque; o regresso do exílio; os tempos da luta contra os militares e os comunistas; a primeira eleição presidencial; as suas presidências abertas contra Cavaco, "o gajo"; a sua amizade com "intelectuais e artistas"; a sua participação nas manifestações contra a guerra; e essa biografia avassaladora, cheia de momentos sublimes, de vitórias e de discursos, será servida como um antídoto contra a política e, justamente, contra as ideias. As dele, talvez; mas, certamente, as dos outros. O que estão a fazer a Soares é transformá-lo no semi-deus da democracia. O que é, manifestamente, um perigo para todos. Talvez uma derrota eleitoral o faça descer à terra e ser humano. Nessa altura discutiremos ideias.
P.S. Votei uma vez em Mário Soares nas eleições para a presidência da República porque não queria a vitória de um candidato antiliberal (Freitas do Amaral). Era bom que as pessoas se recordassem desses tempos.
A CEDÊNCIA
UM LIVRO
AUTO-RETRATO
EMBARCAÇÕES PRESIDENCIAIS - 2
O VÉU
O "DONO"
27.7.05
A TEORIA DO PERIGO
JÁ REPARARAM...
O "MANIFESTO" - 2
EMBARCAÇÕES PRESIDENCIAIS
O "MANIFESTO"
SOBRE...
26.7.05
A "HONRA NACIONAL"
José Manuel Barroso, European Commission president, heads for the beaches of Portugal this week with warnings ringing in his ears to start showing some leadership. A year after he was confirmed in the job, Mr Barroso's stock has fallen sharply. The knives are out in some of Europe's main capitals, and his own team is becoming restless. The former prime minister of Portugal knows that after a year of crises he needs to return from the seaside ready to help lead Europe out of its profound malaise. Mr Barroso is not short of advice. At the end of June, in a private meeting in a spa hotel in Aachen, Gerhard Schröder, the German chancellor, told him to take charge. “It was a barrage of bullying,” said one observer, who claimed Mr Schröder told Mr Barroso he must stand up to Tony Blair, UK prime minister, who holds the six-month rotating EU presidency. “Schröder told him to show leadership, and not to work with Blair, whom he claimed was out to wreck Europe. To his credit, Barroso stood his ground and said he would work with Blair.” Criticism of his leadership also rings loud in the European parliament and among his own team of 24 commissioners, who claim he is a remote figure and has failed to get a grip on the Brussels machine. Peter Mandelson, the British trade commissioner and a liberal ally of Mr Barroso, expressed the frustration in a carefully worded speech in Brussels last week. “This coming autumn the Commission has got to be bold, it has got to get out on the front foot,” he said. “What we need is focus and impact.” Mr Barroso's problems are often ascribed to the series of political storms he has endured some self-inflicted over the past 12 months. But they also reflect the decline of the Commission once seen as a federal European government-in-waiting in the face of resurgent national self-interest in the 25-member club. Mr Barroso's last 12 months have been a political horror show. At the start, his choice of the highly conservative Rocco Buttiglione as justice commissioner was rejected by the European parliament. He oversaw a shambolic retreat over the Commission's plan to open the EU's market in services, a measure strongly opposed by protectionist forces in France and Germany. Even his summer holiday last year, on the yacht of the Greek shipping tycoon Spiros Latsis, turned into a public relations embarrassment: Mr Barroso was responsible for handling an EU inquiry into shipping cartels.
Portrayed as an “ultra-liberal” by Jacques Chirac, the French president, Mr Barroso was told to keep quiet during the doomed campaign for a Yes vote in the French referendum on the EU constitution. After Dutch and French voters rejected the constitution, sending Europe's flagship project up in flames, Mr Barroso worked behind the scenes as EU leaders grappled with the next European budget. But his public backing for a big increase in EU spending infuriated Mr Schröder, the union's biggest budget contributor. While these political setbacks have weakened him personally, the post of European Commission president has become more difficult. National leaders increasingly put domestic concerns ahead of the European interest. Many see the Commission as little more than a secretariat. As Mr Mandelson observed last week, most recent EU initiatives have been driven by member states, including the Lisbon economic reform agenda, co-operation in justice and security, and foreign and defence policy. Mr Barroso also faces an unprecedented additional problem: he is the first person to have secured his job without the full support of France and Germany. Instead his appointment crystallised Europe's ideological divide: Mr Chirac and Mr Schröder favoured Guy Verhofstadt, their Belgian ally, who shared their scepticism towards the US and “Anglo-Saxon” capitalism. But they were over-ruled by an Atlanticist coalition headed by Mr Blair and Silvio Berlusconi, the Italian prime minister, broadly in favour of liberal economic reforms and a wider EU. The Commission president at least realises the limitations of his position and that he has no choice but to work with member states a political reality never fully grasped by Romano Prodi, his Italian predecessor. Mr Barroso also recognises the need to slow down an EU legislative machine Mr Prodi allowed to spin rapidly; he believes Europeans want fewer EU laws, not more. “He sees his role differently to the paternalistic vision of the Commission in the past,” says one Barroso aide. “He is an honest broker, a facilitator. If he can work with our British friends, so much the better.” Aides believe Mr Barroso's “jobs and growth” agenda will win increasing support across Europe. Angela Merkel, the German conservative leader expected to win power in September, is an ally. An autumn relaunch is likely to revolve around the priorities of the British presidency, including a deregulation initiative under which Mr Barroso will axe a number of proposed laws. He will also try to resurrect the EU services directive and broker a deal on the union's budget. Whether he succeeds depends partly on whether he can win some support from France and Germany. He will also have to galvanise his own commissioners, some of whom complain they never see him and that there is a lack of collegiate spirit. Peter Sutherland, the BP and Goldman Sachs International chairman who coveted the post, called it “one of the most difficult jobs in the world”. Watching Mr Barroso's travails, he may now be glad that he was not tapped.
NÃO É...
EXISTÊNCIAS -2
AS ARMAS AO CANTO
EXISTÊNCIAS
VOLTAR AO ESSENCIAL
25.7.05
LER OS OUTROS
A BABOSEIRA DO DIA
LIVROS
De Miguel Sousa Tavares, Não te deixarei morrer, David Crockett, livro de crónicas e de "short-stories", reeditado pela Oficina do Livro, com outra "capa";
De Luiz Pacheco, o "clássico" Comunidade, da Contraponto;
De Donna Tartt, A História Secreta, de 1992, em boa hora "recuperado" pela Dom Quixote e pelo Círculo de Leitores.
ESTIMULANTE
DA DUPLICIDADE
24.7.05
O AVANÇO
"PUTA QUE OS PARIU"
POR QUE É QUE SERÁ...
BEM-VINDO, DR. SOARES
21.7.05
A ESCOLHA
INCÚRIA
20.7.05
O PUSILÂNIME
17.7.05
O AZUL
13.7.05
UM VERÃO ANTES DAS TREVAS
12.7.05
O REGRESSO DO GRANDE EDUCADOR
A VIA ESPANHOLA
11.7.05
PENSAMENTO DO DIA
10.7.05
PERGUNTA...
Por que é que na Administração Pública as regalias são cortadas a direito sem mais conversas e no Banco de Portugal tem de haver uma comissão de vencimentos em que quem representa o primeiro-ministro é ex-governador daquela instituição, ele próprio um dos beneficiados das mordomias locais? Se na Administração Pública as medidas são tomadas de um dia para o outro, qual o prazo dado ao Banco de Portugal para repor a verdade económica nas suas regalias? Se os direitos dos funcionários públicos podem ser retirados por iniciativa do Governo, porque é que o ministro das Finanças promoveu uma conferência de imprensa em moldes santanistas só para dizer que a sua pensão do BP é um direito adquirido, o que entenderá o ministro por direito adquirido?
DELÍQUIOS
RUÍNA SOBRE RUÍNA
9.7.05
LER OS OUTROS
SALDOS
8.7.05
REVISÃO DA MATÉRIA
7.7.05
MERECIMENTOS
6.7.05
VISIONÁRIOS
SÓCRATES, JULHO DE 2005
5.7.05
O "PRÉ-BETÃO"
4.7.05
4 DE JULHO
(Gore Vidal, Inventing a Nation - Washington, Adams, Jefferson, 2003)
O PAÍS ERRADO
A GRUTA DOS NADADORES
Eu era um homem quinze anos mais velho do que ela, está a ver? Tinha atingido essa fase da vida em que me identificava com os vilões cínicos dos livros. Não acredito na permanência, nas relações que duram anos e anos. Era quinze anos mais velho. Mas ela era mais esperta. A sua ânsia de mudar era maior do que eu pensava.
As palavras do marido em louvor dela não faziam o menor sentido. Mas eu sou um homem que em muitos aspectos da vida, mesmo como explorador, se deixou sempre guiar pelas palavras. Por boatos e lendas. Coisas registadas por escrito. Cacos com inscrições gravadas. O tacto das palavras. No deserto, repetir alguma coisa era como lançar mais água à terra. Ali qualquer pequeno cambiante significava um desvio de cem milhas.
Sou um homem que virou quase por completo as costas ao convívio mundano, mas às vezes sei apreciar a delicadeza de maneiras.
Esta é a história de como eu me apaixonei por uma mulher que me leu uma determinada história de Heródoto. Ouvi as palavras que ela foi desfiando do lado de lá da fogueira, sem nunca erguer os olhos, nem mesmo quando provocava o marido. Talvez fosse só para ele que lia o episódio. Talvez não houvesse na escolha outro motivo exterior ao casal. Era simplesmente uma história que a perturbara pela familiaridade da situação. Mas revelou-se-lhe de súbito um caminho na vida real.
Ela parou de ler e ergueu os olhos. Arrancando-se às areias movediças. Ela estava a evoluir. De modo que o poder acabaria por mudar de mãos. Entretanto, com a ajuda de uma historieta, eu apaixonei-me. Palavras, Caravaggio. As palavras têm o seu poder.
Sou um homem capaz de jejuar até ver aquilo que quer.
"Acho que te tornaste desumano", disse-me ela.
"Não sou o único traidor."
"Não me parece que te importe, isto que aconteceu entre nós. Passas por tudo de largo, com o teu medo e o teu ódio à posse, à ideia de possuir, de ser possuído, de ser nomeado. E julgas que isso é uma virtude. Eu acho que tu és desumano. Se eu te deixar, para quem é que te viras? Arranjas outra amante?"
Eu não disse nada.
"Diz que não, raios te partam."
Daqui em diante, segredou-me ela, ou encontramos ou perdemos as nossas almas. Se os mares se afastam, porque o não fariam os amantes? Os portos de Éfeso, os rios de Heraclito desaparecem e são substituídos por estuários de sedimentos. A mulher de Candaules torna-se mulher de Giges. As bibliotecas ardem. Que havia sido a nossa relação? Uma traição aos que nos rodeavam, ou o desejo de uma outra vida?
Todas as coisas que amei ou acarinhei me foram roubadas.
Morremos albergando em nós uma miríade de amantes e de tribos, de sabores que provámos, de corpos como rios de sabedoria onde mergulhámos e nadámos contra a correnteza, de personalidades como árvores a que trapámos, de medos como grutas onde nos escondemos. Quero tudo isto marcado no meu corpo quando morrer. Acredito nessa cartografia - quando é a natureza que nos marca, em lugar de apenas inscrevermos o nosso nome num mapa, como os nomes dos ricos nas fachadas dos edifícios. Somos histórias colectivas, livros colectivos. Não somos escravos nem monogâmicos nos nossos gostos ou experiências. Eu só desejava caminhar por uma terra assim, onde não existissem mapas. Levei Katherine Clifton até ao deserto, onde se abre o livro colectivo do luar. Estávamos no meio do rumor das nascentes. No palácio dos ventos.
3.7.05
UM PAÍS QUE TEM O QUE MERECE
"UNIDADES"
Existe todo um sistema de contabilização das contas públicas, existe uma direcção-geral do Orçamento e um Tribunal de Contas, e agora vem Guilherme d'Oliveira Martins [Correio da Manhã / Recortes de Imprensa] propor a criação de uma “unidade técnica independente de acompanhamento de execução orçamental”; proponho desde já a criação de uma outra unidade, a unidade técnica de acompanhamento da unidade técnica independente de acompanhamento de execução orçamental, e se mesmo assim não for possível poupar o país às gralhas de Constâncio então que se crie mais uma unidade para vigiar aquelas.
2.7.05
UM RUMO?
1.7.05
LISBOA A CINCO
DIREITO DE RESPOSTA
O João Gonçalves acha, como pessoa racional. que os homossexuais devem ter os mesmos direitos que toda a gente, "ponto final". Estamos de acordo. Não percebo é como o discurso moralista que depois nos apresenta, ao abrigo do "politicamente incorrecto" (em cujo nome se podem dizer, aliás, as maiores barbaridades), nos vai ajudar a isso. JG desgosta do estilo de vida e comportamentos de alguns gays - que parece descortinar perfeitamente através da sua marcha anual - e acha que deviam ficar em casa. Como os políticos também "ficam em casa" nesta matéria, não se vê então como poderia a comunidade LGBT reivindicar os seus direitos. Todos os outros grupos podem, mas os gays devem ficar em casa em prol de um melhor ambiente nas ruas. Deixe que lhe diga, tal pensamento é duplamente foleiro. Foleiro pela desconsideração cívica e pela hipocrisia do discurso do "não sou homofóbico, mas pronto, a lei está como está. Paciência". Se todos ficassem em casa, até seria fácil dizer que provavelmente não existem. Foleiro porque assume que todos os homossexuais sem comportam desta maneira, o que não é verdade. E aqui se vê que JG não esteve na Marcha Gay, e não viu que estariam uns 5% de transformistas, se tanto. Ou, pior, baseia a sua análise em reportagens televisivas sensacionalistas. E mesmo que fossem 100%, qual o problema? Para além de haver "transgenders" que têm direito à vida e à luz do sol, o orgulho gay surge em oposição à vergonha gay. Em adição, uma marcha também tem um lado de provocação e carnaval. Aposto que JG não se insurge contra outros mascarados libidinosos em situações festivas. Caro João, até poderá ter razão em realção a algumas críticas que faz em relação ao associativismo LGBT, mas é intelectualemente errado partir daí condenar qualquer luta pela alteração de leis e mentalidades que, até à data, só envergonham Portugal e as suas elites.Ps. Vi ainda um engraçado "sketch" do Contra-Informação que colocava a manifestação de neo-nazis em algum paralelo com a Marcha Gay. A comparação surgia através do baixo número de manifestantes em ambos os casos. Porém, para que não restem dúvidas, é preciso dizer que os primeiros procuram limitar direitos e impor comportamentos que afectam directamente todos os que não professem a xenofobia nacionalista enquanto os segundos querem apenas igualdade de direitos que não afectam (a não ser nos preconceitos) as vidas de ninguém.