O meu Amigo José Medeiros Ferreira, defensor "histórico" da recandidatura presidencial de Mário Soares, escreve pela primeira vez sobre o assunto no Bicho Carpinteiro. Devo-lhe -jamais o esquecerei- a minha "imersão" nas coisas políticas, nos idos de 79, através do "Movimento Reformador", com António Barreto, Sousa Tavares e outros. Não o acompanhei na "aventura" do PRD (nessa altura já era do PSD) e muito menos na campanha fratricida de Salgado Zenha, em 1986, contra um Soares que eu apoiava desde muito antes da "primeira volta". Nunca militei no PS - nem faço a mínima intenção de alguma vez o vir a fazer -, pelo que nunca senti qualquer impulso romântico para lá voltar. Estivemos em sintonia em 2001, com Jorge Sampaio, já que em 1996 apoiei, como hoje apoio, Cavaco. E presumo que teremos ambos votado no PS em Fevereiro deste ano, seguramente por motivos completamente distintos. Agora encontramo-nos, de novo, separados com - quem diria - Soares de permeio. Medeiros Ferreira "justifica" Soares "com o estado de desorientação das elites de imitação sobre o futuro de Portugal" e com a "firme convicção que ele trará força, determinação e ideias de futuro para Portugal e para a esquerda em geral." Termina, por causa da imagem da "batalha naval" utilizada por Marcelo, "desafiando" este a avançar "contra o velho porta-aviões". Esta visão jubilatória do regresso belenense de Mário Soares merece-me uns breves comentários. Em primeiro lugar, a sua emergência/urgência decorre precisamente da "desorientação" das "elites" do Partido Socialista em matéria presidencial e do fracasso das gerações políticas de Guterres e de Sócrates em produzirem "matéria comestível" aos olhos da opinião pública. O simétrico passa-se com a "direita", depois do clamoroso falhanço dos últimos três anos. Vitorino conta pouco, já que é politicamente cobarde. Alegre conta humanamente mais por ser frontal e corajoso, embora politicamente irrelevante. Não foi, pois, por estar a pensar no "futuro de Portugal" que Soares se chegou "à frente". Foi como militante e "dono" do património jacobino do PS, em "risco de vida" com este governo e com este secretário-geral, que Soares se impôs. A seguir, Soares traria "ideias de futuro" à "esquerda em geral", pelo que a sua aparição reveste-se de um inegável teor profiláctico para a dita. De facto, por ocasião dos trinta anos da Alameda, já com a candidatura no bolso esquerdo do casaco, Soares advertiu que agora o "perigo" vinha em "sentido contrário" ao de 1975. Curiosa lembrança. Soares, em 1986, "passou" à "segunda volta" graças ao "centro" político que o amparou para derrotar Freitas do Amaral. Se dependesse de Medeiros Ferreira - nessa altura já preocupado com a "esquerda em geral", ao lado do PC e de Zenha -, isso jamais teria acontecido. Finalmente chama-se Marcelo ao debate, uma "lebre-patrulha" que Medeiros Ferreira gostaria de ver avançar "contra o velho porta-aviões", provavelmente mais útil nesta altura do que o antigo primeiro-ministro. Como diria o nosso comum e saudoso amigo Cunha Rego, as coisas são o que são. Soares, ao contrário de 1986 e 1991, está apenas metido numa meritória "missão partidária" de redenção que não acrescenta nada ao "futuro" do país. Cavaco Silva deixou-se disso há muito tempo e a nação reconhecê-lo-á na devida altura.
1 comentário:
Simples, conciso e objectivo.
Ou vemos o futuro, com "olhos de ver", ou veremos inapelavelmente La Moncloa!
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