12.8.08

GRÉCO



«Será por isso que a porta vai rodar de novo, silenciosamente, e eternamente vestida de negro, de cabelos negros, de olhos negros, de luminosas palavras enegrecidas pelo metal da voz, Juliette Gréco poderá aparecer: atravessou rostos e paisagens, portos e bares gingados, manhãs cinzentas de tédio, os filmes de vidas suspensas em torno de um copo de vinho, ouviu o riso do acordéon, brincou com o garota na esquina da rua des Blancs-Manteaux, e recomeçará a dizer com a sua voz felina e espreguiçada: "Désabillez-moi/ Désabillez-moi/ Oui, mais pas tout de suite/ Pas trop vite."(...) Havia um pássaro e havia um peixe, e havia entre eles um amor de ternura sem fim: mas como fazer quando um está na água, e o outro lá em cima? Uma formiga de dezoito metros com um chapéu na cabeça - não existe, não existe. Uma formiga puxando um carro de pinguins e de patos feios - não existe, não existe. Mas porque não?, mas porque não? - perguntam os poetas. Mas porque não? - pergunta a Gréco. Ainda. Sempre. Com ela estaremos de novo mais altos do que no dia, mais longe do que na noite. Estaremos (vê, ouve, está) na luz deslumbrante do primeiro amor.»

Eduardo Prado Coelho

(
Nota: Gréco vem, de novo, em Outubro, a 14 e a 16, respectivamente à
Casa da Música, do Porto, e ao CCB, em Lisboa)

3 comentários:

Anónimo disse...

coelho nunca me mereceu qualquer comentário positivo. era um deslumbrado , ao contrário do pai
a greco, tal como Simone, andavam com má companhia, sartre. simone era a única personalidade inteligente e tolerante do trio. simone é, para mim, a única que merece ser lembrada.
a última vez que estive nos deux magots uma madame pipi pensou que eu era um velhinho saudosista. queria tão somente merendar num local onde sempre me senti tranquilo

radical livre

Anónimo disse...

Coitado do EPC,às vezes escrevia bem,estava sempre ao corrente das últimas novidades francesas,como se usava nos anos 60,o que no tempo das crónicas do "Público" até destoava saudavelmente da actual "ditadura"intelectual anglo-saxónica. E tinha umas boas saídas inesqueciveis,como o célebre "orgasmo vertical",tão gozado depois,e o certeiro epíteto de "gato constipado" para uma triste figura que assim para sempre será conhecida. Este texto do J.Gonçalves até é bem "desarrincado". E depois,"de mortuis nihil nisi bonum". Paz à sua alma.

Anónimo disse...

Nunca gostei de tal estojo,mesmo enquanto foi nova. E não descortino a razão porque a trazem cá, agora que deve estar velha. Alguma mente saudosista?