Como se o tempo não tivesse passado, decorre em Lisboa um "congresso feminista". Promove-o uma organização apelidada de "união de mulheres alternativa e resposta". O cortejo de aderentes é notável e é ornamentado por alguns homens como Alexandre Quintanilha. Penso disto o mesmo que penso da ILGA ou de um grupo de forcados. Isto é, mal. Os méritos de um ser humano, e de um ser humano cidadão, em particular, não devem continuar a depender de uma classificação na base do sexo. Nenhuma mulher corre hoje o risco de chegar a uma qualquer universidade, por exemplo, e perguntarem-lhe se não estará equivocada. Um imbecil será sempre um imbecil independentemente de ser homem, mulher ou hermafrodita. O associativismo sexista, para além de elitista, destina-se supostamente a discutir e a impor "especialidades". Não imagino nenhuma mulher da Quinta do Cabrinha ou da Cova da Moura a ser "convidada" a apresentar uma comunicação ao congresso. As participantes - e os participantes - viveram sempre a "humilhação", nas suas cabecinhas pequeno-burguesas, como um fenómeno puramente intelectual. Nunca sujaram as mãos. Porque a história e as "situações" o não permitiam, as bandeiras fizeram o sentido do seu tempo. Agora não fazem sentido algum. "Academizar" o tema - é para isso que existem os "estudos de género" - vulgarizou-se. O lema da "delegada" francesa, arrancado à pré-história do feminismo, é o edificante "ni putes, ni submisses". Sem dúvida, o retrato de uma senhora.
8 comentários:
Tudo o que eu gostaria de escrever e não sabia como.
Parabéns.
E explique lá o meu caro amigo em que medida um grupo de forcados classifica o mérito de um ser humano na base do sexo...
Completamente de acordo João Gonçalves, de facto, como diz o outro "gostava de ter escrito isto! Vá-se lá tentar é explicar isto a muito boa gente...
"As participantes - e os participantes - viveram sempre a "humilhação", nas suas cabecinhas pequeno-burguesas, como um fenómeno puramente intelectual."
Sinceramente, não considero este raciocínio como estando ao nível da capacidade intelectual do autor. O que pretende insinuar com isto? Que a discriminação social feminina é fenómeno proveniente de maquinações intelectuais? Isto tem ponta por onde se lhe pegue? E já agora, tem alguma ideia do que se passa em França e da razão de ser daquele lema? Informe-se melhor da realidade antes de se iniciar as suas - essas sim, pequeno-burguesas - confabulações conspiracionistas. É preciso uma mente bem rebuscada para se lembrar de chamar "associativismo sexista" aos grupos que lutam para que os direitos consagrados na teoria se reflictam na prática.
Suponhamos disse...
O senhor disse tudo.
E, claro, vamos ter o berreiro anti-USA,Bush do costume e um silêncio criminoso sobre a condição da mulher nas comunidades islâmicas da Europa, no mundo do Islão, da Índia e das tribos africanas.
Então acabaram-se os tempos das bandeiras do feminismo e de outras, hem? Tudo resolvido e no melhor dos mundos?...
Se isso não é desonestidade intelectual, então será talvez algo de mais grave...
Há alguma coisa pior do que ser-se negro,cigano,judeu,aristocrata ou plebeu?...sim, é ser-se negrA, ciganA,judiA,plebeiA,etc...vale tudo desde mutilar, violar, escravizar, lapidar, humilhar e matar, só porque se é MULHER. E isso acontece agora, neste preciso momento, a MILHÕES de Mulheres e tão somente porque se é...Mulher...e nem precisa de ir muito longe,neste Continente e neste seu país...ah, e olhe que as mulheres até não são uma minoria...
Filhas de um estupor de um deus menor...
Claro está,que é mais fácil pôr outras bandeirinhas à janela e na carripana... este "grande" país merece-nos tudo...e nós merecemo-lo...
Concordo com muito do que diz neste texto, mas não tem qualquer razão no que se refere à forma como aborda o movimento "Ni Putes, Ni Submisses", que discute coisas muito sérias. Aliás, leia a entrevista de Sihem Habchi ao Público (http://jornal.publico.clix.pt/magoo/noticias.asp?a=2008&m=06&d=26&uid=&id=266474&sid=53912) e vai perceber que para as mulheres muçulmanas a humilhação não é um fenómeno puramente intelectual. Para o bem delas, antes fosse!
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