26.6.08

O RETRATO DE UMA SENHORA


Como se o tempo não tivesse passado, decorre em Lisboa um "congresso feminista". Promove-o uma organização apelidada de "união de mulheres alternativa e resposta". O cortejo de aderentes é notável e é ornamentado por alguns homens como Alexandre Quintanilha. Penso disto o mesmo que penso da ILGA ou de um grupo de forcados. Isto é, mal. Os méritos de um ser humano, e de um ser humano cidadão, em particular, não devem continuar a depender de uma classificação na base do sexo. Nenhuma mulher corre hoje o risco de chegar a uma qualquer universidade, por exemplo, e perguntarem-lhe se não estará equivocada. Um imbecil será sempre um imbecil independentemente de ser homem, mulher ou hermafrodita. O associativismo sexista, para além de elitista, destina-se supostamente a discutir e a impor "especialidades". Não imagino nenhuma mulher da Quinta do Cabrinha ou da Cova da Moura a ser "convidada" a apresentar uma comunicação ao congresso. As participantes - e os participantes - viveram sempre a "humilhação", nas suas cabecinhas pequeno-burguesas, como um fenómeno puramente intelectual. Nunca sujaram as mãos. Porque a história e as "situações" o não permitiam, as bandeiras fizeram o sentido do seu tempo. Agora não fazem sentido algum. "Academizar" o tema - é para isso que existem os "estudos de género" - vulgarizou-se. O lema da "delegada" francesa, arrancado à pré-história do feminismo, é o edificante "ni putes, ni submisses". Sem dúvida, o retrato de uma senhora.

8 comentários:

Anónimo disse...

Tudo o que eu gostaria de escrever e não sabia como.
Parabéns.

Anónimo disse...

E explique lá o meu caro amigo em que medida um grupo de forcados classifica o mérito de um ser humano na base do sexo...

Samuel de Paiva Pires disse...

Completamente de acordo João Gonçalves, de facto, como diz o outro "gostava de ter escrito isto! Vá-se lá tentar é explicar isto a muito boa gente...

Catarina disse...

"As participantes - e os participantes - viveram sempre a "humilhação", nas suas cabecinhas pequeno-burguesas, como um fenómeno puramente intelectual."

Sinceramente, não considero este raciocínio como estando ao nível da capacidade intelectual do autor. O que pretende insinuar com isto? Que a discriminação social feminina é fenómeno proveniente de maquinações intelectuais? Isto tem ponta por onde se lhe pegue? E já agora, tem alguma ideia do que se passa em França e da razão de ser daquele lema? Informe-se melhor da realidade antes de se iniciar as suas - essas sim, pequeno-burguesas - confabulações conspiracionistas. É preciso uma mente bem rebuscada para se lembrar de chamar "associativismo sexista" aos grupos que lutam para que os direitos consagrados na teoria se reflictam na prática.

fado alexandrino. disse...

Suponhamos disse...

O senhor disse tudo.

osátiro disse...

E, claro, vamos ter o berreiro anti-USA,Bush do costume e um silêncio criminoso sobre a condição da mulher nas comunidades islâmicas da Europa, no mundo do Islão, da Índia e das tribos africanas.

Anónimo disse...

Então acabaram-se os tempos das bandeiras do feminismo e de outras, hem? Tudo resolvido e no melhor dos mundos?...

Se isso não é desonestidade intelectual, então será talvez algo de mais grave...

Há alguma coisa pior do que ser-se negro,cigano,judeu,aristocrata ou plebeu?...sim, é ser-se negrA, ciganA,judiA,plebeiA,etc...vale tudo desde mutilar, violar, escravizar, lapidar, humilhar e matar, só porque se é MULHER. E isso acontece agora, neste preciso momento, a MILHÕES de Mulheres e tão somente porque se é...Mulher...e nem precisa de ir muito longe,neste Continente e neste seu país...ah, e olhe que as mulheres até não são uma minoria...

Filhas de um estupor de um deus menor...

Claro está,que é mais fácil pôr outras bandeirinhas à janela e na carripana... este "grande" país merece-nos tudo...e nós merecemo-lo...

Carlos disse...

Concordo com muito do que diz neste texto, mas não tem qualquer razão no que se refere à forma como aborda o movimento "Ni Putes, Ni Submisses", que discute coisas muito sérias. Aliás, leia a entrevista de Sihem Habchi ao Público (http://jornal.publico.clix.pt/magoo/noticias.asp?a=2008&m=06&d=26&uid=&id=266474&sid=53912) e vai perceber que para as mulheres muçulmanas a humilhação não é um fenómeno puramente intelectual. Para o bem delas, antes fosse!