17.9.07

VIDA DOS MORTAIS - 4


A RTP- 1, depois de A Raínha, de Frears, passou o Brokeback Mountain de Ang Lee que acabou agora de ser premiado por outro filme. Brokeback Mountain possui o "concentrado" típico da tragédia clássica. Ao longo de vinte anos dois homens mantêm, apesar dos filhos e das esposas, uma relação "nascida" no acaso de um trabalho solitário a tomar conta de ovelhas numa remota montanha americana. Depois cada um segue a sua vida familiar, de trabalho e de mentira, incompreensivelmente (do ponto de vista deles) apaixonados um pelo outro até ao pathos final. Não é, por isso, um filme "maricas" sobre "maricas". É um filme sobre a solidão humana e o medo do desejo do "outro". Brokeback Mountain é um lugar para o qual dois homens fugiam da vida como ela estupidamente é. Para um deles, ainda havia o "México", a rua anónima. Numa dessas escapadas, Jack é, par delicatesse, liquidado fisicamente. Não tinha, aliás, andado a fazer outra coisa senão rodeos com a morte, a designação em carne viva de uma vida impossível. De facto, aos mortais nada é dado de graça.

9 comentários:

joshua disse...

Nem milhões de filmes denunciadores da violência desinstalam em nós o vírus da crueldade e da desumanidade contra o Outro dentro do programa do Livre Arbítrio ou Busca de Felicidade que desde o princípio nos foi dado.

Anónimo disse...

Pareceu-me um bom filme - mas com um desequilíbrio que não consigo explicar (vi-o ontem pela 1ªa vez, e já era tarde): a história está mais centrada em Ennis do que em Jack, e alguns personagens começam a entrar na história mas depois não são desenvolvidos - como a texana que casa com Jack. Ok, a cena tem o centro em Brokeback mas mesmo assim alguns personagens não são resolvidos, digamos assim. Nesse aspecto, encontro alguma fragilidade no filme. Acaso valha perguntar se não fosse a originalidade de termos um casal de cowboys homossexual seria um filme tão memorável como aquele em que se tornou por isso mesmo.

Arrebenta disse...

Ainda estará par nascer o filme one o amor se mulheres não acaba mal.
Talvez com a excepção da "Minha Lavandaria".
É a vida, é o fado...

rei dolce disse...

Não gostei nada do filme.
Não fosse ser á volta do tema que é, e ter o realizador que teve, e niguém falaria do filme.

Aladdin Sane disse...

Ainda não foi desta que vi o filme, mas ontem gravei-o. Também por isso, venho aqui recomendar dois filmes, bem distintos, de Ang Lee que considero "obrigatórios": "O Tigre e o Dragão" e principalmente "A Tempestade de Gelo". Independentemente "do tema que for", tenho Ang Lee "em boa conta". Não é unânime, claro. (Mas eu também torço o nariz ao Clint Eastwood...)

Anónimo disse...

nada é dado de graça. não sei. não percebo nada de economia.
aquilo que sei é há coisas que aos mortais é dado com graça, mas que estes, na sua posse, desgraçam inconscientemente.

dorean paxorales disse...

Na mouche: não é um filme de "maricas", de facto. Qualquer que já desejou libertar-se do schaffe-schaffe imposto pela imagem institucionalizada do casalinho "normal" identifica-se com a tragédia dos sheepboys.

Anónimo disse...

Uma precis�o: a forma como Jack morre n�o � desvendada (nem no filme, nem no conto): h� o que Lureen conta e h� o que Ennis imagina/suspeita/adivinha. Ficamos sem saber a verdade; o �nico que sabemos � que n�o mais se encontrar�o, excepto nas mem�rias de um lugar distante...

Anónimo disse...

Sim! nao é um filme de maricas sobre maricas!

É um verdadeiro drama humano de dois homossexuais que ao longo da sua vida não souberam resolver a sua questão sexual.
E como eles, outros milhoes de portugueses engavetados em preconceitos, neste portugal de mentalidade pequenina.
Por isso nao páro de dizer! É um filme que devolve a normalidade à temática Homossexual e por isso pode ser também um ícone gay. Aconselho à reflexão nas nossas escolas, nas nossas casas, com os nossos filhos, para que dramas daqueles nao se repitam.
Para que histórias como estas nos dêem civilidade, seja qual for o quadrante que nos encontremos.

Paulo Gomes