30.8.06

UM MANDARIM INTELIGENTE


Tenho estima pessoal por Ricardo Pais que conheço há quase vinte anos. Ricardo é um criador talentoso e um indiscutível homem de teatro que fez coisas bem divertidas e sérias, desde a Gulbenkian, a Viseu, de Lisboa ao Porto, nos teatros nacionais, na Casa da Comédia ou no Frágil. É, como lhe compete, vaidoso. Tem um umbigo tão grande como o seu talento. Foi director do Teatro Nacional de São João no tempo de Carrilho. Na sua magra prestação como ministro, o sr. Sasportes removeu-o para a secretaria-geral do ministério da Cultura como "assessor". Roseta, numa das suas raras descidas à terra, repescou-o de novo para o São João. E ali tem permanecido - estoicamente, segundo ele - como director e director artístico. Numa entrevista surrealista que concedeu ontem ao Público (sem link), Pais afirma-se "mais duradouro do que os governos" e, também como lhe compete, "morde" nas mãozinhas que anteriormente (antes de Pires de Lima) lhe deram, bem ou mal, de comer. Tem razão. Como prémio pela "persistência" e pela gestão "equilibrada" dos seus silêncios e falas, vai ser o presidente do conselho de administração da entidade empresarial pública TNSJ. Esta fantástica "nova" entidade é, naturalmente, mais do mesmo, ou seja, paga a partir do orçamento de Estado, das receitas do Teatro e de algum mecenas. Lida a entrevista, parece que Ricardo Pais anda, há anos, a fazer um grande favor à pátria por existir. De Rui Rio, já que Pires de Lima foi metodicamente posta no bolso do casaco do encenador, Pais diz o politicamente correcto: mal. Provavelmente também queria o Rivoli e o mais que lhe caísse no colo. Há, em quase todos os "criadores" da democracia, um "lado" "Almada Negreiros dos pequeninos". O Estado e os responsáveis políticos são péssimos, mas é bom que eles existam e que paguem bovinamente as continhas e as subtilezas dos "criadores", garantindo ao regime um módico de "qualidade" de vida "cultural", obviamente avaliada pelos próprios. Ricardo Pais é, apesar de tudo, um mandarim inteligente. Não queira, no entanto, fazer dos outros parvos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Mas quem é que quer saber do Ricardo Pais?
Porque se arma em pedagogo dos bovinos?

Anónimo disse...

Até que enfim...
Nunca ninguem se lembra do país com 1/4 da populacao mundial, a China concerteza...
Acho que a sociedade devia apostar mais no "mandarim" por uma razao: vamos a passear na rua de repente vemos uma loja chinesa, isto é uma prova que oriente se está a generalizar ou seja é melhor apostarmos nas culturas orientais, pois nos podem servir no futuro para meios de negócio e comunicaçao.