15.8.06

A ESTIRPE

É isso mesmo. O homem quer vender oportunamente, e bem, a sua anunciada auto-biografia onde conta o que ele - e mais não sei quantos milhões de adolescentes da idade dele - andavam a fazer, nessa altura, na Alemanha. É claro que Grass é da estirpe do nosso Saramago, por acaso também "nobilizado". Com uma importante diferença. Quando Saramago saneava a fio no Diário de Notícias e escrevia ardentes editoriais em defesa da "revolução bolchevique" em Lisboa, já tinha mais do que idade para ter juízo. Tal como ainda mais idade tinha quando decidiu banir das sucessivas reedições dos seus livrinhos as dedicatórias que tinha escrito para a Isabel da Nóbrega, que tratou miseravelmente por causa da jornalista espanhola. Com escritores "moralistas" desta estirpe, vou ali e já venho.

7 comentários:

Pedro Correia disse...

Aplauso incondicional, João.

Anónimo disse...

Partilho o mesmo sentimento de repúdio pelo Sr. Saramago. Entre mim e ele tudo acabou com "a Jangada de Pedra". Que raio de ideia!

Anónimo disse...

Ups! o anónimo anterior sou eu.

joshua disse...

De Saramago ainda não se sente o síndrome do avozinho Stalin, o fim ou a crítica ao pacto cúmplice das palavras com os gulags, os pelotões de fuzilamento.

Mas lá virá a hora. O que Günter Grass quer é absolvição e uma absolvição rentável.

Isto remete ainda para a questão mais de fundo do momento. Fidel.

Agora que Fidel é um avozinho decrépito, frágil, é difícil olhar para ele como alguém que seguiu o caminho de Maquiavello e, além da bondade de algumas políticas, teve os seus crimes, as suas purgas, a sua metodologia de autoperpetuação no poder de modo indefinido.

A tentação do poder absoluto corrompe absolutamente. No seu modo de ter razão sozinho, na sua intransigência, foi um David em face do Golias norte-americano, resistindo e criticando, financiando guerrilhas marxizantes, enquanto pôde.

O que me parece ridículo, sinceramente ridículo, é o longo embargo imposto à ilha. Os tempos são outros e um embargo como este é um crime contra a humanidade porque todos os regimes totalitários têm a sua hora, mas a hora do povo é agora.

Cuba já não é ameaça de nada a ninguém e a política norte-americana para com a ilha é completamente anacrónica e obstinada numa pudicícia qualquer. Cuba não é um bastião xiita de gente suicidária e despreziva da vida; Cuba não possui um demente e ameaçador regime marxista monárquico como o da Coreia do Norte.

Cuba agora tem apenas um avozinho em confronto com a sua consciência ética por si traída e lavada em muito sangue, em confronto com a própria noção da sua finitude, em confronto com o seu passado, onde extinguiu o sopro dos opositores e patrocinou maracutaias de todo o tipo.

O Paraíso igualitário não está em Cuba assim como o exemplo de respeito pela pessoa e a luta pela justiça também não está todo na mão exclusiva das chamadas democracias capitalistas ocidentais. A tirania de Fidel é equivalente à tirania do dinheiro e ao desaparecimento de uma dimensão social em muitas políticas.

Não havendo mais utopia, mais escatologia de um mundo de bem-estar e prosperidade para todos, sobra apenas a lógica cega e indiscriminada do dinheiro e, nessa medida, Fidel é por enquanto um dos últimos vestígios dinossáuricos de uma ilusão de óptica comunista. Ele é o último clérigo marxista, bispo de um mundo morto, rabi de um goy kadosh que já não há e nunca terá havido, oficiando em vida as exéquias do seu desaparecimento.

Joaquim Santos

Anónimo disse...

Tanto um como o outro são grandes fdp.
Mas o Saramago é mais fdp que qualquer outro.
Pensei nisto ao encontrar, mais uma vez, a Isabel da Nóbrega - o que me acontece frequentemente, visto sermos vizinhos.

Anónimo disse...

cambada de gente com dor de cotovelo

Anónimo disse...

Desconhecia que Saramago tinha retirado as dedicatórias das reedições do seus livros. Faz-me lembrar aquele processo estalinista em que se apagavam das fotografias as imagens de antigos "compagnos de route" caídos em desgraça. Disgusting... Li Saramago durante anos. Cansei. Grass nunca o consegui ler. Não há muito a esperar da natureza humana.