27.10.04

QUAL SERÁ O DESFECHO DISTO?

Num dos mais conhecidos diálogos de Hamlet, entre Horácio e o príncipe, este, soturno, diz que "há algo de podre no reino da Dinamarca". Ao ouvir a minuciosa descrição da conversa de Marcelo, o "nosso" Marcelo, com o dono da TVI, Paes do Amaral, tornou-se-me mais evidente o desgraçado país em que vivo. O que se seguiu à oratória do professor perante a melancólica AACS foi porventura ainda mais confrangedor. Paes do Amaral falou de "imprecisões", de "estratégias empresariais" e disse que nem ele nem a TVI faziam "política". Deve-se evitar prudentemente as pessoas que dizem que não são "políticas". Paes do Amaral, sem querer, mostrou o que vale a "iniciativa privada" em Portugal, com muito poucas excepções. Vergada ao poder misantropo do Estado, pedinchona e permanentemente na dependência de um "favor" governativo, a dita "iniciativa" costuma manifestar o seu temor reverencial através das mais toscas das maneiras. Respeitinho é que é preciso, acaba sempre por ser o seu lema. Já o ministro dos assuntos parlamentares, o inefável Gomes da Silva, fugiu das perguntas incómodas por uma porta errada. Deve ser a mesma porta pela qual entrou para o governo. Quando lhe será finalmente indicada a porta de saída? Este sinistro "folhetim Marcelo" é um sintoma demasiado perigoso para ser analisado com leviandade ou sequer com ironia. O híbrido de ignorância, má-fé, prepotência e oportunismo que nos rege sob a forma de um governo, é capaz das piores coisas para salvar o único registo que verdadeiramente lhe interessa, "a imagem". Pelos vistos também sabe arrebanhar os indispensáveis "colaboracionistas" na famosa e "independente" "sociedade civil". De facto, algo está podre neste reino da Dinamarca. Como perguntava Horácio, "qual será o desfecho disto"?

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