1.10.04

O ÍMPETO DO BETÃO

O primeiro-ministro arrastou o seu governo até Coimbra. De acordo com a doutrina oficial, estas viagens visam demonstrar o apego do executivo pela "descentralização". Ninguém, porém, acredita seriamente que as parcas horas que estes turistas acidentais passam fora de Lisboa se destinam a ruminar profundas decisões para o futuro da pátria. Tudo vai antecipadamente preparado para que o cenário bucólico, arranjado algures na província, seja o bastidor dos anúncios. A míngua de ideias e de dinheiro predispôe ao recurso inevitável ao betão. Mexia, o ministro do betão, deu umas confusas explicações acerca das SCUTS. De quem paga, de quem não paga, a partir de quantos metros de auto-estrada paga ou não paga, onde é que paga e não paga, como é que paga ou não paga, se tem "via verde" ou se se acaba com a "via verde" e por aí adiante. Suspeito que os "locais", putativos "utilizadores", não perceberam nada daquilo tal como eu não percebi. Lopes guardou-se para uma inauguração de mais uns metros de estrada e para prometer mais metros de estrada. Os seus magníficos autarcas começaram imediatamente a ranger os dentes. Eles gostam do betão, mas não suportam ter de o pagar. Entretanto, um dos seus secretários de Estado "deslocalizados", Amaral Lopes, dos "bens culturais", há 3 meses que está praticamente inactivo por falta de "local" de trabalho em Évora. O máximo que conseguiu foi arrendar uma casita para si próprio. Os "bens culturais" não "vendem" tão bem como uma estrada. E Coimbra foi apenas mais um rito de passagem no acaso que é a vida deste governo já entregue, como os demais, ao ímpeto fácil do betão.

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