«Afonso Costa não se enganava ao recusar paliativos. Em persistir no erro talvez estivesse a única salvação (...). Os próprios democráticos acusavam Afonso Costa de exercer uma «tirania grosseira e vexatória» sobre o país, o partido e «até sobre o grupo parlamentar». Ao que parece, ouvia apenas um círculo de amigos íntimos e apenas por ele distribuía os seus favores oficiais e outros. Este círculo juntava gente dúbia, como o seu irmão Artur, o seu cunhado José Abreu, o seu sócio de escritório Germano Martins, dois procuradores do dito escritório, um jornalista de O Mundo e um tal Tudela, cuja profissão não se conhece. E também, na periferia, alguns ministros sem prestígio nacional ou político entre os quais Alexandre Braga, um batoteiro notório, e Ernesto Vilhena, que viera directamente do franquismo para os democráticos. O grupo, pelo menos pouco saboroso, acabara por ter uma existência pública e por se tornar conhecido sob o nome de «casa civil». Segundo corria, a «casa civil» estava encarregada de espiar o partido, especialmente os deputados, e com ela Afonso Costa tomava todas as decisões importantes. Os órgãos formais de poder - o Conselho de Ministros, o grupo parlamentar e o directório do PRP - não eram ouvidos, recebiam ordens. Há provas de que não levavam a bem estes modos autoritários do «grande caudilho». Contou mais tarde o insuspeito Alexandre Braga que «muitos dos mais categorizados» dirigentes do partido não perdiam uma oportunidade de criticar Afonso Costa nos «lugares de conversa e de intriga política». nos «cafés» e nas «ruas» (...) As histórias da «casa civil», da sua influência oculta, dos negócios ilegais que patrocinava, das suas ligações aos subterrâneos da política e aos grupos terroristas talvez sejam, em parte, mitológicas. Sucede que eram dadas por verdadeiras no próprio PRP (...) Os notáveis democráticos desaprovavam os seus métodos, achavam a «casa civil» corrupta e prepotente e, como o resto dos portugueses, detestavam o «tirano». Mesmo no tempo terrível do exílio e da obscuridade não se sente em ninguém sombra de afecto pela criatura. Como António Maria da Silva declarou a Alexandre Braga em Maio de 1918, no apogeu do sidonismo, Portugal e o Partido Republicano viviam melhor sem ele.»
Vasco Pulido Valente, Portugal - Ensaios de História e de Política, Aletheia Editores, 2009
Vasco Pulido Valente, Portugal - Ensaios de História e de Política, Aletheia Editores, 2009
7 comentários:
Afinal o que é que aconteceu á Cancio ?
É que nem no DN aparece...
Está no Sheraton Pine Cliffs
Codilharam o caudilho...
Estava preocupado....
Sócrates não conseguirá ser uma reedição do Afonso Costa, apesar de tudo ter feito para isso.Mudando os nomes o texto de VPV assenta-lhe como uma luva.No dia 7 de Junho os Portugueses do sec.XXI disseram BASTA! e deram-lhe ordem de despejo.
É engraçado, também me lembrei imediatamente da criatura quando li esta passagem.
Mas ao contrário do mamífero, Afonso Costa não era completamente analfabeto.
dutilleul
Não vamos ser brando com ele.
Este tipo merece ser julgado por ter colocado Portugal à beira do precipicio.
Muita empresa desfeita; muita família destruída; muita gente a fugir do país à procura de trabalho; muita trafulhice e corrupção; muita penhora e execuções em cima de gente humilde, enquanto os protegidos do regime continuam a não "ter bens no seu próprio nome"; muita Injustiça; muita ladroagem,etc.
Tudo isto existe:Tudo isto tem um rosto.
O rosto do regime mais sanguessuga e parasitário que houve em Portugal pós-25 de Abril.
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