Há na Cecílio de Sousa, em Lisboa, no nº 11, uma livraria de poesia. Maioritariamente de poesia. Chama-se Poesia Incompleta. Coisas difíceis de encontrar podem estar - ou vir a estar - lá. Há muitos anos, aquele nº 11 era um extraordinário e acolhedor restaurante alentejano onde, nos meus melhores tempos, tantas vezes jantei em tão, à altura, boas companhias. As pessoas tipicamente não são como as palavras na poesia. Às tantas não adianta regressar a elas "outra vez e outra vez e outra vez". Pessoas, e os lugares onde elas costumavam estar (e nós com elas, felizes, com a tola certeza de que aquilo era sem fim) deixaram de lá estar. O livro da foto exclui toda a poesia anterior do seu autor - lê-se numa nota final - salvo a que ali ficou. Joaquim Manuel Magalhães decidiu não mais regressar a tantos e tantos versos dos mais marcantes da poesia portuguesa contemporânea. Como leitor deles há mais de vinte e cinco anos, só posso lamentar. Por isso, a Um Toldo Vermelho terei de voltar, um dia, como nestas linhas de Eugénio de Andrade, depois do nevoeiro:
Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
Se regressar
outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar.
3 comentários:
Regressamos sempre a alguma coisa ou a algum lugar. A esse desejo chamaram o eterno retorno.
Este livro tem pelo menos uma vantagem: vai limpar os armazéns da leya e das outras editoras, evitando que a obra passada vá parar à guilhotina, tal vai ser a corrida à anterior escrita.
Haverá quem lhe possa chamar uma manobra de marketing o que será bastante redutor. Naturalmente que do JMM se espera muito mais, vamos portando deixar que "Um toldo Vermelho" encontre o seu caminho e o faça.
Espanta-me que este blogue se chame Portugal dos Pequeninos. Até para om nevoeiro temos uma resposta enorme. (Obrigada pela informação do 11 da Cecílio de Sousa).
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