
Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz, talvez.
Canta, e roussa. E a sua voz, cheia
De alegre e anónima liquidez
É branca como um grito de ave
Num ferro de Alcácer-Kibir,
E há résteas de luz e de adarve
No som que ela faz a se vir.
Ouvi-la, alegra e aborrece.
na sua voz há recidiva.
E roussa como se tivesse
Mais fodas a dar do que a vida.
Ah! Poder ser tu sendo eu!
Ter a tua alegre limalha
E todo o ouro dela! Ó céu
Ó campo, ó canção,
O homem pesa tanto e a matriz é tão leve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Meu ânus o vosso almocreve!
Depois, levando-me, passai.
Mário Cesariny, O Virgem Negra
1 comentário:
Mário Cesariny, o não conformista.
Que diria ele da situação presente?
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