Enquanto uma máquina animalesca que faz tremer o prédio todo se dedica a "forrar" o asfalto junto à minha casa, obrigando-me a levantar mais cedo do que o previsto para mais um sábado nulo, recordo-me da primeira vez que fui ao psiquiatra. Hoje - posso dizê-lo sem risco de o ofender - é meu amigo. Perguntou-me logo se dormia mal. Disse-lhe que não. Disse-lhe que "o meu caso" não tinha a ver com o sono. O meu problema era acordar. O "depois" de acordar. Olhando para trás - para agora e para a frente? - reparo que "o meu caso" se pode traduzir na cruel e bela fórmula de Hegel.«Há uma noite que se descobre quando olhamos um homem nos olhos - mergulha-se então o olhar numa noite que se torna terrível: a noite do mundo que avança ao encontro de cada um de nós.» Acordo sempre para esta "noite do mundo" sem saber para o que é que estou a acordar. Ou se vale a pena, sequer, acordar. Razão, pois, a Pascal. «Tout le malheur de l'homme vient d'une seule chose, qui est de ne savoir pas demeurer au repos dans une chambre.»
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