27.12.08

O EXEMPLO E O PRECEITO

Pressenti nalguns jornais (nas televisões, então, nem se fala) alguma (muita) tolerância em relação ao episódio da escola do Cerco, no Porto. No fundo, a magnífica miudagem estava apenas a antecipar o carnaval, por causa da pistola de plástico, e a turma até é, afinal, "exemplar". Ninguém parece preocupado em perceber o que antecede o acto. O que interessa é desculpabilizar e meter tudo no caldeirão da pedagogia "democrática". Acredito que haja professores que se colocam a jeito. E que até os mais inofensivos meninos têm "direito" a recreios deste género. São corolários da retórica de que "não há rapazes maus" e de que toda a gente deve conviver em paz com a inelutável "evidência". Dito de outra forma, maus mesmo são os telemóveis que "filmam". Se os proibirem nas aulas, acabam magicamente os "problemas". O que não se vê, não existe. É esta a "tese" da "escola democrática", "inclusiva". A do regime. Sou, desgraçadamente, de outra época. Daquela que Isaiah Berlin descreve como do "exemplo", e não do "preceito", "através da descoberta ou preparação de professores que tenham conhecimentos, imaginação e talento bastantes para fazer com que os estudantes vejam aquilo que eles próprios vêem, experiência que, como sabe qualquer pessoa que tenha tido um bom professor seja de que disciplina for, é sempre fascinante, e poderá ser transformadora." Como é que se mete ideias destas em cabeças e rostos improváveis como os dos representantes das associações de pais, em professores complacentes ou em meninos sem - literalmente - educação? E em locais a que, sem sorrisos, apelidam de escolas?

9 comentários:

Blondewithaphd disse...

Se é assim, então também sou de outra época (muito saudosa, diga-se de passagem).

Anónimo disse...

Não é a
"escola do Cerco, no Porto",
é a
"escola do Bairro do Cerco do Porto, no Porto".

Anónimo disse...

Você sabe lá do que fala, pá! Sou professor no Cerco e estamos a tentar criar lá uma escola liberal, em que os alunos sejam assertivos e provocadores do establishment, dentro das directivas da pedagogia anarquista. É com orgulho que o nome do Cerco deve ser mencionado!

António Luís Catarino

Anónimo disse...

O que se está a passar em muitas escolas públicas tem origens várias, mas todas encaixando na falta de educação, na falta de preparação,na falta de competência.
Em primeiro lugar, na falta de educação, de preparação dos pais.
Que educação poderão dar aos seus filhos pais incultos, muitos quase a roçar a imbecilidade, que não receberam preparação alguma para serem pais?
Depois, a educação dos jovens é entregue também a professores, no seio dos quais há quem tenha enorme défice de educação e de preparação adequada para tão ingrata profissão.
Seguem-se os cidadãos comuns com quem os jovens se cruzam quotidianamente,cidadãos que pelas razões já referidas para os pais e professores são incapazes dum comportamento correcto não susceptível de provocar efeitos nefastos nos jovens que os presenciem.
Os programas imbecis da televisão muito contribuem também para os comportamentos bestiais de muitos jovens, de muitos alunos.
Por último, temos os elementos nocivos, nocivos por incapacidade, por incompetência, dos elementos que constituem o elenco governativo.
É toda esta cambada que está na origem dos jovens, dos alunos que medram em Portugal.

fado alexandrino. disse...

em que os alunos sejam assertivos e provocadores do establishment


É assim mesmo, da próxima vez pode ser que seja com um bastão de basebol (em plástico) na sua moleirinha e já veja assertivamente o problema com outra visão.

Anónimo disse...

Bom, relativamente a este assunto, e dado que, a maioria dos intervenientes, pelo modo como fala, nunca pôs os pés numa escola recentemente, talvez por que se limitava a despejar a criança na escola e ir trabalhar, e nunca ir a uma, que fosse, Reunião de Pais, quer da Associação, quer de Turma , etc, esclareço:

1º - o ensino que temos, resulta da falta de educação fomentada por S, que educou durante 50 anos os avós e pais dos actuais alunos, tendo em vista a formação duma "elite sub-serviente" da sua figura, como primeira prioridade, e segunda a formação de alguma mão-de-obra qualificada.

A maioria restante destinava-se mão-de-obra barata, que ainda hoje faz as delícias dos empresários(?) tungas.

Aliás, o grande conservador deste tipo de mão-de-obra é o exclentissimo governador do BP.

2º - Com o 25 de Abril, começou, de facto a haver escola para todos, pese os erros cometidos, com melhoria e aprofundamento das matérias leccionadas;

3º - Contudo, dado que para além da escola havia pais formados/formatados por S, que pouco valor dava á escola, não havia pano de fundo que aguentasse a falta de professores, a entrada de filhos de emigrantes (para manter a mão-de-obra barata) a falta de preparação dos pais e a necessidade destes ganharem dinheiro, e de terem um sítio onde deixarem as crianças, a Escola passou a ter a obrigação de:

- dar educação civica e social ás crianças;

- cuidar da saúde, alimentação, etc das crianças;

- substituir as assistentes sociais, ou a falta delas;

- enfim fazer tudo o que toda a restante sociedade não faz pelas crianças, e sem se interessar, quanto mais colaborar, com a escola.

4 - para complicar as coisas, temos:

ministras da educação que quando é criticada porque a taxa de chumbos era elevada, baixava a fasquia, mas continuou a subir politicamente ...

a culpabilisação contante dos professores pelos fracassos dos alunos, inocentando deste facto os pais, patrões (salários baixos e carga laboral);

as notas absurdamente altas em medicina, só para entrar, num pais com falta de médicos de todas as especialidades;

processos de sansões disciplinares que, pelo menos eram, tanto ou mais burocráticas que as usadas num processo em tribunal.

5 - Finalmente, se perante escutas telefónicas incriminatórias, os advogados do réu só procuram provar que são ilegais, ou sejam, não negam que o réu cometeu o crime, mas sim que a prova não é válida, porque é que não se pode desvalorisar este mero incidente?

Anónimo disse...

Os alunos limitam-se a copiar os adultos que: atiram sapatos ao presidente dos EUA, incitam jovens a atirar ovos e tomates a um membro do governo, insultam o PM quando este se desloca pelo país, etc, etc. Com exemplos destes, como poderiam os jovens ser diferentes. SE os adultos não espeitam quem ocupa cargos públicos, porque haveriam os jovens de respeitar os professoes? Não me lixem!

josé ricardo disse...

o que eu vi foi precisamente o contrário daquilo que a professora e a presidente do executivo referiram. na verdade, foi nítida a atrapalhação da docente na abordagem (para aqueles que gostam da palavrinha) pedagógica desta situação caricata. são alunos do 11 ano?

Anónimo disse...

"Com o 25 de Abril começou de facto a haver escola para todos".
Leio e pasmo. Apareci neste mundo em 1925, logo, um ano antes ao golpe que acabou com a merda da 1ª república. Meus pais eram pobres, infelizmente, mas estudei da escola primária (mas que ensinava a ler e a contar) até ao ensino superior.
O ilustre Professor Antunes Varela
era filho dum humilde sapateiro, mas um grande Pai; o mestre de medicina, Dr. Carlos Ramalhão, era filho de um pedreiro e ele próprio foi aprendiz de pedreiro. Estes dois grandes portugueses, para só citar estes, não estudaram depois da Abrilada, senhor Observador.
Convém que os "observadores" deste país não digam asneiras.