Duvido sinceramente da eficácia das entrevistas "rapidinhas" de Judite de Sousa aos candidatos presidenciais na RTP. "Coladas" ao Telejornal, as entrevistas parecem mais destinadas a cumprir uma obrigação do que propriamente a "esclarecer" o eleitorado. Intuitivo como sempre, Soares percebeu isso e "comandou", com sobranceria e uma notável impaciência "democrática" (sim, porque vindo dele é sempre "democrático"), a entrevista de Judite. Soares, quando está aborrecido, não é exactamente um modelo de educação e, diga-se de passagem, Judite, "a boa aluna", pôs-se a jeito, curvando-se respeitosamente quase todo o tempo perante o candidato, à maneira das velhas tribos onde se manda venerar os mais velhos. De qualquer maneira, Soares, naquela rápida meia-hora, revelou-se na sua idiossincrasia e nas suas fantasias. Quanto à primeira, recusou-se a abordar a questão nuclear da sua candidatura, a respectiva origem. Na véspera, do alto da sua vaidosa inocência política, Manuel Alegre já tinha passado boa parte da meia-hora a falar de Soares, coisa que, ao inverso, Soares não admitiu a Judite. Remeteu quaisquer explicações sobre o imbróglio dentro do PS, por sua causa, justamente ao dito PS e a Alegre. Arredou-se, aliás, prudentemente do partido e evitou os dois principais motivos do seu avanço: a séria hipótese de, em Julho, o PS se "inclinar" para Freitas do Amaral, por um lado, e o inimigo de estimação, Cavaco, por outro. Nas contas de Soares, Alegre não conta e a "boa aluna" aceitou que ele não contasse. Em matéria fantasiosa, Soares não teve muito tempo para "brilhar". Mesmo assim, continua a imaginar-se comparsa de uma Europa morta e enterrada, pelo menos desde que Kohl e Mitterrand desapareceram de cena. Fala dos seus contributos indiscutíveis para a estabilização democrática do país como se tivessem ocorrido ontem - Soares é um homem do "Mercado Comum", dos anos 70, e não tanto da "União Europeia" do euro - e insiste no seu tropismo "anti-globalização" e no seu "conferencismo" multilateralista como provas de seguro de vida internacional, devidamente alinhados pelo anti-americanismo mais radical. Ou seja, Soares continua a conversar essencialmente para ele próprio e para os seus cortesãos de circunstância, e cada vez menos para um país que ele já não consegue compreender justamente por causa da sua impaciência "democrática".
Adenda: Sobre a "prestação" de Judite de Sousa, ler este post de António Ribeiro Ferreira. E, sobre Soares, Medeiros Ferreira, cada vez mais embevecido com as sublimes prestações do chefe mais velho da tribo. Ou, noutro sentido, as "citações" mais "significativas da entrevista pelo Aforismos & Afins.
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