Agora que tanto se fala em livros por causa dos "balanços" e do horrível Natal, volto - seguindo o conselho de Cioran que recomenda a leitura de um mesmo livro várias vezes para se considerar "lido" - às Memórias de Adriano de Marguerite Yourcenar, traduzido por Maria Lamas. Li-o pela primeira vez quando era adolescente e me supunha subtil e, horror dos horrores, "romântico". Ofereci cópias e cópias a putativos leitores pelas mais desvairadas razões e obscuros propósitos. Numas derramei melancólicas dedicatórias cuja autoria estaria hoje porventura disposto a renegar. Não tenho a certeza que esses leitores forçados tivessem compreendido os interstícios da escrita de Yourcenar e a beleza, não apenas da forma, mas do singular traço que reconstroi "ficcionalmente" uma vida e um pensamento que caminha lentamente para a morte. É um livro sobre triunfos e derrotas. Anos volvidos, voltei a ler o original numa edição "poche". Por causa de mais uma oferta - suponho que a derradeira -, fui à estante e retomei a antiga paixão no exacto ponto onde a tinha deixado da última vez: em lugar nenhum. E avancei, de novo, à descoberta de Adriano, moribundo e despojado já de tudo, nas frases inesquecíveis de Yourcenar que me lembram outros tempos de um tempo que não existe mais. Não só o de Adriano, mas sobretudo o meu.
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