Este "regime", à semelhança do do dr. Salazar e, episodicamente, do Prof. Marcello, tem os seus bonzos e lugares-tenentes. Por delicadeza e esforço cristão, tenho-lhes chamado "transversais", ou seja, uma espécie de híbrido intelectual maleável e, como agora se diz, "consensual". Fraústo da Silva e António Mega Ferreira fazem parte desta vetusta casta que o "regime" produziu e, por isso, são intermitentemente chamados ao altar da Pátria. Fraústo já foi ministro e vagueia entre o PS e o PSD, razão pela qual Mário Soares o foi buscar para seu mandatário nas duas únicas candidaturas moderadas que protagonizou, em 86 e 91. Mega é mais sofisticado. Lê, escreve, comenta e parece que percebe de "equipamentos culturais". Esteve com Zenha contra Soares, em 86, e agora é da comissão política do ex-presidente. Aos poucos, embora sem hostilizar excessivamente o PSD, tornou-se num vigoroso compagnon de route do PS, acabando como o grande soba da Expo 98. Apesar de, desta vez, o altar ser relativamente modesto e praticamente falido - o CCB -, o certo é que a respectiva gerência não passa despercebida a nenhum poder político. Parece que Sócrates, que acumula as funções de ministro da Cultura, quer - muito legitimamente, aliás - remover Fraústo para o trocar por Mega Ferreira. Fraústo, que se imagina subtil e um "fazedor" cultural, já fez constar que não se demite. Quando muito, e se quiserem, que o demitam. Tem mandato até 2007 e só a partir dessa data é que admite a "genialidade" de Mega à frente dos destinos do CCB. Este pífio episódio é revelador do espírito de capela que preside a estas coisas. São sempre os mesmos, ou os mesmos contrários, que velam pela nossa "maturidade" cultural e pela maravilhosa gestão dos "equipamentos" ditos "culturais". Saem de um lado e entram no outro, e vice-versa. É por isso que, entre nós, a "cultura" medra pouco. Raramente passa de uma picardia grotesca entre compadres e comadres, tudo em família.
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