1. Apetecia-me terminar o ano, neste blogue, com os primeiros versos do "Inferno" de Dante: "Da nossa vida a meio da jornada,/Em tenebrosa selva me encontrei,/Perdido era o caminho verdadeiro./Como é, porém, penoso dizer qual/Era desta selva a braveza e a sombra./De que só a memória traz temor!" (na tradução de Fernanda Botelho). Ou com uma passagem do livro de Enrique Vila-Matas, Paris nunca se acaba: "Pensem quais podem ser as razões básicas para o desespero. Cada um de vocês terá as suas. Proponho-vos as minhas: a volubilidade do amor, a fragilidade do nosso corpo, a opressiva mesquinhez que domina a vida social, a trágica solidão em que no fundo todos vivemos, os reveses da amizade, a monotonia e a insensibilidade que andam associadas ao costume de viver." (na tradução de Jorge Fallorca).
2. Estes trezentos e sessenta e cinco dias suportaram-se melhor por causa da companhia diária de outros blogues, de livros, de instantes, do sol e do mar. Mais do que nos jornais, na televisão ou mesmo em alguns livros e, de certeza, mais do que em muita gente, encontrei na blogosfera, nas pessoas (muitas que não conheço) por detrás dos blogues, mais "calor" dito "humano" do que na puta da "vida como ela é". Por isso, e apesar do que disse aqui, não resisto a "listar" os "cobloggers" que, em 2005, me foram imperdíveis, pelos motivos mais diversos: Abrupto, (O)Acidental, Almocreve das Petas, Anarca Constipado, Bicho Carpinteiro, Blasfémias, Bloguítica, Elba Everywhere, Esplanar, Da Literatura, Desfazedor de Rebanhos, (O) Jumento, Mar Salgado, Margens de Erro, Minha Rica Casinha, (A) Origem das Espécies, Quando o blog bate mais forte e Tugir.
3. "Somos crucificados pelos aborrecidos", escreve Vila-Matas, citando Cioran, esse magnífico transviado romeno em Paris. E continua, e eu com ele: "é mais que sabido que tanto Deus como o Diabo ultimamente têm dado mostras suficientes que não têm nada de perfeitos e sim de muito torpes, vemo-los chegar frequentemente tarde ao teatro das suas operações". Como o moribundo Imperador Adriano, de Marguerite Yourcenar, procuremos apenas entrar no novo ano de olhos abertos. Ámen.
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