18.12.05

SOARES TOTAL

Mário Soares voltou à repelente campanha ad hominem. Na Madeira - o local, sem dúvida, mais indicado para o efeito-, Soares "ameaçou" o eleitorado como um sonoro "vocês vão ver" (o que é vai ser um Cavaco Silva na presidência), o que, se for interpretado benevolamente, pode ser visto como um bom sinal. Soares, que tinha tentado convencer-se a si próprio nos últimos dias que não ia falar mais de Cavaco (como se a sua íntima natureza o deixasse), recorreu à sempre indisfarçável soberba para acusar o concorrente de ser praticamente um iletrado. "Cavaco Silva não é um homem que tenha espírito e capacidade de diálogo, não é um homem da cultura, não é um homem que conheça o mundo, não é um homem que tenha uma visão para o mundo e é isso que precisamos neste momento", disse no Funchal. Estas tiradas reaccionárias vão aumentar de tom, daqui até ao final da campanha e à medida que Soares for sentindo o terreno a fugir-lhe debaixo dos pés. Num certo sentido, é bom que isso aconteça. Não é ele que passa a vida a dizer que os portugueses "o conhecem"? Assim ficam a conhecer melhor o Soares "luz e sombra": o generoso e o rancoroso, o monarca e o republicano, aquele que se supôe "dono" moral da democracia e não apenas um dos seus pilares. Enfim, o Soares total.

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