1. Como bem recordou Miguel Sousa Tavares na TVI, a propósito da "polémica" pirosa em torno da entrevista de Cavaco Silva ao JN (adequada à "silly season" em que parece que se está a tornar a longa campanha eleitoral, S. Tavares dixit e eu concordo), é suposto um candidato presidencial "ter" um programa político que, uma vez eleito, desenvolva e cumpra. Se assim não fosse, não faria sentido nenhum os candidatos deslocarem-se a lugares tão extravagantes como barragens, escolas, cooperativas, fábricas ou outros serviços públicos e privados para derramarem as suas "propostas". Severiano Teixeira, aliás, que tem talento para tudo menos para porta-voz, ainda por cima de Mário Soares, acabou por reconhecer que o presidente - presume-se que Cavaco "himself" - podia ter dito o que disse, mas em privado, ao primeiro-ministro. Não me parece que os portugueses queiram saber desta "polemicazinha" de salão para nada e que lhes é mais conveniente - como também salientou Sousa Tavares - um presidente que saiba o que quer fazer com os poderes que tem, em vez de se "sentar" no cadeirão belenense a recitar mansamente a Constituição. Doutra forma, como é que os candidatos conseguem explicar às pessoas por que é que se candidatam ou com que propósito as andam a "massajar" meses a fio?
2. E em matéria de "orgânica" de governo e da "competência" para mexer nela - e já que Soares considerou "muito graves" as declarações de Cavaco e as "levou" para esse caminho-, convém avivar a memória, não com meras "sugestões", mas com a realidade. Em 1995, o então primeiro-ministro, no âmbito das suas competências exclusivas, propôs ao então presidente da República que, por ter sido eleito presidente do PSD em congresso, o dr. Fernando Nogueira passasse a vice-primeiro-ministro, quando ele era apenas ministro da Defesa. Soares aproveitou uma cerimónia qualquer na Batalha e chamou o ministro "à parte" para cordialmente lhe dizer que não aceitava a nova "orgânica" do governo proposta por Cavaco Silva, o primeiro-ministro. Caiu o "Carmo e a Trindade"? Rasgou-se a Constituição? Foi "muito grave"?
Adenda: Ler este post na Grande Loja. E este, no Bloguítica. E, já agora, este de Francisco José Viegas.
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