18.6.05

SOMOS TODOS PORTUGAL?

O Senhor Presidente da República esteve em visita folclórica ao bairro da Cova da Moura, nos arredores de Lisboa. Pregou pela "tolerância" e pela "lei", assistiu a um jogo de futebol - a verdadeira "raíz" da "identidade nacional" democrática -, distribuiu os habituais apertos de mão e garantiu, à sua maneira, que "somos todos Portugal". Na sua ingenuidade voluntarista, Sampaio não sossegou ninguém. Nem os habitantes do bairro, nem os que olham para o bairro como um gueto duvidoso. Tal como Salazar na sua obsessão colonial, também este regime com trinta e um anos de idade, falhou no propósito - sempre o mesmo - da miscigenação das raças, agora mais conhecida pela democrática "integração". Acontece que ninguém perguntou às gentes a "integrar" se elas desejavam efectivamente ser "integradas". E muitos dos mecanismos criados e mantidos pelo Estado para assegurar essa "integração" - voluntária ou "à força" - não conseguem escapar a uma estafada retórica burocrática que nada resolve. A peripécia do "arrastão", bem como a patética manifestação "branca" do Martim Moniz, apenas evidenciam que, ao contrário do que por aí se prega, existe um mal estar larvar. Eventualmente pequenino, mas existe. Os sociólogos e demais "especialistas", imediatamente chamados a perorar, não descolam da trivialidade. A "realidade" jamais lhes consegue entrar na cabeça, cheia de lugares-comuns apanhados nos calhamaços e nas vulgatas que passam a vida a ler. Pelo contrário, é esta "realidade" que começa a "entrar" na cidadania e quase sempre pelas piores razões. O fracasso da "coesão social", da "integração" e da "solidariedade" está à vista para quem o quiser ver. "Somos todos Portugal" ? Onde ?

Sem comentários: