22.6.05

FALHANÇO

Ficámos a saber duas coisas más. A primeira não é propriamente uma novidade e é, de longe, a mais grave. Trata-se da economia. Façam as contas às vezes que nos falaram na "retoma" nos últimos três anos. Não existe "retoma" nenhuma e, bem pelo contrário, a economia portuguesa, pindérica e dependente de outras que não "arrancam", está em estado comatoso. Ainda ontem, no carro, ouvi o sr. ministro da Economia a prometer "inovação" e "desenvolvimento". O dr. Pinho pretenderá fazer isto com quem e em que economia? É, realmente, um dos mais pesados mistérios deste governo. Depois vêm as eternas finanças e o "programa" do dr. Campos e Cunha. Bruxelas, em mais um momento de demonstração da sua inequívoca pulsão controleira, já avisou que este "programa" não chega. Ou seja, o dr. Cunha terá de se espremer - e, por tabela, tentar espremer-nos - para arranjar mais receita e cortar a fundo na despesa. Como aqui se avisou repetidamente, este governo jamais teria um minuto de estado de graça. Não imaginei, apesar do meu pessimismo estrutural, que atingisse tão rapidamente um "estado de desgraça" que, diga-se de passagem, não é tanto seu quanto do país e da sua endémica miséria. Tudo somado, não vaticino uma longa estadia aos ministros da Economia e das Finanças nos respectivos postos. Os tempos que aí estão requerem capacidade e legitimidade políticas fortíssimas. Por exemplo, e até pela sua experiência europeia, o "negas" dr. Vitorino poderia perfeitamente ter ficado nas Finanças nesta fase inicial da legislatura na qual se exige maior investimento - estritamente político - de afirmação da estratégia governamental, partindo do princípio que ela existe. Manuela Ferreira Leite, uma excelente "técnica", "quebrou" justamente no combate político e por causa da sua "teimosia" técnica. Ousar contornar o círculo vicioso imposto por Bruxelas, tem um custo que só a política pode pagar. Para além disso, sabe-se também que é a "economia", em estado de devastação, que "paga", a final, o "arrastão" financeiro. Como disse na TVI o Miguel Sousa Tavares, até Jorge Sampaio, à medida que se aproxima do final do mandato, vai percebendo o tremendo falhanço a que presidiu pacatamente durante dez anos. Esse falhanço tem um nome e pinta-se a vermelho e verde quando, na realidade, devia pintar-se de vergonha.

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