8.6.05

NÃO CHEGA

Maria João Avillez entrevistou o sr. ministro da Economia e da Inovação. Quem não soubesse quais são as funções que Manuel Pinho desempenha no governo, poderia pensar que estava num canal de televendas. De facto, o sr. ministro falou-nos de uma "realidade" que, suspeito, é ignorada pela larga maioria dos portugueses. Particularmente daqueles que diariamente passam nas televisões quando fecham as fábricas onde trabalham, quando lhes aplicam, pela terceira ou quarta vez o lay off ou quando a "deslocalização" torna mais rentável pôr um romeno a fazer sapatos. Nem sequer faltaram os mil rapazes e meninas que vão ornamentar o pequeno e médio "tecido empresarial português" ou a colocação de pequenos génios lusos algures entre Singapura e os EUA. A dada altura, Maria João perguntou ao ministro como é que o "plano tecnológico" encaixava no actual velório financeiro. Com extrema candura, Manuel Pinho revelou que nós - portugueses - estamos fascinados com o dito "plano". Como prova disso, mencionou que, outro dia, estando ele num restaurante, numas mesas por perto só se falava no "plano tecnológico". Vai daí, Pinho concluiu pelo entusiasmo geral da pátria pelo "plano", notoriamente evidenciado naqueles sussurros dos comensais. Esta oportuna entrevista ao ministro da Economia teve o mérito de esclarecer duas ou três coisas. Em primeiro lugar, deu para entender como é que um bom técnico raramente faz a mínima ideia do que seja exercer um lugar político. Como consequência disto, também ficou perfeitamente entendido qual tem sido o papel do ministro da Economia na actual novela das finanças públicas. Têm-no poupado. Finalmente, Pinho fantasiou sobre as empresas portuguesas e o "investimento" como se tivesse vindo directamente de Marte. Manuel Pinho é um homem afável e tímido. Tem excelentes ideias sobre a "economia". Não estou, no entanto, seguro que essas ideias "entrem" nesta "economia" ou que esta "economia" esteja em condições de absorver essas ideias. Neste sentido, parece-me que Manuel Pinho esteve a dissertar sobre uma Disneylândia desconhecida que apenas vagueia na sua cabeça. Deve ser um homem bom e sério. A sério. Só que isso não chega.

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