7.6.05

O CADÁVER ESQUISITO

O governo de Tony Blair deu ontem a machadada que faltava no Tratado Constitucional. Ao adiar o referendo, os ingleses, que vão assumir a presidência semestral da União a partir de Julho, quiseram significar - apesar de toda a retórica parlamentar do sr. Straw em contrário - o fim sereno da Constituição Europeia. Nada indica, porém que os líderes francês e alemão, por exemplo, estejam dispostos a fazer um mea culpa no próximo Conselho Europeu. Contudo, agora é mais difícil continuar a assobiar para o alto. Entre nós, a esquizofrenia prossegue tranquilamente com o referendo de Outubro ainda "em agenda". Freitas do Amaral, num acesso curioso de dupla personalidade, manifestou simultaneamente uma "posição pessoal" razoável (é preciso voltar a negociar e começar a pensar num novo Tratado) e uma "posição oficial" destestável (o governo português quer prosseguir com o processo de ratificação). A "linha" oficial em prol da ratificação/referendo foi justificada por Sampaio com aquela trágico-cómica ideia de que "nós não somos menos que os franceses". Não somos, de facto, não vale a pena insistir. "Quando tudo arde" no "consenso" europeu que só existe na nossa infinita imaginação, nós preferimos continuar a passear o "cadáver esquisito" de um calhamaço ilegível, a única imagem sobrante da "Constituição" em boa hora "emprateleirada" por Blair.

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