TRAGÉDIA GREGA
Como disse em post anterior, deixei de levar a sério o venerando Chefe do Estado. A designação, contudo, é enganadora. Em minha opinião e na do distinto Prof. Marcelo, entre outros, Sampaio deixou de ser efectivamente PR algures nos princípos de Julho, trocando a função pela de ajudante-de-campo de Santana Lopes, que alterna com actividades OTL, "ocupação dos tempos livres". Por exemplo, hoje deu-lhe para correr uns "simbólicos" 10 metros ao lado da Rosa Mota, na Grécia, coisa que não lembraria ao mais remoto soba africano. Enquanto Sampaio estava no "recreio", o país voltava à intriga baixa, pelos vistos gerada a partir de "instituições" de que ele diz ser o último avatar. Uma tragédia verdadeiramente grega. A propósito, vale a pena ler e reter a crónica de Vasco Pulido Valente que, com a devida vénia, reproduzo seguidamente.
A vaca
por Vasco Pulido Valente
Jorge Sampaio, e o ministro de Estado e da Presidência (com a tutela da Comissão da Igualdade para os Direitos das Mulheres), Nuno Morais Sarmento, resolveram publicar ontem nos jornais duas redacções, talvez para mostrar que poderiam perfeitamente ter passado o 9.º ano. Bem sei que estamos na silly season, mas de qualquer maneira convém não exagerar. A redacção do Presidente da República versa sobre «O espírito dos Jogos Olímpicos e o nosso tempo», um assunto que de quatro em quatro anos milhares de professores com certeza sugerem na esperança desesperada de entreter as crianças. Sampaio, um aluno esforçado, fala da Grécia, fala de Roma, fala da «herança», não se esquece de uma notazinha patriótica e compara o Império Romano à União Europeia. Há frases como esta: «Se a democracia grega radica no "lógos", na razão política e no debate público entre os cidadãos e os seus representantes, já a matriz da civilização romana repousa na regra ou "jus".» Toda a gente pode ver que, embora confuso e muito ignorante, o rapaz «se interessa». Nota: 11. Morais Sarmento com outra ambição, e a propósito de uma «Carta» do Vaticano aos bispos da Igreja Católica, disserta sobre a «mulher». Sarmento acha a dita carta um «hino» à «maternidade» e explica com ardor a importância da «maternidade». Ele não considera a «mulher» inferior, de maneira nenhuma. Só não a considera «como um ser à parte, como se de uma peça se tratasse». Para ele, chegou a «hora» das «mulheres capazes de conciliarem a vida familiar e a vida profissional». Coisa que ele declara, não se percebe porquê, «um desafio fascinante». Sarmento ainda vai conseguir ser quase, quase um intelectual. Nota: 12. Com estes percursores não tarda aí uma redacção do primeiro-ministro A Vaca: «A vaca dá bifes. Eu cá gosto de bifes. A vaca dá leite. O leite dá manteiga. Eu cá gosto de manteiga. Eu cá gosto da vaca.»
(in Diário de Notícias de 13 de Agosto de 2004)
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