3.8.04

O CASO SÓCRATES



Estes dois anos, até 2006, não vão ser muito saudáveis. Uma vez recuperado do "choque", ainda não fiscal, mas de se ter ido sentar numa cadeira com que não contava, Santana Lopes vai ser um "osso" duro de roer. Assim que puder, e assim que os seus "ajudantes" mais "substantivos" puserem "as coisas" a rolar, nem que seja em aparência, Lopes vai certamente dedicar-se a ganhar eleições, sejam elas quais forem. Aliás, a única reflexão de jeito que conseguiu produzir no debate parlamentar do programa do Governo, teve a ver com isto. Há continuidade, disse ele, mas eu sou eu, e o"estilo" é o "meu estilo". A remoção de Barroso, neste sentido, acaba por ser benéfica para a coligação, já que ninguém sabia o que fazer depois das eleições europeias e da sua clamorosa derrota. É, pois, este "seu tempo novo" que, na verdade, é mau e precocemente envelhecido, que Santana vai querer ver glorioso e vencedor. Estas trivialidades vêm a propósito dos "jogos florais" do PS. As alegações de João Soares relativas a eventuais vilanias eleitorais do "aparelho", feitas sem nenhuma espécie de ambiguidade e, em parte, secundadas por Manuel Alegre, reflectem o estado pouco saudável a que chegou a vida interna dos partidos, se é que alguma vez deixou de ser asssim. A "história" das quotas pagas por terceiros é banalíssima. No PSD, cada vez que há uma eleição interna, e por mais insignificante que ela seja, há sempre um baronete, ou aspirante a baronete, que gentilmente paga as quotas em atraso a toda a sua bovina secção. Seguidamente seguem-se as inevitáveis chamadas para casa e para os telemóveis, acompanhadas de umas enigmáticas "sms" a apelar ao "voto". Por uns breves minutos, o anónimo militante "de base" sente-se irmanado com os altos desígnios da Pátria, graças a estas velhas e novas tecnologias caciqueiras. Terminada a eleição, volta à sua condição de "número de militante", sem mais demoras. No PS, é assim que tudo se vai passar até aos dias 25 e 26 de Setembro. Quem tiver mais e melhor destas "tecnologias", ganha. O congresso praticamente não conta, e as "ideias" ainda menos. Ora Soares sabe que não dispôe de grandes tecnologias eleitoralistas, descontando o voluntarismo dos amigos. Alegre talvez tenha mais um bocadinho. Feitas as contas, eles muito justamente berram, já que pouco mais podem fazer. Ao país isto diz muito pouco. O militante do PS, na hora em que, por uns escassos instantes, deixar de ser só um número, tem que perguntar a si próprio quem é que deve e pode defrontar, com sucesso, Santana Lopes. Até lá chegar, Sócrates tem muito trabalho pela frente. Não é com apoiantes do quilate de José Lello ( não haverá mais ninguém com dois dedos de testa para responder aos "outros"?), nem com entrevistas gelatinosas das quais não ressuma uma ideia própria que fique, que José Sócrates pode aspirar a convencer. É certo que tem a seu favor estes estranhos tempos da política-plasticina, onde, pelos vistos, ele se move com facilidade. Há "imagens" que se colam tenebrosamente à pele e que são difíceis de sair. Não lhe basta dizer, e bem, que ninguém tem o monopólio dos princípios. Creio que Sócrates, tal como Lopes, ainda não entrou dentro do "fato", apesar de ser, de longe, bem mais "preparado" do que este. Pela frente "interna", tem um "velho combatente" e um carola teimoso. Dos dois, e do que eles representam, deve "recolher" alguma coisa para que se não repita o pior do "guterrismo". Depois, é só ganhar o partido e, em seguida, a nação.

Sem comentários: