9.8.04

RICHARD NIXON, UM IMENSO ADEUS



Nesta data, há trinta anos atrás, Richard Nixon, o 37º presidente do Estados Unidos, renunciava ao mandato. Na véspera, à noite, dirigiu-se pela televisão aos seus compatriotas, anunciando a partida. Para trás ficava um mandato de cinco anos e meio e uma relação complexa, de um homem complexo, com a nação que o elegeu. Gore Vidal viria a escrever mais tarde: "nós somos Nixon, Nixon é o que nós somos". Oliver Stone, no filme homónimo, pôe Anthony Hopkins/Nixon, antes do fim, a contemplar o retrato de Kennedy, na Casa Branca, dizendo: "quando olham para ti, vêem o que eles querem ser, quando olham para mim, vêem o que eles são". A história pessoal e política de Nixon é a história de um percurso amargo, marcado pela luz e pela sombra, pelo ressentimento e pela dúvida, pelo sarcasmo e pela prepotência, pelo rasgo e pela banalidade. Nixon, como todos os homens que existiram para mudar qualquer coisa, era alguém profundamente contraditório. Kissinger, no filme, olhando a sua despedida, sussurra que o presidente "tinha os defeitos das suas qualidades". Kennedy, seu companheiro no Senado e que o derrotou na corrida para a presidência, não lhe perdoava a origem modesta e, à bom "menino-bem", dizia sempre que ele "não tinha classe". Nixon viveu em permanente angústia por não ser completamente um "deles", visto por ali como um arrivista com alguma sorte. Sofreu as maiores derrotas e as maiores humilhações, e voltou sempre com aquele seu famoso sorriso automático onde muitos viam um sinal de hipocrisia. Nixon, que abriu os EUA ao "desanuviamento" com a China e a URSS, que criou um departamento ambiental, e que, em quatro longos anos, acabou com a guerra no Vietname, saiu derrotado pela sua pusilanimidade, à conta de um arrombamento vil contra um político menor e inofensivo, McGovern. Nixon obteria, na reeleição, uma das mais expressivas vitórias na corrida à Casa Branca. Mais do que o assalto ao Edifício Watergate, o que os "States" puritanos não perdoaram, foi, uma vez mais, o perjúrio. A sua terrível insegurança crónica levou-o ao maior dos disparates, a gravação das conversas na Sala Oval. Grandeza e fatalidade andaram sempre de mãos dadas durante a vida política activa de Richard Nixon, um homem acossado pelas suas origens e notoriamente um mal-amado. Quis, na mensagem final, deixar uma mensagem de paz, algo a que se tinha proposto quando começou, em 1969. No dia 9 de Agosto de 1974, manhã cedo, reuniu o "staff" da Casa Branca e a família para se despedir. Falou dos seus pais "trabalhadores", dos seus irmãos mortos pela tuberculose e lembrou que a "grandeza não surge quando as coisas nos correm sempre bem, ela aparece quando se leva umas pancadas, quando ficamos desapontados, quando a tristeza nos invade, porque só se estivermos no vale mais fundo, é que vamos depois poder apreciar o esplendor de estar na mais alta das montanhas". Dito isto, dirigiu-se ao helicóptero que o levou de volta para a sua mansão na Califórnia, agitando com o braço um imenso adeus.

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