18.1.09

CONTRA A SEGUNDA DOSE


« (...) A política do Governo está irremediavelmente desfeita e as previsões para o futuro próximo são arrepiantes. Sócrates pretende que tudo isto é o resultado da crise internacional. Não é. É também em grande parte responsabilidade dele. A Standard & Poor's baixou o rating de Portugal (o que nos fará pagar mais caro qualquer empréstimo externo) não apenas por causa da miséria económica e financeira a que o país chegou. Repetindo o que já disseram e escreveram milhares de portugueses, a Standard & Poor's contou - e talvez principalmente - com o fracasso das reformas de Sócrates: com o fracasso da reforma da administração, em primeiro lugar, e, a seguir, da saúde e do ensino. Infelizmente, Sócrates nunca ouviu quem o avisava. Preferiu sempre acreditar na sua própria propaganda: sobre o Simplex ou sobre o valor tecnológico do que Portugal exportava, que ele supunha ter enfim transformado e que afinal ficou por um pequeno (e precário) progresso. Ele era a única fonte da verdade. Acontece que a verdade era outra. Começa agora a surgir por aí um argumento, que se aproxima da chantagem e que é bom perceber e recusar: o argumento de que o país não sobrevive sem a maioria absoluta do PS. Ou seja, o argumento de que sem a autoridade de Sócrates cairíamos rapidamente no caos. Da geral falência do Governo, sobrou, muito a custo, esta imagem do "homem forte", que, em teoria, justifica o resto. Além do odor à velha convicção de que o indígena gosta que mandem nele, há aqui a extraordinária ideia de que mais vale um primeiro-ministro incompetente e cego a uma solução qualquer que, embora frágil ou efémera, evite a persistência no erro. O juízo imparcial e desinteressado do Economist e da Standard & Poor's mostra o perigo de confiar no incontrolável. Uma dose de Sócrates levou ao que levou. Quem sabe ao que levará a segunda?»

Vasco Pulido Valente, Público


Nota: Sócrates e os seus escribas, encabeçados por António Costa, apresentam ao fim do dia a "moção" ao congresso albanês de Fevereiro. Não se deve esperar nenhum mea culpa. Pelo contrário, esta frivolidade de calendário vai apenas servir para o chefe recordar aos distraídos que é um homem de esquerda e, sobretudo, um democrata disposto à equanimidade. Há sempre uns quantos idiotas úteis prontos para acreditar em tudo ou, em pior alternativa, que não têm outro remédio senão acreditar.

9 comentários:

Anónimo disse...

São acertadas as palavras de VP Valente.
O que se lamenta é que para se chegar a uma verdade que sempre foi tão evidente,tonitroante mesmo,se demorasse quase 4 anos.

Os nossos opinadores sempre foram condescendentes,até colaborantes com esta verdadeira farsa,um embuste de governo.

Agora passada a quase totalidade do mandato,com as inevitáveis consequências ruinosas,reconhecem finalmente que as roupas novas do rei,tão finamente tecidas,são feitas de...caca!

Pulido Valente parece ter acordado com o Freeportgate.
Muitos ainda não acordaram ou fingem ainda dormir.

Não obstante tudo isto,continuo a não encontrar uma única alma exigindo a independência real da Justiça,a completa investigação da corrupção e condenação dos culpados.
Uma limpeza em todos os orgãos de poder.
Talvez porque há uma cadeia de interesses e conivências em pirâmide.

Portugal merecia mais que isto...

Anónimo disse...

Acerca da tal moção de Sócrates, e do PS, não conto ouvir nem ler, uma única palavra. Pulido Valente acerta em cheio, mas a ideia de que mais vale o PS ao vazio, já anda por aí há muito tempo. Foi esse receio, aliás, que lhe deu a maioria absoluta. E é assim, aliás, que nascem as ditaduras democráticas. É uma ideia perigosa que é necessário desmontar. O que o plácido povo português, que é colectivista mais do que individualista, precisa de meter na cabeça é que ninguém é insubstituível (faltou a Reforma Protestante, por cá...). Nenhum tipo de propaganda teria grande efeito se esta ideia fosse o pilar de todas as ideias políticas.

caozito disse...

Após a leitura do excelente texto do VPV, a quem dou os parabéns, e depois de alguma reflexão, penso quão pobre - senão miserável - é o meu país, tendo à frente dos destinos de um povo, um "primeiro-ministro incompetente".

Assim sendo, ninguém se pode admirar que o "séquito" ministerial seja de tão fraca qualidade, que é difícil, senão impossível, saber quem é o pior : se o das finanças, se o da economia, se ...

...ninguém se pode admirar, menos os lambe-botas, os afilhados, os compadres e os mamões bajuladores de tão "fracos" ídolos de pés de barro tão "fraco".

A «MENTIRA» é a principal divisa do actual governo, o que faz do país um "país de mentira".

Anónimo disse...

é fúnebre o silêncio sobre o freeport
por parte do ps do pgr, da comunicação social, dos blogs.
parece o darfur
PQP

radical livre

Carlos Medina Ribeiro disse...

Nicolau Santos, no «Expresso» de ontem, recordava que a 'Standard & Poor's' deu altos 'ratings' à Islândia, à Lehman Brothers, à AIG, etc - mesmo nas vésperas dos respectivos descalabros...

João Gonçalves disse...

Nicolau Santos, Carlos. Que belo exemplo que V. foi logo buscar.

joshua disse...

«Fomos nós» - quem se dá ao sacríficio de ouvir o infinito discurso do desastroso Sócrates, pode não sobreviver ao nojo e à agonia mais purulenta.

Fica-se doente por ouvir mentir muito e demagogizar em grandes doses. Esse Mendax completo não se enxerga.

Unknown disse...

O Nicolau Santos é mais um dos "fretistas" de serviço, pago pelo governo para "injectar auto estima" e elogiar semanalmente os mérito das brilhantes políticas económicas do iluminado pinho e companhia. E, mais uma vez, lá veio em defesa do governo tentando descredibilizar a S&P e a pertinência do anúncio do estado de "observação" da situação financeira do Estado Português.

Primeiro, a situação do subprime é radicalmente diferente do que se passa com o rating dos paises. Nesse caso, tratou-se de atribuir um padrão de risco inferior a activos que tinham maior risco. No caso de Portugal, Espanha e outros, é exactamente o contrário. Trata-se de fazer downgrade do rating da dívida devido ao aumento dos factores de risco de incumprimento do país, realidade que objectivamente qualquer leigo entende ao ver os milhões de euros que todos os dias são anunciados como comprometidos em suposto "investimento público".

Segundo, até pode ser que a S&P tenha falhado no passado, e a sua credibilidade possa ter sido beliscada, mas não me parece que seja o caso do Financial Times, um jornal que por enquanto ainda não é controlado pelo aparelho de propaganda socialista.

Terceiro, talvez seja também apenas uma coincidência a deslocação de emergência do Ministro das Finanças a Londres para reafirmar a "saúde" das finanças do Estado Português. Isto é, ainda há muito ouro e património para apresentar como garantias. E assim, os cães ladram e a caravana passa, pois por exemplo enquanto o TGV está em discussão, a líder da oposição afirmou categoricamente que não avançaria com a obra, mas o facto é que a Mota-Engil de Coelho já está na final na negociação.

A situação do País é muito mais grave do que se julga, mas a política da mentira política, o oportunismo e as vistas curtas de Sócrates e sua trupe não têm limites. Quem vier atrás que feche a porta, pensará o Querido Líder. Mas os Portugueses têm que abrir os olhos rapidamente, e não passar outro cheque em branco aos Socretinos, ou a factura que esta corja nos vai deixar, aos nossos filhos e netos, demorará muitos, muitos anos a liquidar.

Luísa A. disse...

Concordo com o VPV: o único produto que o Sr. Eng. Sócrates parece ter para oferecer – e com que ainda convence muita gente - é a sua autoridade. Mas também esta é um mau produto. O Sr. Eng. Sócrates tem um insolúvel problema com a autoridade, que resulta da sua extrema, quase grosseira e demasiado visível mediania. Pode impor-se pelo medo e pela venda de favores, mas nunca pelo respeito, único capaz de produzir os efeitos da confiança e da mobilização. Receio que com a autoridade de tão baixa patente do Sr. Eng. Sócrates, não vamos longe.