30.1.09

"BASTA ANDAR NA RUA"


«Sempre que ouço a palavra "Freeport" desligo a televisão ou paro de ler. Não porque não ache importante saber se o primeiro-ministro se portou ou não como devia, mas porque desde o princípio me perdi no meio da embrulhada. Como aconteceu, presumo, a dois terços do país. Só que o alvoroço que por aí se levantou não é inócuo. As coisas passaram o limite do que pode ser esquecido e arrumado. Mesmo que se esclareça até ao último pormenor, o "caso Freeport" nunca deixará de pesar sobre Sócrates - com razão ou sem ela. O cidadão comum, que partilha com orgulho a minha indiferença e opacidade, vai fatalmente concluir que houve ali enredo. Tanto mais que a polícia inglesa - por definição acima da intriga indígena - se meteu no assunto e chegou ao excesso de investigar o próprio primeiro-ministro. Nenhuma explicação que Sócrates decida agora dar atenua ou anula a atmosfera pouco salubre que já se criou. Nem as declarações da Procuradoria-Geral da República lhe valem de muito. Basta andar na rua para se compreender que a opinião está feita. O problema neste momento é o da eficácia de Sócrates como primeiro-ministro. Uma eficácia que o fracasso do Governo, a crise económica, a fronda de Manuel Alegre e a proximidade de eleições substancialmente diminuíram e que o "caso Freeport" se arrisca a desfazer. Se o resto corresse bem, o "caso Freeport" não iria longe; como o resto corre cada vez pior, serve hoje e continuará a servir de símbolo e pretexto ao descontentamento geral. De certa maneira existe a conspiração de que Sócrates suspeita: a conspiração dos portugueses que o detestam e que descobriram de repente um motivo óbvio para correr com ele. No fundo, os méritos da questão não preocupam ninguém, desde que Sócrates desapareça. E ele começa, de facto, a desaparecer.»

Vasco Pulido Valente, Público

9 comentários:

Anónimo disse...

Não penso assim e custa a acreditar que Pulido Valente,tão acutilante com outras figuras políticas,o pense.

É da maior relevância a descoberta das redes de corrupção que têm desviado milhares de milhões de contos de dinheiros públicos neste país.Basta lembrar que ninguém quis procurar os 108 milhões de contos ,entre 93 e 98!

É da maior relevância que os esquemas mafiosos dos partidos políticos sejam desnudados perante quem neles deposita a confiança para dirigir os destinos deste país.

É da maior relevância acabar com esta sangria de dinheiros que são do povo português e que são a razão maior deste atraso.

É da maior relevância acabar com o controlo que os partidos têm sobre o poder judicial.

Também seria relevante que houvesse imprensa livre e independente em Portugal.

Anónimo disse...

"Basta lembrar que ninguém quis procurar os 108 milhões de contos ,entre 93 e 98!"

Referia-me à JAE.Sorry..

Luísa A. disse...

Para além da necessidade óbvia de fazer alguma limpeza nos nossos quadros dirigentes e de moralizar os costumes, concordo que este «dossiê Flamingo» é a válvula de escape de todos os portugueses que, como eu, detestam o PM e abominam a ideia - com que o seu aparelho propagandístico anda a neutralizá-los - de que Sócrates é a única alternativa do país e a sua tábua de salvação. Não há muitos prazeres comparáveis ao de assistir à queda (ou, pelo menos, à humilhação) de um tiranete.

tiomanuel disse...

Acontece que o Sr. Vasco Pulido Valente (VPV) de quem sou leitor assíduo (nem sei bem porquê, provavelmente alguma atracção pelo abismo) se engana com a mesma frequência que emite opiniões/comentários (?).
No caso vertente, o Socrates, como é óbvio, não vai desaparecer.
Acontece que ainda, que o Socrates tem uma vantagem sobre o VPV é que ele vai a votos.
Alguém escrutina o VPV?
Pode o VPV e a generalidade dos nossos "opinadores/comentadores" escreverem os maiores dislates nas páginas dos jornais que terão sempre o seu "cantinho".
Podem os leitores votar sobre se acham que o espaço da última página do Público é bem aproveitada pelo VPV?
Claro que não.
A única penalização possível é deixar de comprar o jornal mas isso seria deitar fora a criança com a água do banho.
Há uma coisa que VPV se pode gabar. É que a blogoesfera se baba de gozo de "linkar" textos destes.
Vale o que vale

PS: Registo o eufemismo de VPV, e cito, "basta andar na rua para se compreender que...".
Só se for na rua dele...

Anónimo disse...

"É da maior relevância que os esquemas mafiosos dos partidos políticos sejam desnudados perante quem neles deposita a confiança para dirigir os destinos deste país".
"É da maior relevância acabar com o controlo que os partidos têm sobre o poder judicial".
Por isso, acabe-se com os partidos. Já!
Círculos uninominais.

Anónimo disse...

«Sempre que ouço a palavra "Freeport" desligo a televisão ou paro de ler.»

Intelectuais destes, não obrigado. Em países civilizados, presidentes caem por casos destes (ver Watergate), aqui temos esta gente que acha que sobre casos eventualmente análogos na gravidade não se deve informar na tv ou nos jornais. Sintomático sobre a moral deste VPV. Pequeno.

Anónimo disse...

Que os deuses oiçam VPV. Espero que Sócrates desapareça rapidamente.

Anónimo disse...

O homem esta para ficar e se calhar tem outra maioria absoluta... O resto e conversa...O povo e quem manda embora nao tenha nenhuma ideia do que e mandar...O meu voto pesa tanto como o bebado analfabeto que guia nas estrada do pais...Portanto eu ca ja sai da balanca e nao quero ser pesado no sistema democratico do country...

Anónimo disse...

Sócrates vai desaparecer não porque deixa o país a caminho do abismo, mas porque foi traído pelo seu passado... E já vai tarde.
Ao contrário do que todos dizem, nada mais político do que o dossier flamingo. Então não é uma questão política recaírem suspeiçoes cada vez mais credíveis de recebimentos de luvas sobre um actual primeiro-ministro, enquanto ocupava um cargo de ministro? Basta ver os membros do actual governo a defenderem-no da forma que o fazem, relativamente a um assunto do passado.
Isto não interessa nada ao país...Era bom que, em nome dos portugueses, o senhor Sócrates nos poupasse a mais perdas de tempo.

L. Neves